Desde menino, ele já era conhecido no bairro como Pelézinho. Descia sozinho pro campinho de areia do Carlos Lourenço com a bola nos pés e a alma inteira entregue ao futebol. Na areia fina e lotada das tardes de pós-escola e dos fins de semana, quando até quatro times ficavam na espera, foi ali que nasceu o atacante Ruan de Paula, hoje com 16 anos e destaque da Ponte Preta Sub-17.
Negro, periférico, guerreiro como tantos outros da quebrada, Ruan brilhou na última rodada do Campeonato Paulista da categoria ao marcar dois gols na vitória contra a Internacional de Limeira. Não foi só uma boa atuação. Foi uma resposta ao destino. Um grito silencioso de quem carrega o sonho como herança de família e missão de vida.
— “Meu vô, o Didi, me levava pro campo desde pequeno. Meu pai dizia que eu ia virar jogador. Minha mãe… minha mãe largou tudo pra viver a minha caminhada. Eu não tenho o que reclamar. Sempre tive apoio em casa”, conta o jovem, emocionado.

A trajetória de Ruan começou entre peladas de rua e escolas do bairro. A partir dali, Ruan passou por escolinhas de base como Boca Jr., Euro Barcelona, Velo Clube de Rio Claro, Sumaré e Mogi Mirim. Em cada parada, um degrau a mais. Em cada chute, um passo para longe da estatística e mais perto da superação.
Durante a pandemia, veio a primeira queda. Foi dispensado de um outro clube. Pensou em parar. Mas seguiu. Treinou. Suou. Buscou espaço. Tentou de novo. Até que um olheiro da Ponte Preta o viu em campo e quis saber quem era aquele garoto de chuteira suja e olhar decidido. Chegou o convite. Ruan recusou outra proposta e escolheu: “Quero a Ponte”.
Hoje, ao vestir a camisa alvinegra, sente o peso e o privilégio.
— “É uma camisa pesada. Tem que saber jogar com ela. Quando fiz os dois gols, senti um alívio. Uma felicidade enorme. Foi como se tudo tivesse valido a pena.”
No bairro, a caminhada é celebrada pelos amigos de infância. Gustavo e Victor, parceiros de bola e vida, cresceram ao seu lado. Jogavam juntos na rua, dividiam campo, risadas e sonhos. São eles que Ruan cita com carinho, como parte da base que sustenta o presente e projeta o futuro.
E o futuro, para ele, tem nome e direção:
— “Quero chegar na Europa. Representar o Brasil. Ser referência. Dar uma vida melhor pra minha família. Esse é o meu maior sonho.”
Ruan de Paula não é só mais um menino da base. É um símbolo do que o futebol ainda pode representar: oportunidade, superação e identidade. Da periferia para os estádios, com raça e talento, ele segue. Porque quem nasceu jogando na areia sabe: a vitória começa muito antes do apito inicial.