Dia do Surdo: clipe com Libras, dança e mímica reflete sobre a inclusão pela comunicação

Israel Moreira
Israel Moreira
Israel Moreira é jornalista com passagens pelo Correio Popular, Rádio Central e Jovem Pan News.
A bailarina e intérprete de Libras Keyla Ferrari e o ator e mímico Silvio Leme, durante gravação. Fotos: Levi Macedo e Kadu Ciccone

O Instituto Anelo, que promove aulas de música na periferia de Campinas, lança em 26 de setembro, Dia Nacional do Surdo, um videoclipe sobre os diferentes tipos de comunicação. Com uso de Libras, dança e mímica, o projeto busca contribuir com a reflexão sobre a necessidade de inclusão de pessoas que enfrentam dificuldades cotidianas apenas pelo fato de não se inserirem na linguagem padrão da sociedade. De forma lúdica e emocional, sem necessidade da comunicação verbal, o vídeo da música “Quando puder falar” mostra duas pessoas de “línguas” diferentes buscando se entender com paciência e empatia, em um movimento que revela o início de uma grande amizade. 

A música “Quando puder falar”, já disponível no Spotify e que agora ganhará o clipe, é composta pelo músico Luccas Soares, e interpretada em formato de voz e piano junto ao pianista, arranjador e produtor Deivyson Fernandez. “Sendo pai do João, uma criança autista, não-verbal, de quatro anos, busco formas de me comunicar com meu filho, com muito amor. Quando puder falar, é sobre isto, entender que podemos nos comunicar de várias formas”, aponta Luccas.

“Escolhemos o Dia Nacional do Surdo como um símbolo, mas a ideia é retratar todas as formas de comunicação. Ter a intérprete de Libras (Língua Brasileira de Sinais), por exemplo, busca mostrar como essa comunicação precisa ser mais valorizada e conhecida. Esses intérpretes são necessários, mas geralmente desprezados, não são protagonistas. Então não é apenas sobre os surdos, é para as pessoas que têm essa vontade de se comunicar, de dar voz para esse pessoal que enfrenta dificuldades diárias”, completa o compositor da canção. 

Para dar vida à ideia, Luccas convidou a educadora, bailarina e intérprete de Libras Keyla Ferrari, que sugeriu a participação do também educador, ator e mímico Silvio Leme. O diretor Cláudio Alvim ficou responsável por viabilizar o roteiro e execução do videoclipe, em discussão com os demais envolvidos no projeto. Segundo ele, no vídeo as linguagens da dança, Libras e mímica são usadas de forma complementar, na ideia de retratar as dificuldades de comunicação não só de pessoas que não têm a linguagem verbal, mas de todos, em uma sociedade cada vez mais individualista. 

“Tenho feito uma leitura que as pessoas estão muito querendo dizer e pouco querendo ouvir, dando pouca atenção ao que o outro precisa, seja de carinho, atenção, respeito. E com a possibilidade de lidar com a Libras e a mímica, já vi de cara duas linguagens que, apesar de serem as duas por sinais, são muito diferentes. A mímica parte do lúdico, do imaginário que a gente cria, do nosso repertório, enquanto a Libras usa sinais específicos. Então estamos em uma situação de falar das divergências de comunicação, que ocorrem em geral na sociedade”, diz Alvim. 

Empatia

No roteiro elaborado, uma bailarina se encanta com uma flor e começa a dançar, vencendo a timidez, até perder a flor e se frustrar com isso. A alegria dela encanta um expansivo palhaço (o mímico), que depois se assusta com a repentina tristeza da mulher, mas sem entender o motivo, e tenta ajudar. A partir disso, ocorrem tentativas de comunicação malsucedidas, pois cada um tenta se comunicar em sua linguagem específica, até que o palhaço percebe que tem de parar e prestar mais atenção à bailarina, com uma postura mais empática, até os dois se entenderem.  

“Conheci o Anelo através da indicação de uma colega e fiquei maravilhada com o trabalho deles de usar a música para a inclusão, pois também trabalho com a inclusão pela arte, só que pela dança. E a proposta do vídeo é maravilhosa, é um assunto no qual já trabalhei muito: a comunicação alternativa, pelo corpo, pelo olhar, pela Libras, pela Libras tátil. Quando você faz um vídeo que narra uma história sem a fala, sem o verbo, qualquer pessoa, mesmo que não escute, vai conseguir entender”, afirma Keyla Ferrari, a bailarina e intérprete de Libras do vídeo. 

“Sou formado pelo Conservatório Carlos Gomes em 1997, e a partir de 2000 tive uma proximidade maior com essa linguagem da mímica, a pantomima. Como se tratava dessa questão de comunicação, a Keyla se lembrou da minha atuação com mímico. Logo iniciei os contatos e foi um processo bem interessante, com o Cláudio conduzindo as filmagens, roteiro. Ficamos à vontade para contribuir com o propósito geral do projeto, das muitas possibilidades que existem de nos comunicarmos”, lembra o mímico Silvio Leme.

O clipe de Quando puder falar estará disponível em todas as redes sociais do Anelo em 26 de setembro. 

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