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Seja 10% mais feliz em 2020

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O título deste artigo eu tomei emprestado da obra de Dan Harris (10% Mais Feliz, Editora Sextante). No livro, o autor – apresentador da TV americana ABC News, conta como foi do estresse absoluto, a ponto de travar numa transmissão ao vivo, à desaceleração.

Sem a menor pretensão de escrever um texto de autoajuda, até porque não aprecio essa temática, mas aproveitado a experiência que hauri nos últimos anos, sobretudo em face de mudanças que acometeram minha vida, e os projetos que venho levando a efeito para fugir das armadilhas que o mundo coloca no caminho dos mortais, resolvi, neste primeiro artigo de 2020, dar algumas sugestões aos leitores para, quem sabe, inspirá-los à busca de um ano mais feliz, ou, se quiserem, menos pesado.

1- Temos o hábito de dizer que o tempo está passando depressa demais, o que torna a vida mais corrida, subtraindo-nos a oportunidade de maior convívio com familiares e amigos, mas eu pergunto: Como você utiliza o seu tempo? Se você é daqueles (las) que passam horas a fio nas redes sociais, não fale em falta de tempo (a não ser que as redes sejam seus instrumentos de trabalho). Somados os minutos de acesso e interação, por certo você ganharia tempo para fazer um esporte, ler um bom livro ou reunir amigos para um café no curso do dia.

Observem que as redes sociais se tornaram palco de intolerância (de toda a ordem), exibicionismo e voyeurismo. Especialistas já atribuem suicídios de jovens às comparações que estabelecem entre a vida deles e ao teatral desempenho dos amigos virtuais, que passam a falsa imagem de gozarem de uma vida perfeita, prazerosa, abastada, isenta de problemas e de dissabores. Ajustar a relação com as redes sociais pode melhorar nossa vida.

2- Outra ferramenta de informação que acelera nosso batimento cardíaco é a de comunicação por mensagens. Num espaço de tempo muito pequeno fomos da carta, passando pelo e-mail, até chegar no whatsapp. O certo é que, ao receber uma mensagem de texto ou de voz no telefone celular, muitos se sentem na obrigação de responder imediatamente. Ora, podem acreditar, não existe lei que nos obrigue a interagir em tempos recordes. É claro que há situações que inspiram gravidade, e nesses casos não tem como relaxar. É inaceitável que numa mesa de jantar com a família ou com amigos nos privemos de uma boa conversa para ficar respondendo as tais mensagens, e hoje essa é uma cena comum em nosso meio. No whatsapp ainda proliferaram “grupos de amigos”.

Esses grupos podem ser interessantes para a troca de mensagens úteis. No mais, é pura perda de tempo. Não substitui o relacionamento olho no olho. Portanto, utilizar essa ferramenta de modo mais racional pode nos ajudar a conter ansiedade e a prestigiar nossos relacionamentos ao vivo, inclusive a voltar a encontrar os amigos do “grupo”, para conversas fiadas e boas risadas.

3- Existem duas categorias de pessoas que podem nos fazer mal: Os chatos e os bajuladores. Eu poderia fazer uma classificação dos chatos, mas receio que isso tomaria todo o espaço que me é concedido para o artigo. Prefiro resumir o ser humano chato como aquele que costumo chamar de “chiclete” (é quase um sequestrador. Mira em você e não dá trégua); aquele que só fala em desgraça (parece que só lê obituário e assiste aos programas sanguinolentos da TV); aquele que fala demais e repetitivamente (do tipo vocacionado para longos monólogos), e ainda  aquele competitivo e prepotente (sabe mais que todo mundo e tudo o que é dele é melhor). Por incrível que pareça, alguns chatos conseguem reunir todas as características mencionadas. Aí é um Deus nos acuda.

Eu sei que não é uma tarefa fácil, porque os chatos estão por todos os lados, mas se pudermos nos afastar deles e da toxidade que eles instilam, nossa vida será bem melhor. Bajuladores, da mesma forma, são pessoas tóxicas. Além disso, perigosas. A mediocridade e a hipocrisia são suas marcas maiores. Estão sempre de olho em favorecimentos pessoais e não têm o menor pudor em lhe causar problemas, se isso for necessário para atingir os próprios interesses. Cuidado com eles.

4- Nos tempos atuais as pessoas estão muito voltadas para si próprias. São egoístas e muitas vezes querem fazer do semelhante um instrumento para viabilizar seus interesses ou alimentar sentimentos menores (ciúme, possessividade, inveja, etc) . Nesse cenário, as pessoas de melhor índole e de boa fé podem sair perdendo. Isso porque procuram evitar conflitos e magoar os semelhantes. É bom saber que todos podem manter sua boa índole e seu espírito pacificador sem se render aos egoístas. A palavra chave é “não”. Nesse mundo onde impera o egocentrismo o sim é o descuido do não. Nosso livre arbítrio deve ser defendido a qualquer custo. Essa defesa intransigente nos trará dias mais satisfatórios.

5- Muitas pessoas se gabam por serem “workaholic”, termo estrangeirista que está na moda e que significa viciado em trabalho. Você conhece algum vício saudável? Acredito que existam vícios prazerosos, mas saudáveis acho difícil. Uma vida mais leve, mais saudável e menos estressante é sinônima de bem estar e demanda equilíbrio. Nem vou falar aqui de alimentação, porque posso ser acusado de exercício ilegal de profissão, mas da descoberta ou redescoberta de prazeres que contribuem para a sensação de bem estar. Um bom livro, de ficção ou de temática diversa, muito acrescenta no nosso dia a dia. Aproveito aqui para recomendar dois, cuja leitura concluí no final de 2019: “Enclausurado”, do excelente Ian McEwan (Companhia das Letras) e “Como as Democracias Morrem”, best-seller de Steven Levitsky e Daniel Ziblatt (Zahar).

O mesmo se diga com relação ao cinema e a música. Nesse início de ano já assisti a pelo menos três filmes que valeram muito a pena: “Dois Papas”, “Ad Astra” e o extra longo “O Irlandês”. Tempo muito bem gasto. De outra parte, decretei a um bom tempo que não deve faltar música em minha casa, em meu carro e em meu ambiente de trabalho. Até o carrancudo Nietzsche dizia que “sem a música a vida seria um erro”. O saudoso Ferreira Gullar, por sua vez, pregava que “a arte existe porque a vida não basta”. Não tenho dúvida de que a arte e a cultura são antídotos para quaisquer sentimentos ruins. Portanto, equilibrar trabalho com atividades prazerosas pode contribuir para contenção da ansiedade, hoje reconhecida como um dos males do século. Viver bem é aproveitar bem o tempo, e aqui concluo com um refrão da música de Sérgio Affonso e Torquato Neto, interpretada pelos Titãs: “só quero saber do que pode dar certo, não tenho tempo a perder”.