Consumo diário de ovos pode ajudar na prevenção de doenças cardiovasculares

Apesar dos benefícios, se consumido moderadamente, Gabriela Rigote diz que muitas pessoas ainda associam a ingestão desse alimento ao aumento nos níveis de colesterol sanguíneo

Pesquisa mostra que ingerir uma unidade de ovo diariamente provoca redução nos índices de doenças cardiovasculares – Foto: Atlascompany – Freepik

Estudo de pesquisadores da Universidade de Pequim, na China, e publicado na Heart mostrou os benefícios do consumo de ovos para a saúde. Os pesquisadores analisaram mais de 500 mil pessoas e chegaram à conclusão de que aqueles que ingeriam uma unidade de ovo diariamente tiveram redução nos índices de doenças cardiovasculares. A nutricionista Gabriela Rigote, graduada pela Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP e mentora do Projeto de Pesquisa e Extensão Sustentarea, também da Faculdade de Saúde Pública, analisa os resultados obtidos pelo levantamento e discorre sobre os fatores que influenciam na opinião popular sobre esse alimento.

Conforme a especialista, os ovos são uma ótima fonte de proteínas de alta qualidade e contém aminoácidos essenciais, os quais são substâncias necessárias para a construção e manutenção dos tecidos do corpo. Ela explica que o corpo humano é capaz de produzir uma certa quantidade de aminoácidos, porém os chamados essenciais são aqueles que o organismo não é capaz de sintetizar e precisam ser obtidos através da alimentação.

Gabriela explica que esses alimentos são ricos em vitaminas e minerais, tais quais a vitamina B12, a riboflavina, selênio e colina, além de antioxidantes como a luteína. Ademais, a nutricionista explica que, devido a seu aporte proteico, o ovo contribui para a saciedade, fator que interfere na quantidade de comida que um indivíduo sente necessidade de ingerir e, dessa maneira, consegue controlar melhor as porções por refeição.

Histórico

Segundo a pesquisadora, ainda existe uma crença popular a qual associa o consumo de ovos a problemas de saúde, principalmente pela associação do alimento ao aumento nos índices de colesterol sanguíneo. Ela explica que essa ideia foi sendo construída historicamente pela publicação de estudos intercalados, nos quais alguns apontavam os malefícios dos ovos e outros reafirmavam suas contribuições ao bom funcionamento do organismo.

“Primeiro apareciam estudos dizendo que o ovo faz mal, depois outras publicações afirmavam que ele fazia bem e, após um tempo, surgiam novos artigos dizendo novamente que faziam mal. Então as pessoas ficavam confusas e, nessa dúvida sobre o potencial de ser prejudicial, as pessoas preferiam não consumi-lo e repercutiam essa crença de que o consumo diário de ovos faz mal à saúde”, elucida.

De acordo com Gabriela, por serem de origem animal, os ovos possuem um certo teor de colesterol em sua composição, mas ela ressalta que os estudos mais recentes sobre o tema mostram um menor impacto dos alimentos de origem animal no colesterol sanguíneo e nos índices de doenças cardiovasculares do que se pensava anteriormente, desde que consumidos moderadamente. “Apesar desses benefícios e dessas novas informações, muitas pessoas ainda acreditam até os dias atuais que o ovo faz mal à saúde”, diz.

Consumo consciente

Mesmo que os ovos sejam dotados de diversos nutrientes, a especialista ressalta que precisam ser preparados adequadamente e consumidos em quantidades controladas. O preparo desse alimento frito em banha ou óleo, por exemplo, não é tão saudável para o organismo porque absorve altas quantidades de lipídio. Em contrapartida, as formas de preparo do ovo mexido ou cozido, por exemplo, são benéficas e não possuem tanta diferença na quantidade fornecida de proteína e aminoácidos.

Quanto à recomendação adequada, Gabriela informa que o ideal é o consumo de um a dois diariamente, desde que no preparo não sejam utilizadas formas de gordura extra, seja de origem animal ou vegetal. Além disso, ela afirma que esse alimento é fonte de proteína a um custo relativamente baixo, portanto é uma boa alternativa ao consumo de carnes. “Além de fornecer a proteína e diversos nutrientes, é um alimento barato, fácil de achar para comprar e muito versátil, já que pode ser preparado de diversas formas”, destaca.

Dieta equilibrada

Conforme a nutricionista, o contexto em que o ovo é ingerido também possui grande influência nos efeitos que causa ao organismo. Ela explica que em culturas como a estadunidense, por exemplo, as pessoas costumam comer ovos diariamente no café da manhã, mas fritos em gordura e acompanhado de outros alimentos ultraprocessados, como o bacon. No Brasil, por outro lado, ele é geralmente consumido dentro do almoço e jantar como alternativa às outras proteínas de origem animal, tal qual a carne e o frango.

De acordo com a mentora, se o ovo for inserido dentro de uma refeição, é importante que esteja acompanhado de outros alimentos, como arroz e feijão, o qual é uma fonte complementar de proteína e ferro. “Se vamos tirar, por exemplo, 80 gramas de carne e trocar pelo ovo, é importante que a refeição seja completa e complementada principalmente pelo grupo das leguminosas, como feijão, ervilha, lentilha e grão-de-bico, porque juntos eles vão conseguir suprir uma boa quantidade de proteína e ferro para a alimentação”, reforça.

A pesquisadora esclarece que as informações apropriadas sobre as maneiras de montar uma refeição saudável, completa e balanceada podem ser consultadas por qualquer pessoa no Guia Alimentar Para a População Brasileira de 2014, produzido pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da FSP para o Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas/OMS).

Para Gabriela Rigote, enquanto existem diversas pessoas alarmadas com o consumo de ovos, a mesma preocupação não é dirigida aos alimentos ultraprocessados, responsáveis por uma série de consequências à saúde. Ela conta que o Guia Alimentar explica que é essencial o consumo de alimentos in natura, desde que nas quantidades adequadas, ao passo em que não há recomendação para a ingestão de ultraprocessados, pois é necessário evitá-los ao máximo. “Já existe uma série de pesquisas científicas mostrando os malefícios desses alimentos ultraprocessados e mesmo assim não provocam esse pânico todo como ocorre com os ovos, isso explica muito a maneira pela qual as informações chegam à população”, reflete.

**Texto por Jornal da USP