Economia no Divã – A coluna semanal de Fabiano Corrêa

Fabiano Correa
Fabiano Correa
Especialista em investimentos. Graduado em Psicologia e Economia, com Mestrado em Psicologia social pela FFCLRP - USP e Doutorando em Contabilidade Financeira pela FEA-USP. @fabiano_scorrea
Supera Parque faz 20 anos

Desenrola Brasil: uma oportunidade para falarmos de Educação Financeira no Brasil.

Você deve ter ouvido falar sobre o lançamento do Programa Desenrola Brasil que foi lançado no dia 17/08/2023. Trata-se de um programa de recuperação de crédito, que promete tirar da condição de inadimplência milhões de brasileiros. Ao longo da última Campanha Eleitoral, a promessa de emplacar um programa desta natureza foi defendida por mais de um candidato. O fato é que chegamos no Brasil a um nível absurdo de endividamento. Segundo dados divulgados no primeiro semestre pela Confederação Nacional do comércio de Bens e Serviços (CNC), 78,3% de nossas famílias estavam endividadas. É óbvio que com tantas pessoas nesta condição, um programa como este tem grande apelo popular.

O Desenrola Brasil foi publicado através da Medida Provisória 1.176/2023, que tem uma linguagem bastante técnica e difícil de entender. Mas resumindo a conversa, o programa disponibilizará aos bancos que aderirem a iniciativa algumas vantagens contábeis em seus provisionamentos e um Fundo Garantidor de Crédito que irá avalizar as operações renegociadas.

O que está sendo feito com isto é uma espécie de socialização dos riscos e de eventuais perdas que podem ser causadas pela inadimplência das novas operações. Em contrapartida, os bancos deverão renegociar as dívidas de seus clientes com operações mais amigáveis, aumentando os prazos e reduzindo as taxas de juros. Para aqueles que tiverem caixa para pagamento à vista, descontos generosos de até 96% também são prometidos.

Este programa vem em boa hora para muitos brasileiros que desejam limpar o seu nome. É também socialmente justificável, dado que atravessamos juntos a mais terrível pandemia dos últimos 100 anos, que além de ter causado milhões de mortes, deixou cicatrizes profundas na nossa economia. Muitos brasileiros foram jogados na vala do desemprego, a economia entrou em recessão, a renda da população caiu e todos nós empobrecemos. Porém algumas reflexões devem ser feitas.

O endividamento é um processo que normalmente conta com aspectos materiais, mas também comportamentais. No aspecto material, temos situações, como as já citadas de perda de renda. No aspecto comportamental, o fato de que não contamos no país com uma política de Educação Financeira que instrumentalize nossos estudantes, futuros pais e mães de famílias, a se organizarem financeiramente. Somos a todo momento estimulados a comprar, a gastar, a ter, a consumir vorazmente e muito pouco convidados a refletir sobre esta sociedade de consumo e sobre a necessidade de construir uma estrutura financeira que nos proporcione maior conforto no futuro.

E o mau exemplo vem lá de cima. O Estado Brasileiro vive no cheque especial, gastando mais do que arrecada. E o pior, gasta grande parte de seus recursos com regalias que irrigam as castas privilegiadas da Máquina Pública. Enquanto não entendermos que os recursos são limitados, seja no âmbito doméstico ou no público, continuaremos a vender o almoço para comprar a janta. Condições materiais como foi o caso da pandemia, felizmente passam. Mas o hábito fica. E para que possamos prosperar precisamos mudar alguns.

Concluindo, se você está neste momento com o seu nome negativado, esta é uma excelente oportunidade para colocar a casa em ordem. O nome é o bem mais valioso de qualquer pessoa. Ninguém gosta de ficar inadimplente e todos os brasileiros merecem uma oportunidade de recuperar a sua condição creditícia. O país também precisará da alavanca do crédito para impulsionar a sua economia nos próximos anos. Porém esperamos que o estímulo a utilização do crédito seja feito através de linhas responsáveis, taxa de juros adequadas e com finalidades pertinentes, como é o caso do financiamento habitacional. Esta é a rota que todos desejamos para as nossas famílias e também para a nossa economia.

Fabiano Corrêa

Economista e psicólogo

Especialista em Investimentos CEA

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