Como eventos musicais impactam as atividades turísticas?

“As sensações que a música nos causa podem ser tão fortes a ponto de querermos sair de casa, da cidade, do Estado e até do país para chegar perto de onde ela acontece”, afirma Vítor Silva Freira

João Rock, em Ribeirão Preto | Foto: Divulgação

Segundo o Conselho de Turismo da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo, com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil faturou R$ 17,3 bilhões em janeiro de 2024. Essa quantia é 2,4% maior do que a do mesmo período de 2023. Mas o que influencia esses números?

Música como atrativo

Diversos são os fatores que impactam no setor turístico — inclusive alguns estão nos demais episódios do boletim Ciência do Turismo — e a música é um deles. “Música é arte, é expressão importante do povo de um lugar e é atrativo turístico também“, diz Vítor Silva Freire, doutorando em Turismo pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP.

O pesquisador comenta sobre a pesquisa de Marcela Cristina Ferreira e Izabella Martins, ambas do Centro Universitário Una, que destacam o possível potencial turístico da realização de shows e musicais, mas que ainda não é aproveitado por inteiro. “Analisando o aumento de shows internacionais em Belo Horizonte, elas afirmam que ainda existem muitos desafios para consolidar esse mercado na cidade, inclusive a falta de estudos sobre o tema”, explica Freire.

Porém, as pesquisadoras veem que, se bem explorado, os shows na capital mineira podem gerar benefícios para o ramo hoteleiro, alimentício e de transporte, atraindo pessoas que nem mesmo são do local.

Lazer e entretenimento

Ainda sobre a pesquisa de Marcela e Izabella, outro importante dado é que, levando em conta o público de Belo Horizonte que viaja para assistir a shows, uma das motivações para viajar para outros destinos vai além das apresentações, incluindo a oportunidade de passeio. Sobre isso, Luciana e Josemar Marson, Josir Gomes e Diego da Cunha, todos da Unigranrio, analisaram o impacto do Rock in Rio — um dos principais do Brasil — no Rio de Janeiro.

“As edições do evento foram responsáveis por trazer centenas de milhares de turistas do Brasil e do exterior à cidade e, ainda, eles notaram que esses turistas aproveitaram a ida ao Rock in Rio para visitar outros atrativos turísticos presentes no Rio de Janeiro — consequentemente, distribuindo seus gastos para além do local do festival”, pontua o pesquisador.

Os festivais identificam a cidade

O Rock in Rio, ao levar o nome da cidade-sede, pode ajudar a fortalecer a imagem do local, trabalhando o city marketing. “Quando fortalecida, essa identidade pode gerar bons frutos econômicos. A São Paulo Turismo publicou um relatório sobre a edição de 2023 do festival musical Lollapalooza Brasil, na cidade de São Paulo”, comenta Freire. Na pesquisa, 56,6% do público era de fora da cidade. Além disso, o impacto econômico apenas com o turismo para a cidade foi de cerca de R$469 milhões.

Em outro festival musical paulistano — o The Town —, que estreou apenas em 2023, dentro da amostra entrevistada, 34,8% do público era de fora de São Paulo. Mesmo na primeira edição, o festival causou um impacto econômico de aproximadamente R$219 milhões apenas com o turismo. “As sensações que a música nos causa podem ser tão fortes a ponto de querermos sair de casa, da cidade, do Estado e até do país para chegar perto de onde ela acontece. Para ficar ainda melhor, podemos juntar isso a mais um passeio diferente, uma paradinha em um novo restaurante e arrematar a noite no conforto de um hotel”, diz o pesquisador.

**Texto de Jornal da USP