O rebaixamento da Ponte Preta para a Série C do Campeonato Brasileiro representa não apenas um momento de dor para a torcida, mas também a falência de um modelo de gestão marcado por promessas vazias e falta de transparência. A crise que culminou em dois rebaixamentos sob a gestão do presidente Marco Antônio Eberlin escancara falhas da diretoria, omissões da imprensa esportiva e até mesmo da própria torcida.
A carta publicada pela diretoria da Ponte Preta é emblemática de uma gestão que evita a autocrítica. Apesar de pedir desculpas e reconhecer a indignação da torcida, o texto falha em assumir responsabilidades claras pelos erros que levaram à queda do clube. A menção a “desafios únicos” e “reconstrução” tenta desviar a atenção da incompetência administrativa que resultou em rebaixamentos no Paulista e na Série B.
A promessa de “trabalho sério” e “força para recomeçar” não tem sustentação diante da ausência de medidas concretas apresentadas à torcida. Quem contratou jogadores sem comprometimento com o clube? Quem não reforçou a equipe na janela de transferências? Quem afirmou categoricamente que a Ponte não cairia? Essas perguntas permanecem sem resposta, enquanto a carta parece mais preocupada em acalmar os ânimos do que em oferecer soluções.
Fechar os comentários nas redes sociais do clube em um momento de crise é, no mínimo, um desrespeito à torcida. Em vez de se abrir ao diálogo e demonstrar compromisso com mudanças, a diretoria opta por silenciar críticas legítimas. Essa postura só aumenta a revolta e reforça a desconexão entre a gestão e os torcedores, que são a verdadeira alma da Ponte Preta.
A imprensa e a nossa parcela de culpa
Se a diretoria é a principal responsável pela crise, a imprensa esportiva de Campinas, na qual eu me incluo, também precisa fazer sua autocrítica. Ao priorizar análises táticas e resultados em campo, muitos de nós jornalistas deixamos de lado a investigação sobre os bastidores do clube. As entrevistas com o presidente Marco Antônio Eberlin frequentemente se tornaram ocasiões de brincadeiras e descontração, em vez de confrontos com perguntas incisivas e fundamentadas.
É verdade que a imprensa enfrenta barreiras impostas pelos clubes, como a restrição ao acompanhamento de treinos e entrevistas coletivas. No entanto, isso não justifica a falta de cobrança contundente ao longo da temporada. A ausência de investigações aprofundadas e de um jornalismo mais crítico contribuiu para a sensação de impunidade e má gestão.
Embora a torcida e a imprensa tenham falhado em exercer uma pressão mais incisiva, é inegável que a maior responsabilidade recai sobre a diretoria. Desde 2022, a gestão de Marco Antônio Eberlin acumulou dois rebaixamentos históricos, enquanto fazia promessas vagas e deixava de tomar medidas cruciais. O atraso de salários, a falta de reforços estratégicos e a condução amadora de decisões fundamentais colocaram o clube em uma situação insustentável.
Se a Ponte Preta deseja realmente recomeçar, como sugere a carta do presidente, esse recomeço precisa ir além de frases de efeito. É necessário apresentar um plano concreto de reconstrução, assumir erros e dialogar com a torcida de forma transparente. A imprensa, por sua vez, deve rever sua postura e retomar um jornalismo crítico, que priorize a apuração e a cobrança responsável.
A queda para a Série C deve ser um ponto de inflexão para o clube, sua torcida e os profissionais que o cercam. Afinal, a Ponte Preta, com sua rica história e apaixonada torcida, merece muito mais do que foi entregue nos últimos anos.