Professores comentam como foi a prova do Enem neste primeiro dia

Candidatos comparecem a local de prova para a primeira etapa do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022.

Neste domingo (13), 396.632 estudantes realizaram a primeira parte do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), avaliação essa que foi composta por questões de Linguagem, Ciências Humanas e redação. Confira abaixo o comentário de professores especialistas sobre a prova.

Segundo o professor e escritor Gilberto Abreu, o vestibular apresenta evolução. “O Enem inovou na formulação das questões pela transversalidade. Mesmo a ideologização não prejudicou o exame, felizmente. Que continue a ser aprimorado. É o que esperamos”, afirmou.

Para o professor de redação, Sérgio Degrande Jr., do NAU Vestibulares, o tema da redação, “desafios para a valorização de comunidades e povos tradicionais no Brasil” foi bom e mostrou um Enem mantendo a tradição de Enem, que sempre levou os candidatos a se posicionarem em relação a temas que dizem respeito à sociedade brasileira. O fundamental é criar uma situação problema e depois argumentar sobre isso e finalizar com meios para amenizar ou quem sabe, resolver a problemática levantada.

Nesse sentido, o primeiro passo é estabelecer o que a proposta pedia. O que significam povos e comunidades tradicionais? Muita gente pode ter caído nessa cilada, tangenciando o tema, falando apenas, por exemplo, dos povos e das comunidades indígenas. Mas o conceito de povos tradicionais vai muito além, envolve indígenas, quilombolas, extrativistas, ribeirinhos, pomeranos, entre outros.

Cabia aos candidatos entenderem que se tratam de minorias e, como tal, acabam alijados dos mecanismos de ação social e, claro, governamental. Muitas vezes têm os seus direitos suprimidos, suas terras invadidas, sua cultura aviltada e sua dignidade sucumbida. Quais os motivos dessa desigualdade? Quais as consequências? Como a sociedade pode amenizar e buscar soluções para o problema. A situação problema é clara: a constituição exige direitos iguais a todos, no entanto, os brasileiros não agem assim. Essa distorção é a problemática.
Quem possui repertório para debater e discutir esse tema, deu-se bem. Os jornais, as revistas, os sites abordaram a temática, com exaustão, ao longo do ano. Os debates políticos não fugiram à regra. Fez parte do discurso de quase todos os candidatos.

Guilherme Freitas, professor de História, afirmou que a prova apresentou diversas questões interpretativas, envolvendo diferentes matérias em uma única interrogação. “Uma prova mais interpretativa do que os outros anos. O Enem é sempre interpretativo, mas esse ano especialmente. Foi muita associada com a atualidade, com direitos sociais e principalmente sociologia, que foi a matéria mais importante. Foi uma prova boa, bem elaborada e a questão que mais chama atenção é uma que pergunta o que violava o Estado democrático de direito. A resposta certa afirmava que “não reconhecer o resultado de qualquer eleição de representantes políticos”, elogiou o historiador.

Já Marcelo Muller, professor de Literatura, disse que a prova foi bem completa ao abordar os assuntos da área. “A prova de Códigos e Linguagens do Enem deste ano merece apenas elogios. Todas as áreas foram cobradas( Língua Portuguesa, Literatura, Esportes, Tecnologias de Informação, Artes). Diferentemente dos dois últimos anos, retornaram questões de História da Literatura . Mais uma vez fica evidente a importância da leitura de qualidade : perceber a intencionalidade do texto, o público-alvo, o amplo leque de gêneros textuais e as estratégias dos quais dispõe um lusófono para se expressar . Em tempos em que se precisa explicitar que um texto ” contém ironia” , fica evidente que a leitura de qualidade move muitos recursos e instrumentos que são adquiridos ao longo de uma vida de leitura. Também se explicita que a língua absorve preconceitos e valores de seu tempo, contudo essa mesma lingua evolui e é fundamental na desconstrução dos mesmos preconceitos e valores ultrapassados. Uma prova equilibrada que selecionará indubitavelmente os melhores candidatos”, disse.

Para o professor de Filosofia, Álvaro Maia, a prova apresentou questões muito relacionadas à atualidade, muito ligadas à vida digital do dia-a-dia.”Li a prova do Enem agora há pouco. Creio que a comissão que elaborou e escolheu questões para este ano procurou levar em conta que todos os alunos passaram por um ensino médio irregular, fruto das condições de ensino adaptadas às limitações impostas pela pandemia. Os temas privilegiaram questões atuais, sejam ligadas à vida digital do dia-a-dia, como a necessidade de moderação no uso das telas, sejam questões de constante debate nas mídias e redes, como o caso do conflito na Ucrânia. Os autores clássicos, tanto brasileiros, como Machado, quanto estrangeiros, como Hanna Arendt, apareceram em questões que poderiam ser respondidas pela interpretação dos textos, bem ao modelo dos primeiros exames do Enem, ou seja, a prova foi bem menos conteudística do que as antecederam a fase da pandemia. Na redação, o aluno que fixou bem as aulas de geografia e sociologia pôde elaborar um texto com mais conteúdo e melhores fundamentos, mas também o tema esteve muito presente nas redes sociais, com discussões identitárias e de preservação climática, que sempre tangenciaram a necessidade de conservação das culturas tradicionais em seus habitats. Enfim, o aluno que na sua rotina diária foi além do Tik-Tok viu muito da prova aparecer no Instagram e no Youtube”, concluiu o professor.

No próximo domingo (20), a segunda parte da prova será realizada. Nela, os vestibulandos irão responder questões de matemática e de ciência da natureza. As provas possuem 45 questões cada.

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