No próximo dia 2 de abril, quando se celebra o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, o Instituto Anelo lança a música “Meu interior”, do cantor e compositor David Sue — nome artístico de Matheus Cuelbas de Moura. A canção, inédita, trata da experiência do artista com o transtorno do espectro autista (TEA), sem cair em estereótipos ou simplificações. A proposta é provocar reflexão sobre a complexidade de cada indivíduo e valorizar suas singularidades.
Aos 25 anos, mesma idade do Anelo, David Sue estreia uma composição que nasce da sua trajetória pessoal, incluindo o diagnóstico de autismo aos 13 anos e também sua vivência com a bipolaridade. Mas o artista prefere não transformar sua condição em rótulo. “Viver à base de classificações é, para mim, quase uma sentença de morte”, afirma. “O excesso de rótulos serve para produtos, não para pessoas.”
“Meu interior” estará disponível nas plataformas digitais do Instituto Anelo e do próprio artista, além de ganhar uma versão em videoclipe. A letra questiona o conceito de normalidade e convida qualquer ouvinte — autista ou não — a reconhecer-se na pluralidade humana. Em um dos versos, David sintetiza sua mensagem: “‘Normal’ não passa de invenção”.
A composição surgiu em abril de 2023, durante um momento introspectivo. Foi a primeira vez que o artista, conhecido por compor majoritariamente em inglês, abordou o tema em uma canção — e, dessa vez, em português. A mudança de idioma também tem relação direta com sua trajetória dentro do Instituto Anelo. Inicialmente aluno, David Sue passou a integrar a equipe como produtor musical. “Estar no Anelo me aproximou da música brasileira e me deu vontade de escrever em português”, revela.
A ideia de compor “Meu interior” também foi impulsionada por uma provocação sensível de Luccas Soares, músico, compositor, fundador do Instituto e pai de uma criança autista. Luccas reconhecia que David já havia superado muitas barreiras pessoais, mas reforçou que sua voz pública poderia inspirar outras famílias. “Disse a ele que não era por ele ser autista que a música precisava nascer, mas porque ele é um artista talentoso. E porque nós, pais, precisamos ouvir essas histórias de dentro”, explica.
Musicalmente, “Meu interior” é marcada por mudanças de ritmo, harmonia e melodia — recurso que David atribui à própria montanha-russa emocional de sua vivência. Influenciado pelo rock progressivo dos anos 70, o artista criou uma canção que transita por atmosferas diversas, com referências a bandas como Genesis. “A vida não é linear. E se a arte reflete a vida, minha música também não será”, define.
A produção musical foi orientada por Júlio Oliveira, coordenador do Estúdio Anelo, que também colaborou nos arranjos e na gravação de instrumentos. “Deixei o Matheus livre para criar e se expressar. A canção reflete a estética própria dele, distante de fórmulas comerciais”, pontua.
A musicista e professora Marisa Molchansky, a Brisa, que assina a direção geral do lançamento, destaca a força poética da obra. “É uma música verdadeira, sensível e potente. Quando ele canta ‘todos nós sentimos a mesma dor’, nos lembra que, no fundo, compartilhamos os mesmos conflitos humanos.”
A capa do single também carrega significado: David aparece sozinho em um parquinho, segurando um porta-retrato com sua própria foto, representando o desejo de se conectar — com os outros e consigo mesmo.
“Meu interior” não é apenas uma canção sobre o autismo — é um convite para ampliar o olhar sobre o outro e compreender que ser diferente é, acima de tudo, ser humano.
