A febre maculosa, doença que causou recentemente a morte de ao menos três pessoas no interior de São Paulo, é causada pela bactéria Rickettsia, que conta com diferentes espécies ao redor do mundo. No Brasil, existem duas que provocam a doença: a Rickettsia rickettsii, associada a quadros mais graves, e a Rickettsia parkeri, que normalmente não causa complicações muito sérias.
As mortes recentes foram causadas pela Rickettsia rickettsii. Essa bactéria é transmitida principalmente por carrapatos encontrados em áreas rurais ou em beiras de rios. Em São Paulo, o mais comum é o carrapato-estrela.
Nos casos mais graves da febre maculosa, a bactéria destrói células dos vasos sanguíneos, o que pode causar quadros de insuficiência renal, convulsões, coma e falência múltipla de órgãos.
Elba Lemos, médica e pesquisadora do laboratório de hantaviroses e rickettsioses do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), explica que o carrapato, uma vez no corpo de alguém, insere o aparelho bucal na pele da pessoa para sugar o sangue do indivíduo, ativando o desenvolvimento das células da glândula salivar.
Se o carrapato estiver infectado, a bactéria Rickettsia está dentro dessas células. Ou seja, quando o desenvolvimento dessas células é ativado, o mesmo acontece com as bactérias. Depois disso, o carrapato cospe a saliva e transmite a bactéria para o humano.
Entre o início da produção da saliva e a inserção da substância no organismo da pessoa existe um intervalo de cerca de quatro a seis horas. Por isso, retirar o carrapato rapidamente da pele é uma forma de mitigar os riscos de infecção.
Dentro do corpo humano, o microorganismo precisa entrar em uma célula para se desenvolver -tipo de bactéria conhecida como intracelular obrigatória. No ser humano, as células que a Rickettsia penetra são as endoteliais, que compõem a parte interna dos vasos sanguíneos.
Inseridas nessas partes do corpo humano, o patógeno se desenvolve. “A Rickettsia vai para dentro do vaso [sanguíneo], se multiplica e começa a destruir a parede do vaso”, explica Lemos.
Se não houver tratamento imediato, a bactéria corrói esses vasos, e diversos sintomas surgem. De início, febre, dor de cabeça, diarreia, náusea e mal-estar aparecem. Outra manifestação comum são manchas pelo corpo.
“O paciente vai estar inchado porque o líquido extravasa [dos vasos, que ficam com as paredes comprometidas]. Não vai urinar mais, terá insuficiência renal”, afirma Lemos. A médica afirma ainda que ocorre falência múltipla de órgãos e a pessoa pode sofrer com coma e convulsões, além de outras manifestações. E então vem a óbito.
Mas se houver tratamento com antibióticos, a bactéria morre e o paciente sobrevive. Essa intervenção precisa ser feita o mais rápido possível. Se o tratamento começar somente a partir do 7° ao 10° dia após o início dos sintomas, as chances de sobrevivência são praticamente nulas.
Por isso, quanto antes começar a aplicação dos remédios -com supervisão médica-, melhor. Isso deve ocorrer mesmo sem ter a confirmação do diagnóstico por laboratório. Se for esperar os exames, além da possibilidade de falso negativo, poderá ser tarde demais para a pessoa sair com vida.
“É uma doença que, se você tratar no momento certo e oportuno, o paciente sai curado”, diz Lemos.
Emy Gouveia, infectologista do Einstein, também cita a importância dos antibiótico e menciona algumas medidas de suporte, como hidratação e controle da febre, que podem ser adotadas.
“Alguns pacientes necessitarão de suporte em unidades de terapia intensiva. Por isso, é importante que os indivíduos procurem o serviço de saúde caso haja o desenvolvimento de sinais e sintomas após a picada de carrapatos”, recomenda.
SAMUEL FERNANDES / Folhapress