“Pretos, macacos e pobres”: alunos da rede municipal sofrem racismo durante campeonato entre escolas em Ribeirão Preto

EXCLUSIVO| Violência contra raça e condição socioeconômica aconteceu durante partida de vôlei válida pelo Jeesp

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Imagem ilustrativa | Foto: Rede social

Alunos da Escola Municipal Professora Elisa Duboc Garcia, localizada no bairro Jardim João Rossi, acusam estudantes de uma instituição privada de ensino da disseminação de ataques racistas. A violência contra raça e condição socioeconômica teria acontecido durante partida dos Jogos Escolares do Estado de São Paulo (Jeesp), em Ribeirão Preto.

O caso aconteceu na tarde de 14 de maio. Na ocasião, os alunos disputavam uma partida de vôlei quando foram verbalmente agredidos. Durante os ataques, uma aluna da rede municipal foi chamada de macaca. Em continuação ao ato ofensivo, o agressor complementou dizendo que a vítima não deveria frequentar o mesmo espaço que ele.

Em outro episódio específico de violência contra raça, um aluno da escola pública quase foi atingido por uma casca de banana atirada em sua direção. O jovem deixava o banheiro quando recebeu o ataque.

Além das ações contra alvos específicos, ataques generalizados também foram proferidos. Os alunos da EMEF foram chamados de “pretos, macacos e pobres”. A fala foi acompanhada por gestos que remetem a macacos.

Em determinado momento da partida de vôlei, os estudantes municipais passaram a gritar “Elisa, Elisa” com objetivo de incentivar o próprio time escolar. Neste momento, tiveram como resposta do oponente: “macaco, macaco”.

Durante o intervalo destinado ao lanche dos estudantes participantes do evento esportivo, na arquibancada da quadra, os alunos da rede privada comentavam em alto tom o fato dos alunos municipais terem levado bananas para a refeição. Expressões ofensivas como “são pobres, só têm bananas para comer” foram proferidas neste momento.

Complementavam ainda: “Agora sim são macacos, estão até comendo banana”. Além disso, os alunos da escola particular cantavam uma “música” com os dizeres “Elisa lixo, Elisa lixo, além de pobres, suas mães não tiveram dinheiro para abortar e nem uma boa escola pagar”.

Trecho vazado da nota de repúdio da EMEF | Foto: Reprodução

Os alunos da EMEF relataram que um pequeno grupo de responsáveis pelos alunos da escola particular presenciaram as ações criminosas e permaneceram inertes diante da situação.

“É necessário que o fato seja objeto de investigação para punição não somente dos que cometeram os criminosos atos, mas, sobretudo da instituição responsável pelos mesmos, e a organização do Jeesp para que situações como essas não se repitam. Atitudes discriminatórias tanto no ambiente escolar quanto no esportivo, como agressões verbais e físicas, ações hostis e desrespeitosas, devem ser coibidas energicamente”, destaca a nota de repúdio produzida pela escola das vítimas.

“O que foi observado diante do apresentado não vai a encontro com proposto na Lei 10639/2003, na qual são obrigatórios mecanismos para educar nas relações inter-raciais. O racismo, segundo a Constituição Federal, é crime inafiançável e imprescritível. A EMEF Profa Elisa Duboc Garcia manterá sua luta para que atos como os descritos acima não se repitam”, continua.

Secretaria da Educação na íntegra

“A Secretaria Municipal Da Educação De Ribeirão Preto lamenta profundamente o ocorrido com os alunos da EMEF Prof.ª Elisa Duboc Garcia, numa partida dos jogos escolares do estado de São Paulo (Jeesp), e repudia veementemente todas as formas de racismo, discriminação e preconceito.

Esclarece que, desde o momento da denúncia, todas as medidas cabíveis foram imediatamente adotadas e encaminhadas ao ministério público, para avaliação de outras providências.

A rede municipal de ensino está comprometida com a promoção da igualdade e do respeito, trabalhando ativamente para combater essas questões através de diversas iniciativas, incluindo a implantação do centro de referência em educação para as relações étnico-raciais, que tem o objetivo de apoiar e contribuir com as ações no desenvolvimento de práticas de conscientização junto às comunidades escolares em razão da discriminação étnico-racial.

No bojo dessas ações, a Secretaria da Educação segue em contato com parceiros que possam nos permitir aprimorar processos pedagógicos que efetivem uma educação antirracista na rede, bem como procedimentos protetivos, de acordo com o que preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e suas atualizações”.

Secretaria Estadual de Esportes

“A Secretaria de Esportes do Estado de São Paulo (Sesp) repudia qualquer tipo de discriminação e indisciplina por parte dos participantes e torcedores dos eventos.

A Sesp está em contato com as instituições envolvidas com objetivo de promover ações de cunho pedagógicos relacionados a temas que incentivem o respeito à diversidade e inclusão, fundamentais ao esporte”.

O Grupo também tentou contato com a instituição privada acusada, mas esta não se manifestou até o fechamento do texto. O espaço segue disponível.

**Colaboração de Valmir Bononi