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O novo normal

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O novo normal

Há um consenso: depois da pandemia, boa parte do mundo passou a conviver com novos hábitos. Máscaras, álcool gel e algum distanciamento podem para sempre fazer parte de nosso cotidiano. O chamado novo normal.

E isso realmente é importante. Mesmo com a chegada das vacinas, continua a ser importante.  Mas, sejamos realistas, é só até esquecermos. Depois de vacinados todos com todas as doses (e a fila ainda é longa), leva apenas um ou dois anos, se tanto, para até os mais desconfiados perceberem que só eles estão de máscara na rua.

Somos assim, tudo é definitivo até passar e deixar de ser.

A poesia, como a bater papo conosco, sempre nos lembrou disso. De Vinícius a Legião, o amor deve ser eterno enquanto dure e que se ame como se não houvesse amanhã. É sobre o amor, mas a arte deu o seu recado.

Franz Hals! Ninguém representou melhor a eternização do instante do que Franz Hals, pintor da era de ouro da escola holandesa, no século XVII. Seguidamente endividado, volta e meia vivia angústia terrível, até que aparecia algum nobre em seu socorro, sempre “pela última vez”. Alegre, feliz, de novo com sua situação “definitivamente” resolvida, Hals voltava a pintar. Sua vida se refletia em suas obras: alguns retratos, por encomenda, eram pintados como figuras estáticas, estáveis. Já todos os demais eram flagrados em plena ação, retratados no momento, no instante eternizado. Era como ele vivia. E é como a maioria de nós vive, como ciganos. O que importa é a próxima dança. E isso é bom, é vida. Mas, em alguns casos, o preço é alto.

Os ciganos, quando o ambiente não é bom, mudam-se para outro lugar. Não podemos ser ciganos o tempo todo. A humanidade é apenas uma, ciganos e não ciganos. E todos só temos este planeta para habitar.

Não vemos além do momento atual.  Nosso alcance vai até ali, o tal palmo adiante do nariz, a pandemia, que é provisória. O desastre maior, definitivo e fatal, bate à porta e fingimos não ver. A cada gripe suína, aviária, Influenza tipo A, Vaca Louca, Ebola, Sars, Mers, H1N1, Zika, macacos, culpamos a causa imediata, a globalização, com seu comércio e deslocamentos, os hábitos alimentares, a China, a África, o macaco, o morcego.

Enfim, olhamos para cada caso em particular como se fossem causas isoladas. Ignoramos as denúncias da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUD), chamamos todos de esquerdista ou de doreitista e continuamos a destruir os ecossistemas originais para atender às necessidades sempre crescentes do mercado.

Não vai ter novo normal. Basta observar as aglomerações não só no Brasil e nos Estados Unidos, mas também em governos sérios como França e Alemanha. Em todo o mundo, a paciência se esgota dia a dia. Sim, a mudança  de hábitos vai acontecer, mas noutra direção: aprendemos a usar mais os recursos da era digital que já estavam aí. Foi um bom treinamento. Só isso vai mudar.

É claro que o Covid-19 vai passar e todos vão tirar as máscaras.

Mas, sejamos lúcidos: na sequência de Sars, Zika, Mers, H1H1, e Covid vão chegar os próximos vírus e afins, e é óbvio que algum deles será ainda mais letal.

E talvez não saia com água e sabão.