Estudo da Unicamp mostra que temperatura em Campinas subiu  1,2 ºC 

Esse aumento foi identificado entre os anos de 1989 e 2022, evidenciando que a região já está sob efeito do aquecimento global provocado pelas mudanças climáticas. As informações foram coletados na estação do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri), no campus da Unicamp em Barão Geraldo, os dados mostram aumento na média da temperatura máxima e redução na média da temperatura mínima. Mostram, ainda, aumento na amplitude térmica e maior frequência de dias consecutivos de calor, fenômenos que favorecem eventos climáticos extremos, como seca severa, enchentes ou temporais.

O último relatório elaborado, em 2022, pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) – que monitora dados desde 1850 – aponta um aquecimento global de aproximadamente 1,1 ºC. O valor apresentado no relatório, contudo, não pode ser comparado ao obtido pelo levantamento feito na Unicamp, já que o IPCC faz sua análise com base nas temperaturas médias e não nas máximas.

A média

O estudo revela que a média das temperaturas máximas registradas em Campinas, nesse período de 34 anos, foi de 28,4 ºC e aponta uma tendência de aumento crescente do aquecimento ao longo dos anos. Foi considerada, como referência, a média de temperatura registrada entre 1989 e 2003 para avaliar anomalias. Nesse período, a média da máxima foi de 28,05 ºC. Já no período seguinte – de 2004 a 2022 subiu para 28,65 C . Na década de 1990, a média de temperaturas máximas foi de 27,9 ºC. Na de 2000, esse índice subiu para 28,3 ºC. Já na década de 2010, chegou a 29,0 ºC.

O trabalho mostra também que as ocorrências de dias de calor aumentaram de forma acelerada a partir dos anos 2000. Essas ondas são caracterizadas por períodos de seis ou mais dias consecutivos de temperaturas altas. Os pesquisadores constataram que, até 2001, não haviam sido identificados períodos de altas com essa duração. A partir de 2002, no entanto, tais episódios tornaram-se frequentes.

A primeira onda preocupante surgiu ainda em 2002, com 16 eventos. Foram 96 dias do ano com temperaturas máximas acima da média das máximas. Nos anos seguintes, houve registro de uma pequena queda, mas as temperaturas voltaram a aumentar significativamente a partir de 2010, quando foram registrados 13 desses episódios, somando 78 dias no ano. Dois anos depois, em 2012, foram 17 períodos de seis ou mais dias consecutivos com temperaturas máximas elevadas, totalizando 102 dias. O recorde veio em 2014, quando foram registrados nada menos que 30 desses fenômenos na cidade de Campinas.

“O verão de 2014 foi 2,64 ºC mais quente, se comparado com a média do verão do período de 1989-2003. O mesmo ocorreu na primavera de 2012 (+2,43 ºC) e no inverno de 2010 (+1,96 ºC)”, acrescenta Hornink. No ano de 2014, a região sudeste enfrentou uma séria crise hídrica e um pico no número de incêndios florestais. No dia 8 de outubro de 2020, a cidade registrou a temperatura máxima de 39 ºC.

Enfrentamento

O professor e pesquisador do Cepagri David Lapola coordenou a análise dos dados coletados pelo órgão com o objetivo de verificar se o aquecimento global já seria perceptível em Campinas.  docente acredita que o aumento seja resultado do fenômeno. “Embora tenhamos agora esse estudo preliminar, que precisa passar por escrutínio, incluindo a análise de outras variáveis, como os dados de chuvas e ventos, arrisco dizer que o aumento de temperatura observado tem a ver diretamente com as emissões de gases de efeito estufa, aquelas produzidas não somente pelo Brasil, mas por todos os países, incluindo a China e os Estados Unidos”, diz, ressaltando que a divulgação do trabalho deve servir como um “alerta”.

Doutorando do IG, o pesquisador Guilherme Torres destaca a correlação entre a mudança climática global e o fenômeno do aumento do calor verificado pelos dados do Cepagri, algo que pode se agravar por conta do processo acelerado de industrialização e expansão urbana verificados na região. A meteorologista do Cepagri Ana Ávila diz que o estudo dos pesquisadores da Unicamp corrobora resultados de outras pesquisas, realizadas em outras séries temporais do Estado, e que também têm mostrado a tendência de aumento das temperaturas médias.

Para Ávila, a adoção de medidas de adaptação não pode demorar. “Essa é uma questão urgente. A ciência está mostrando os resultados, o aumento nas temperaturas, e o verão mostrou a questão das chuvas fortes e frequentes”, adverte a pesquisadora. Lapola complementa dizendo que as cidades vão precisar de um plano eficaz para o enfrentar as mudanças climáticas. “É preciso que as cidades adotem ações a fim de minimizar os efeitos do aquecimento”, afirma, citando como exemplos os esforços de arborização para reduzir a temperatura nas ruas, a recuperação dos e o cuidado com os recursos hídricos, e a execução de obras urbanas para limitar os efeitos danosos de eventos climáticos extremos.

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