Caso Larissa: MP concorda com a quebra do sigilo bancário dos indiciados e propõe a motivação do crime por “problemas financeiros”

O documento, assinado pelo promotor Marcus Túlio Nicolino, foi compartilhado nesta terça-feira (01)

Promotor Marcus Túlio, autor do documento, durante entrevista exclusiva | Foto: Arquivo TH+TV

O Ministério Público de São Paulo, por meio da 2ª Vara do Júri e das Execuções Criminais da Comarca de Ribeirão Preto, solicitou a quebra do sigilo bancário dos indiciados do caso Larissa após fortes indícios de feminicídio doloso praticado por “problemas financeiros”. A decisão foi compartilhada nesta terça-feira (01). 

“Para tanto, foram requeridos extratos bancários detalhados, incluindo saldos, transferências, empréstimos, financiamentos, seguros e consórcios, além da identificação de contas via SISBAJUD, referentes ao período de 01 de fevereiro de 2025 a 01 de abril de 2025, sendo o acesso às movimentações financeiras considerado imprescindível para comprovar a aludida motivação”, diz trecho do documento.

O pedido acompanha a justificativa de depoimentos de algumas testemunhas e o relatório de investigação, os quais indicam por fortes indícios a motivação financeira por trás da morte da professora Larissa Rodrigues, por envenenamento. 

“O relatório da investigação, que encontrou indícios que o crime foi motivado por problemas financeiros dos investigados e visando apurar a veracidade destas informações, é imprescindível termos acesso à movimentação financeira das contas dos investigados e da vítima Larissa”, considera o documento, através do delegado competente, por meio do despacho. 

Por isso, o texto do Ministério Público, assinado pelo promotor Marcus Túlio Nicolino, considera a quebra do sigilo bancário de Luiz Garnica (ex-marido da professora Larissa) e Elisabete Arrabaça (ex-sogra de Larissa Rodrigues) como “medida necessária e indispensável para a completa elucidação dos fatos”. 

A análise da movimentação nas contas bancárias dos três poderá confirmar os indícios de motivação financeira do crime, identificando possíveis transações suspeitas, fluxos de dinheiro, dívidas, empréstimos ou qualquer outro elemento que possa ter servido de móvel para a prática delitiva”, continua o documento, de 27 páginas.

Ainda no documento, o Ministério Público se manifesta pela conversão da prisão temporária dos indiciados – a vencer nesta sexta-feira (04) – à condição preventiva. “Os fatos apurados no bojo do presente inquérito revelam um cenário de premeditação, crueldade e frieza que desafiam os mais elementares princípios da dignidade humana”, continua o documento do MP.

Indiciados pela Civil 

A Polícia Civil decidiu em 27 de junho pelo indiciamento de Luiz Antonio Garnica e Elisabete Arrabaça, marido e sogra da professora Larissa, respectivamente. Ambos respondem por homicídio doloso qualificado pelo feminicídio e utilização de meio cruel no assassinato.

“Luiz Antonio Garnica e Elisabete Eugênio Arrabaça foram formalmente interrogados e negaram a prática do delito, entretanto, com base nas provas coletadas, que demonstram a materialidade do delito e indícios suficientes de autoria, procedeu-se ao indiciamento de Luiz Antonio Garnica e Elisabete Eugênio Arrabaça”, decidiu a Polícia Civil, por meio do inquérito.

A decisão judicial acompanha a determinação de prisão preventiva dos indiciados. “A conduta dos indiciados, que inclui a tentativa de adulterar a cena do crime, a limpeza de vestígios de sangue, a insistência na cremação do corpo da vítima, a criação de álibis falsos e a preocupação em apagar provas digitais, demonstra um claro intento de obstruir a justiça e revela a periculosidade dos agentes, que, em liberdade, poderiam continuar a interferir na coleta de provas e na intimidação de testemunhas”, justifica a decisão, em meio a outros fatores, como o interesse financeiro, por exemplo. 

Entenda o que o inquérito decidiu

Os indiciados são imputados pelos crimes de: Homicídio Doloso Qualificado pelo Feminicídio e pela Utilização de Meio Insidioso ou Cruel

Materialidade: Comprovada pela presença de Aldicarbe e Aldicarbe Sulfóxido (“chumbinho”) no corpo da vítima, conforme Laudo Necroscópico.

Meio Insidioso: A administração do veneno, sem sinais externos de violência, de forma sutil e reiterada, visava dissimular a causa da morte. Os sintomas de mal-estar da vítima nos dias anteriores ao óbito, após ingerir alimentos fornecidos por Elisabete e ser medicada por Luiz, corroboram o envenenamento progressivo.

Feminicídio: A morte de Larissa ocorreu em um contexto de violência doméstica e familiar, motivada pela recusa de Luiz em aceitar o divórcio após a descoberta de sua traição, além de histórico de humilhações e controle financeiro. A conduta do agente é em razão da condição de mulher da vítima, no âmbito de relação íntima de afeto.

Participação de Elisabete: As pesquisas por veneno em seu celular, a busca por “chumbinho”, o fornecimento de alimentos e medicamentos à vítima em seu período de mal-estar e suas inconsistências no depoimento indicam sua atuação no fornecimento e possível administração do veneno.

Participação de Luiz: Sua motivação pela comunicação do divórcio e interesses financeiros, interesse em iniciar o relacionamento com a amante Letícia, o comportamento suspeito no dia do óbito, incluindo a troca de roupas e a contradição da rigidez cadavérica, a insistência na cremação, as tentativas de limpeza do local, o interesse em acessar os bens da vítima logo após a morte, a criação de um álibi e as pesquisas sobre extração de dados e limpeza de informações em seu computador revelam seu envolvimento direto na execução e ocultação do crime.

O documento policial ainda aponta as conexões entre as mortes de Larissa e Nathália Garnica, falecida pouco mais de um mês antes do óbito da professora de pilates. 

“Inicialmente, a morte de Nathália foi registrada como “morte natural” devido à ausência de sinais de violência visíveis. Contudo, a investigação do homicídio de Larissa trouxe à tona indícios que levantaram suspeitas sobre a verdadeira causa da morte de Nathália”, indica o texto. 

“A exumação do corpo de Nathália Garnica, realizada em 23 de maio de 2025, no Cemitério Municipal de Pontal, teve como objetivo coletar amostras para exame toxicológico. O Laudo Tanatológico nº 204509/2025- GDL, que acompanhou a exumação, confirmou a presença de Carbofurano no corpo de Nathália, concluindo que a causa da morte foi intoxicação exógena por praguicida. O Carbofurano, assim como o Aldicarbe encontrado em Larissa, é um carbamato, ambos popularmente conhecidos como “chumbinho”, continua o inquérito da Polícia Civil, de 14 páginas. 

O caso segue em investigação. 

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