Os dirigentes sindicais estão otimistas. A legislação trabalhista abre ampla possibilidade de fortalecimento dos sindicatos e diálogo com o governo. Garante também arrecadação para custear a burocracia sindical com a cobrança de um imposto de todo trabalhador que tiver um contrato assinado na nova carteira de trabalho. Desconto de um dia de salário obrigatoriamente, com o recebimento feito diretamente pelo departamento de recursos humanos da empresa e depositado na conta do sindicato. Com isso, a questão central que preocupa os dirigentes está resolvida e não vai faltar dinheiro para prédios, contratação de correligionários, amigos e parentes. A perpetuidade no cargo também está garantida – com o cofre cheio, não falta suporte econômico para ganhar votos por meio do assistencialismo, oferta de colônias de férias no campo e na praia, festas e atividades culturais com a contratação de artistas famosos da música popular.
O governo tem outro objetivo. O Primeiro de Maio tem o nome trocado para Dia do Trabalhador. O Primeiro de Maio tem suas raízes na Primeira Internacional Socialista e essa ideologia não agrada nem ao presidente, muito menos aos donos dos meios de produção nacionais. Não se esquecem das greves que abalaram a República, desorganizaram a produção e várias terminaram em confronto com a polícia. Portanto, nada como acomodar os interesses das lideranças sindicais e empresariais. As influências socialistas e anarquistas são coisas do passado e o que se vê agora é a influência do vento da direita europeia, que pretende acabar com a luta de classes e acomodá-las em uma convivência harmônica e pacífica. De um lado, a manutenção de 8 horas diárias de trabalho, pagamento de horas extras, férias, descanso semanal, licença para gestantes e proibição do trabalho para menores de 14 anos. Tudo muito parecido com a legislação europeia. Do outro, a paz social.
Os arquitetos dessa convivência entre o capital e o trabalho, inclusive o presidente, desenvolvem uma política duradoura, o corporativismo, inspirado no fascismo de Mussolini. O ditador Getúlio Vargas divulga que está do lado dos trabalhadores, sem hostilizar os empresários e divulga isso constantemente em A Hora do Brasil. Os direitos garantidos na lei têm a contrapartida da perda da autonomia organizacional e ideológica dos sindicatos. Em outras palavras, há uma amarração direta com o governo. O que se quer instaurar é o corporativismo que impede a luta de classes, conclamada pelas esquerdas, liderada pela União Soviética e o seu ditador Stálin. Vargas assume o papel de árbitro entre as partes e influencia diretamente na construção e nomeação dos dirigentes sindicais. São os chamados pelegos. Estes utilizam os sindicatos para a divulgação da propaganda oficial, apoiam o Estado Novo, manobram o imposto sindical obrigatório e preparam grandes festas do Primeiro de Maio nos estádios, onde desfila, em carro oficial, Getúlio Vargas.