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Dos canalhas, maus-caracteres e das cornetadas

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Dos canalhas, maus-caracteres e das cornetadas

Sou um jornalista um tanto quanto polêmico, admito. Costumo ser falastrão, de vez em quando. Falo palavrão, xingo, tiro sarro no ar – como a torcida do Bafo pode constatar – vibro com boas matérias e não tenho receio em “cornetar”, inclusive colegas de outras emissoras ou veículos.

Faz parte do pacote Schiavoni, como eu costumo dizer aos que têm a coragem, ou a imprudência, para me contratar.

O que a maioria das pessoas não sabe é que esse não é um tipo. Comigo, a cornetada é constante, como também é constante a brincadeira. Comigo inclusive. Pouca gente zoa mais a si mesmo do que eu. Pouca gente sabe, mas também não tenho problemas em ser cornetado e estou sempre pronto a admitir erros e falhas. Tenho aos montes, inclusive, como pessoa e como profissional.

Mas isso só quem convive sabe. Fato é, entretanto, que não tenho receio ou medo de expressar o que eu penso. E sei que muita gente não, digamos assim, simpatiza com minha obesa figura por conta dessa forma de agir. Para o bem ou para o mal, não pretendo mudar.

Gostem ou não.

A falta de vergonha na cara e o roubo do mérito alheio, entretanto, não estão entre meus pecados.

Feito o preâmbulo, vamos à geleia geral.

O que aconteceu nesta semana, em duas matérias de minha autoria, me deixaram “pistola” level hard, e decidi, então, compartilhar essa indignação com os parcos leitores.
A mais indignante das situações ocorreu com a Prefeitura de Ribeirão Preto.

Trabalhei, por mais de um mês, em uma matéria que mostraria a ocupação irregular de uma rua na Ribeirânea, por parte da Botafogo Futebol SA e com a conivência das autoridades. Depois de confirmar a veracidade da história com dezenas de fontes, fiz o que todo jornalista sério deve fazer. Pedi o outro lado para a Prefeitura de Ribeirão. Era 5 de fevereiro.

Por 15 dias seguidos, cobrei, diariamente, a resposta. E por 15 dias não obtive.
Entendo que o caso era trabalhoso e envolvia uma consulta profunda nos mapas da cidade. Entendo, ainda, que a burocracia estatal tem coisas bem mais relevantes a fazer do que atender ao pedido da imprensa. Mas não entendo que uma informação demore mais de 15 dias para ser repassada a quem a pede.

Mais grave que isso, entretanto, foi que, ao falar com o secretário de Planejamento da cidade, Edson Ortega, sobre o assunto, fui informado de que a resposta – que eu não tive até hoje, por sinal – tenha sido enviada à empresa Botafogo Futebol AS, notificada oficialmente para responder sobre o caso.

Isso mostra um desrespeito absurdo com o meu trabalho e, por consequência, com o trabalho de toda a imprensa. Nada contra avisar a empresa para que se explique, dada a evidente irregularidade da situação. Mas informar a empresa sem informar quem levantou a informação e estava trabalhando uma matéria sobre o assunto é não só deprimente como denota comprometimento e mau caratismo.

Qual era a intenção da administração? Resolver o problema antes que a matéria fosse publicada? Que me perdoe quem acredita em papai Noel ou coelhinho da Páscoa, mas só consigo interpretar dessa maneira.

Por sorte, uma das minhas fontes revelou, quase que ao mesmo tempo, a real intenção da prefeitura, e conseguimos soltar a matéria antes que a direção da Botafogo SA pudesse resolver o problema e desinterditar a rua. Tivesse passado mais algumas horas, ou não tivesse eu as fontes que tenho, era exatamente o que iria acontecer.

Tão deplorável quanto são os profissionais que pegam carona no trabalho alheio. Nada contra e acho que a imprensa, quando se une, pode mudar muitas coisas ruins. Mas deixar de valorizar o trabalho do colega é deprimente e demonstra profundo mau caratismo.

O Grupo Thathi de Comunicação levantou uma lebre relevante ao apontar, em matéria feita por mim, que o Hospital das Clínicas poderia fechar mais de cem leitos devido a falta de pessoal. Informação, por sinal, que não chegou a mim por mérito próprio, e sim da nossa diretora-executiva, Nathalie Pilan. Coube a mim confirmar a informação, ouvir as fontes e elaborar a matéria.

Virou, como todo grande furo, tema de toda a imprensa da região. Infelizmente, entretanto, nenhum veículo, entre os que eu tive acesso, teve a humildade de dar o crédito pela informação, de resto absolutamente exclusiva.

Não se tratou de um release, ou de chegar primeiro a um factual, mas sim a apuração pessoal, feita na raça e no sangue, por um veículo que insiste em fazer jornalismo sério e investigativo, ainda que com todas as limitações decorrentes dos tempos atuais.

E, pior ainda, ainda houve supostos profissionais que quiseram surfar na onda da exclusividade, copiando nossa matéria com dois dias de atraso. E, absurdo dos absurdos, copiando mal copiado, com dados errados e visão distorcida do mesmo fato já revelado.
Ambos os fatos demonstram a canalhice e a desonestidade, tanto de alguns ditos coleguinhas da imprensa quando da administração pública.

Gostem ou não de mim, vou denunciar, enquanto puder e houver espaços livres e democráticos como os oferecidos pelo Grupo Thathi, tanto a canalhice quanto a desonestidade. De políticos, autoridades, empresas e jornalistas. Sem distinções.