Estudo analisa a previsibilidade das táticas esportivas no futebol feminino

Foto: Divulgação / CBF

Imagine que você está jogando contra um time de futebol e consegue calcular, por exemplo, seu padrão de movimentação no campo. Isso te daria uma grande vantagem, não é? Sua equipe poderia prever a trajetória da bola e interceptar um passe do oponente. O pesquisador Thomas Kisil Marino, da Escola de Educação Física e Esporte (EEFE) da USP, estuda a possibilidade de realizar essa previsão a partir da análise da dinâmica de perturbações – incidente que altera a estabilidade do jogo, gerando vantagem ao ataque – em campeonatos de futebol feminino, mas que também pode ser aplicada em partidas de futebol masculino.

A pesquisa tem o título provisório de Perturbações no futebol feminino: origens, causas e desfechos, e está em desenvolvimento desde 2021, sob orientação do professor Alexandre Moreira, da EEFE. Kisil Marino buscou compreender como as perturbações costumam ser geradas. Segundo ele, trata-se do momento em que a estabilidade da relação entre ataque e defesa se perde, surgindo um novo padrão de organização das jogadoras e acarretando a transição de fase. As perturbações podem ser um passe, um drible, uma condução de bola ou até mesmo uma combinação entre essas três ações, podendo levar a diversos desfechos ou estados finais, como uma finalização, uma falta defensiva, um desvio defensivo, entre outros.

Ao Jornal da USP, Kisil Marino explica a metodologia utilizada para compreender as perturbações. “Nós consideramos a partida como um sistema, em que cada jogadora é um componente. No futebol, especificamente, enquanto um time tem a posse de bola, o outro time está defendendo. O sistema apresenta um certo padrão de regularidade, mas tem momentos no jogo em que o ataque consegue quebrar a defesa e mudar o padrão de equilíbrio. A ação responsável por essa mudança no sistema é a perturbação”, exemplifica o pesquisador.

Para compreender a dinâmica das perturbações, Kisil Marino analisou 266 casos em 13 partidas da UEFA Women’s Champions League 2021-22, das quartas de final até o último jogo. Todas as transmissões estão disponíveis no YouTube, com acesso público, pelo canal DAZN Women’s Football. O pesquisador procurou ainda investigar em quais áreas do campo de futebol se iniciam e finalizam as perturbações, dividindo o espaço em 18 partes, conforme a imagem a seguir. Essa estratégia foi baseada no artigo O processo de ataque no futebol: uma taxonomia para classificar como as equipes criam oportunidades de gol usando um estudo de caso do Crystal Palace FC, dos pesquisadores Jongwon Kim, Nimai Parmar e Goran Vuckovic.

Para melhor compreender as dinâmicas de perturbações do jogo, o pesquisador utilizou o campo dividido em 18 partes usado num estudo de caso do Crystal Palace FC – Foto: Thomas Kisil Marino

No cenário atual da pesquisa, Kisil Marino obteve os seguintes resultados: observaram-se 266 perturbações, separadas em 21 tipos diferentes: três vindos de ações isoladas, como passe, drible ou condução, totalizando 145 casos; somados a outros 18 tipos, com a combinação dessas ações, totalizando mais 121 casos.

Além disso, apontou-se que não é possível prever em que área do campo de futebol as jogadoras vão iniciar e finalizar suas perturbações, com base em um coeficiente de variabilidade relativo utilizado no estudo. Porém, pode-se encontrar alguma regularidade na trajetória entre a zona de origem e destino da perturbação.

Em um exemplo prático, um técnico pode avaliar sua equipe e tentar descobrir qual é o padrão de criação de perturbações que ela consegue fazer com mais êxito. Mas é possível ir ainda mais longe: pode-se pegar vários vídeos do time adversário jogando, fazer a mesma análise de Kisil Marino e identificar a tendência de perturbações que a equipe costuma criar. Com isso, será possível encontrar padrões em suas movimentações, sendo, por exemplo, a recorrência de perturbações que partem mais da zona quatro e cinco do campo do que das demais.

Desvantagem temporal

De acordo com Kisil Marino, a escolha para pesquisar a participação das mulheres no futebol se deu pela observação de poucos estudos na área, principalmente em seu tema central sobre as dinâmicas das perturbações. Apesar de a modalidade feminina no esporte ser antiga, com registros datados de meados da década de 1890, a prática exercida por mulheres foi proibida por mais de 40 anos, entre 1941 e 1983, o que pode ter impactado não só o exercício da modalidade, mas também a produção acadêmica na área.

Por outro lado, Kisil Marino acredita que a recorrência de estudos focados no futebol feminino tende a aumentar nos próximos anos. “O meio acadêmico muda conforme as transformações culturais da sociedade. Nós estamos em um período de não só estudar os homens, não só estudar as mesmas coisas, mas diversificar essas questões. A academia segue um pouco disso também, principalmente porque quem faz os estudos, geralmente, são os alunos que vieram da graduação e que estão vivendo essa mudança”, afirma o pesquisador, ressaltando o crescimento no número de estudos sobre o futebol feminino a partir de 2015, assim como a quantidade de praticantes da modalidade.

Com informações da Assessoria de Imprensa da Escola de Educação Física e Esporte

**Texto de Jornal da USP 

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