Na infância, o campo era o asfalto da rua, com chinelos fazendo as vezes de trave. Aos 21 anos, Anderson Miguel da Silva Júnior, nascido e criado no Jardim Paranapanema, na periferia de Campinas, se prepara para pisar no gramado do Moisés Lucarelli, estádio da Ponte Preta, na final da primeira divisão do Campeonato Amador 2025, no próximo domingo (22), contra a equipe do DIC City. “Vai ser inesquecível pra mim e pra minha família”, diz o lateral do Unidos Campos Elíseos (Morro), com brilho nos olhos e história nos pés.
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O futebol entrou na vida de Anderson como entra na de tantas crianças de quebrada: sem pedir licença. Começou descalço, em frente ao bar do avô, onde a rua era arena e a bola, esperança. O talento chamou atenção e logo veio a primeira escolinha: Craques do Futuro, na Norte-sul. “Foi aí que comecei a me apegar mais. Eu sou louco por futebol. É minha paixão, minha vida”, conta.
De lá, seguiu para o Projeto Bugrinho, onde participou de campeonatos, viajou, acumulou medalhas e sonhos. Subiu para fazer testes nas categorias de base, mas o sucesso escapou entre os dedos. “Fui dispensado. Doeu, mas segui”, lembra.
Em 2014, uma peneira do Internacional reacendeu o sonho. O teste foi perto do shopping Dom Pedro, mas a chance era real: treinar por uma semana em Porto Alegre. Anderson foi aprovado como lateral esquerdo e seu pai ouviu de um treinador: “Seu filho é o que o futebol brasileiro precisa. Ele é fora do normal.” A família se emocionou. Fizeram rifa, vaquinha e embarcaram. Mas a idade e a impossibilidade de mudança fixaram o menino em Campinas. “Tive que deixar meu sonho pra trás.”
Com o tempo, aprendeu a cicatrizar. Em 2019, brilhou na Taça das Favelas, vestindo as cores do Paranapanema. O bom desempenho atraiu olheiros da Ponte Preta. Foi chamado. Treinou um mês no clube. Mas a diretoria mudou, e os sonhos, mais uma vez, foram engavetados.

Mas no próximo domingo (22), o menino crescido na rua do bar do avô Noel está de volta ao palco que sempre sonhou. O gramado do Moisés Lucarelli, desta vez, é real. E a camisa do Unidos Campos Elíseos, o escudo que carrega sua caminhada. “É minha primeira final no amador e logo no campo da Ponte, que sempre foi um sonho. Não consegui seguir como profissional, mas Deus me deu essa oportunidade. Vai ser um momento gigante.”
O futebol não perdoa os fracos, mas recompensa os que resistem. Anderson, com sua chuteira surrada, talento firme e fé teimosa, prova que nem sempre o sonho acaba. Às vezes, ele apenas muda de uniforme.
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