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Fariseu, olha teu olho, ou a crônica das prostitutas puras

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Fariseu, olha teu olho, ou a crônica das prostitutas puras

E como podes dizer a teu irmão: Permite-me remover o cisco do teu olho, quando há uma viga no teu?  Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e então poderás ver com clareza para tirar o cisco do olho de teu irmão – Matheus, capítulo 7, versículos 4 e 5

Diria Tim Maia que, no Brasil, vale tudo. Com a ressalva da quase milenar lei de Gil, honrosa exceção, tendo a concordar com a frase. Vivemos tempos sombrios, onde o canalha não se escusa de apontar a suposta falta ética. Onde o achacador não tem pudores de apontar o dedo para quem vende o seu peixe modestamente e onde quem cresceu sob as barbas da ditadura não tem qualquer problema em pleitear a democracia.

Em Ribeirão, talvez os tempos sejam um pouco mais sombrios. Na política, temos viúvas de todos os políticos de alguma expressão que passaram pela cidade nos últimos, sei lá, 20 anos. Há os fãs de Dárcy Vera, os apaixonados pelo Palocci, os amantes de Cícero e uma série de outros picaretas que, sofregamente, esperam sua hora de mamar nas fartas tetas públicas.

Num frenesi assustador, insistem em apontar os dedos uns contra os outros, ansiosos pelo sagrado momento em que lambuzar-se-ão dos fartos recursos públicos da já praticamente falida cidade. Afinal, a picaretagem só é picaretagem quando é praticada pelo outro. Quando sou eu, taca-lhe pau! Locupletemos, como diria o outro.

A imprensa, infelizmente, é parte desse processo tenebroso. Vivemos um momento sui generis. Como um picadeiro armado, insistimos, nós, jornalistas, em levar a sério uma piada de péssimo gosto. E agimos como se tudo fosse sério. Pagar as contas é preciso, e, para isso, realmente vale tudo. Até vender a alma ao capetão.

Não bastasse o momento terrível, com a várzea institucionalizada, começamos, alguns de nós jornalistas, a apontar nossas mãozinhas cheias de dedos contra nossos colegas. Raça lazarenta! Fariseu dos fariseus, assim poderia, sem sofrimento, ser classificada a categoria.

Da minha modesta parte, ancorado na paz e tranquilidade de quem nunca ganhou um mísero centavo através de conchavos e picaretagens em geral – e sim, sou uma honrosa exceção no mercado da cidade, ao lado de uma meia dúzia que labuta por aí – sigo gargalhando da boçalidade.

“Jornalistas” que mal sabem escrever, cuja formação talvez nem seja de Ensino Médio, destilando erros crassos de gramática e apuração; veículos cujo objetivo único é achacar autoridades, além de puxa-sacos que mal terminaram o ensino fundamental e afirmam ser comunicadores, são apenas a face mais deprimente dessa realidade triste. Isso sem falar naqueles que mais parecem assessores de autoridade – qualquer uma delas, se tiver farda, melhor ainda.

Mais que isso, essa gente se acha diferente, especial, jornalistões. Raposas éticas, que insistem em tomar conta do galinheiro. A tal puta pura é a mesma que se apressa em condenar sem inquérito. A brincadeira é de péssimo gosto, mas ainda tem gente que acredita. Eis os bastiões da ética de nosso tempo, com direito a diploma do Mobral.

Graças a gente desse tipo, arrisco a dizer que vivemos uma fase tão complicada que se Cristo, caso estivesse entre nós ao recomendar que os que não têm pecados atirem a primeira pedra em Maria de Magdala, veria um mar de sangue em segundos.  Joga pedra na Geni, como diria Chico Buarque.  Mas faz a foto, que precisamos subir a notícia.