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Minha primeira comunhão!

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Minha primeira comunhão!
Padre Gilberto Kasper é mestre em Teologia Moral, é licenciado em Filosofia e pedagogia, é especialista em bioética, ética e cidadania

A preparação da minha primeira comunhão ocorreu durante a primeira série do Primário cursada no Colégio Sagrado Coração de Jesus em Novo Hamburgo (RS). A Irmã Neófita da Congregação das Irmãs de Santa Catarina de Alexandria, proprietárias da Escola, foi minha Catequista. Os pais inscreviam seus filhos na Catequese no ato da matrícula. Foram meses de intensa preparação até um dos dias mais felizes de minha vida, que coincidiu com a Memória de São Francisco de Assis, omitida naquele ano de 1964 por ser o dia 4 de outubro um domingo.

Em pleno Concílio Ecumênico Vaticano II a Irmã Neófita nos preparou com zelo e profunda dedicação. Muito séria e enérgica teve o cuidado de orientar-nos bem para nossa primeira confissão. Insistia de que o Sacramento da Reconciliação não poderia passar despercebido durante a semana de ensaios para a Missa da Primeira Comunhão, essa última, geralmente mais solene em relação à Primeira Confissão. Agendou a tomada do Ato de Contrição individualmente. Deixou-me de recuperação porque entre o mais longo e o mais breve, decorei o mais breve. Em três dias fui obrigado a decorar o Ato de Contrição mais longo. Graças a Deus fui então aprovado!

Outro problema carecia de solução. Os meninos se vestiam de terno azul marinho, camisa branca com gravatinha “borboleta”, sapatos pretos e meias brancas. As meninas mais pareciam pequenas “noivinhas” com véu e tudo. Meu irmão mais velho tinha suas vestes garantidas. Já eu não. Nunca vestira terno e nem sapatos pretos. Minha avó paterna jogava no Bicho. Rezamos e ela ganhou um premio na cabeça. Conseguiu comprar-me um terno, só que cinza. Tingindo-o com anil ficou aproximadamente azul marinho.

Os dias que antecederam o domingo da minha primeira comunhão pareciam demasiados longos. Contava as horas e nem dormia direito, tamanha era minha alegria. A continência sugerida pelo Pároco após a primeira confissão era tão séria, que não pensava em outra coisa, a não ser como seria receber pela primeira vez Jesus Sacramentado, fazendo de meu coração, o porta-joias do Senhor. Não obstante a imposição de uma disciplina muito rígida, por parte das Irmãs envolvidas na preparação da minha primeira comunhão, desde o modo de andar na fila indiana juntamente com 122 coleguinhas, até a afinação dos cantos da Sagrada Liturgia, que foi um primor, minha alegria era indescritível. Nem a pobreza material de minha família impediu que todos participassem de um dos dias mais felizes de minha vida.

Após a minha primeira comunhão a Irmã Neófita andando de um lado a outro no corredor central da Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus no Bairro Santo Afonso de Novo Hamburgo (RS) incentivava-nos a fechar os olhos e a vivermos aquele momento único e tão feliz. Ela sugeriu que sentíssemos Jesus Sacramento em nós com as seguintes palavras: “Queridas crianças, procurem sentir Jesus na Hóstia Consagrada agora na vida de vocês. Procurem sentir para onde Jesus foi? Ele foi para o coração ou para o estômago? Se a Hóstia foi direto ao coraçãozinho de vocês, é porque o receberam pela primeira vez em estado de graça. Mas se foi ao estômago, é porque depois da primeira confissão, vocês cometeram ainda algum pecadinho. Sintam, crianças, para onde Jesus foi!”

É bem verdade que procuro saber até hoje para onde Jesus na Hóstia Santa foi: para meu coração ou para meu estômago. Independentemente à pedagogia da época, fica a certeza indiscutível: o dia da minha primeira comunhão foi o primeiro mais feliz de minha vida!