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Vine Hernani: quando o corpo descobre que pode sonhar

Israel Moreira
Israel Moreira
Israel Moreira é jornalista com passagens pelo Correio Popular, Rádio Central e Jovem Pan News.
Foto: Divulgação

Antes de qualquer passo de dança, houve um silêncio. Um menino sem vínculos com o movimento, nascido na Vila Marieta e criado entre o Jardim Figueira e Nova Europa, que até os 17 anos desconhecia a própria vocação. Foi nesse intervalo entre a timidez e a descoberta que Vine Hernani escolheu dançar — e com isso, iniciou um caminho que o levaria das salas de aula populares ao palco do World of Dance, em Las Vegas, do asfalto periférico à sala de pesquisa da Unicamp.

A primeira coreografia que Vine Hernani executou talvez tenha sido invisível: o gesto de atravessar a própria história para acreditar em si. Nascido em 1993, em Campinas, Vine cresceu entre casas de pais separados, jogando futebol, frequentando a igreja e participando de crismas. Não havia sinais de que a dança o alcançaria. Até que, por acaso ou destino, uma aula experimental no Instituto Vivarte plantou o que se tornaria sua maior linguagem.

“Eu fui todo desajeitado. Sem coordenação nenhuma. Mas saí da aula com uma certeza: era aquilo que eu queria para mim”, relembra. Era o ano de 2010. Pouco tempo depois, já buscava aulas de jazz, ballet e hip hop — tudo com bolsas conquistadas por mérito. O corpo que antes era apenas corpo, tornou-se ferramenta de reinvenção.

Vine mergulhou nos estudos. No segundo ano, já integrava grupos de competição e começava a se destacar nos palcos. Em 2013, aos 20 anos, pisou pela primeira vez fora do país: Las Vegas, World of Dance Championship. Foi ali que entendeu que hip hop era mais do que movimento. Era geopolítica. Era ancestralidade. Era identidade.

O retorno ao Brasil não o trouxe de volta ao mesmo lugar. Era hora de ensinar.

Sua estreia como educador aconteceu por meio da professora Erika Ramos. Em escolas, ONGs, academias e projetos sociais, Vine passou a transmitir a dança como uma prática de cidadania. Com o tempo, percebeu que precisava de mais solidez para seguir nesse propósito — e foi na Unicamp que encontrou o chão para dar novos saltos. Ali, entre livros, pesquisas e ensaios, iniciou sua caminhada como pesquisador e formador.

Graduado pela Unicamp, fundou o grupo de pesquisa Quintessência, voltado à compreensão profunda dos fundamentos do Hip Hop Dance, e mais tarde, o coletivo SalaMUDA, que desconstrói hierarquias entre som e movimento, propondo uma escuta radical entre música e dança.

Entre 2023 e 2025, integrou a Seleção Brasileira de Hip Hop, alcançando reconhecimento em competições internacionais. Como coreógrafo da PHK Cia de Dança, levou seus espetáculos a festivais renomados como FIIMADE e Salto Fest Dance, conquistando prêmios e, mais importante, transformando realidades.

Em 2024 e 2025, porém, sua presença física no campeonato mundial do Hip Hop International foi impedida por entraves burocráticos: o visto negado pelos Estados Unidos. Mas a ausência se tornou ensinamento. “Indiquei outro dançarino para me representar. O importante era garantir que o Brasil estivesse presente, mesmo sem mim”, conta.

O gesto resume quem é Vine Hernani. Um artista que dança com o corpo, mas ensina com a alma. Um educador que transforma passos em pontes e espetáculos em provocações pedagógicas. Ao longo de 11 anos, impactou milhares de estudantes com metodologias inclusivas, onde o corpo — seja qual for — tem lugar e voz.

“Antes de ser dança, o hip hop foi para mim a possibilidade de tornar o mundo mais leve”, diz. Talvez por isso, sua arte ultrapasse o palco. Nas escolas públicas, nas rodas de conversa, nas oficinas com jovens da periferia, Vine segue o mesmo princípio de sua professora do terceiro ano, Naraci: tocar uma vida para que ela floresça.

E floresce.

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