USP Ribeirão faz homenagem às vítimas da ditadura militar

O evento, gratuito e aberto ao público, será realizado na quarta-feira (13), às 19h, na Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP

Foto: Evandro Teixeira/ Acervo IMS

Na próxima quarta-feira (13), às 19h, as Faculdades de Direito (FDRP), de Filosofia, Ciências e Letras (FFCLRP) e de Medicina (FMRP), todas da USP, promovem o evento Ditadura nunca mais! Seis décadas do golpe militar de 1964: Homenagem às vítimas da ditadura na USP Ribeirão Preto. Aberto ao público e gratuito, será na FDRP e não é necessária inscrição.

O golpe militar de 1964 completou 60 anos e as faculdades se uniram para homenagear a memória daqueles que foram torturados, perderam a vida ou desapareceram na resistência contra a ditadura militar no Brasil, que durou duas décadas, de 1º de abril de 1964 a 15 de março de 1985.

A professora Cynthia Soares Carneiro, da FDRP, e uma das organizadoras do evento, aponta que “é muito importante não perder essa memória do que nos trouxe até aqui. O Brasil de hoje é uma consequência dos fatos passados, nós somos os efeitos dessas lutas e tragédias. Nós não podemos viver e se comportar como se o mundo começasse a partir do nosso nascimento. Muitas tragédias e lutas aconteceram antes e precisam ser lembradas para que não esqueçamos a consciência do que é o Brasil, o povo brasileiro, o que nós já sofremos, e do que ainda temos que construir para consolidar a democracia”.

Segundo a professora da FFCLRP, Vera Lucia Navarro, também organizadora do evento, relembrar essas histórias contribui para a formação de novas gerações e para a compreensão dos riscos de regimes autoritários. “As pessoas que não conseguem elaborar uma memória social e histórica do próprio país acabam se sujeitando aos aventureiros de plantão e ditatoriais, ou seja, aqueles que vão controlar de maneira brutal a vida das pessoas. Um evento como este é importante para reavivar a memória e para reafirmar que um Brasil ditatorial nunca mais.”

Vera ressalta que as universidades públicas têm um papel cívico, por isso é necessário abordar essas questões, criar referências de luta e resistência às pessoas que pensam que podem criar uma hegemonia ditatorial. “A universidade pública, justamente por ser pública, pertence a todos, portanto, o papel dela é reforçar a democracia, estabelecer ações e forjar a formação de cidadãos livres e democráticos”, afirma.

Para a comunidade interna e externa à USP, é necessário que “as pessoas saibam que a universidade é um espaço para estudar, debater ideias, convivendo com uma pluralidade de pessoas em um ambiente inclusivo onde todas as ideias possam ser debatidas. A comunidade externa tem que reconhecer a importância desses espaços de produção crítica do pensamento e de práticas inclusivas, onde prevaleça essa pluralidade e essa memória precisa existir”, diz Cynthia.

O diretor e professor da FDRP, Nuno Manuel Morgadinho dos Santos Coelho, diz que “estamos abrindo um processo de escuta, colheita e recuperação dessas memórias. O projeto vai ter várias frentes, registros por meio de vídeo, livro, um painel que terá um levantamento de pessoas e depoimentos para se formar um memorial. Todas as pessoas estão convidadas a participar desse processo de escuta, e para aqueles que queiram colaborar com o projeto, podem entrar em contato e apresentar informações.”

O evento contará com a presença de Nilmário Miranda do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania; Amelinha Teles da Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos; professora emérita Clotilde Rossetti da FFCLRP; Gabriel Teixeira da Comissão Camponesa da Verdade; os professores José da Rocha Carvalheiro, João Mazzoncini de Azevedo Marques, Amábile Manço, Marta Edna Holanda Yazile, ambos da FMRP, e Vicente Alessi Filho, conselheiro da Associação Brasileira de Imprensa.

Diplomação na USP

A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP realizou, em agosto, a diplomação de 15 estudantes que foram mortos durante a ditadura militar brasileira. O evento, realizado no Auditório Nicolau Sevcenko, do prédio dos Departamentos de Geografia e História, faz parte da iniciativa Diplomação da Resistência, que prevê conceder diplomas honoríficos de graduação aos 33 estudantes da USP vítimas daquele período.

Resultado de uma parceria entre a Pró-Reitoria de Inclusão e Pertencimento (PRIP), a Pró-Reitoria de Graduação (PRG) e o coletivo de estudantes Vermelhecer, o projeto Diplomação da Resistência é uma forma institucional de reconhecer e reparar as violências, torturas, perseguições, mortes e desaparecimentos ocorridos durante os 21 anos de ditadura. Os homenageados foram selecionados a partir das investigações conduzidas pela Comissão da Verdade da USP, que se dedicou a reconhecer e reparar as injustiças do passado.

Lançado em 15 de dezembro de 2023, o projeto teve como primeiros homenageados os estudantes Alexandre Vannucchi Leme e Ronaldo Queiroz, alunos do Instituto de Geociências (IGc) e militantes do movimento estudantil. Em seguida, foram homenageados os estudantes da FFLCH, da Faculdade de Medicina (FM) e da Escola de Comunicações e Artes (ECA).

Vera diz que a diplomação é importante, pois é uma forma da USP colaborar para a preservação e difusão da memória desse período da história. “Metade das pessoas que estavam na cerimônia tinham cabeças brancas e a outra metade eram jovens estudantes, compondo um público heterogêneo, mas bonito de se ver, pois foi um encontro de gerações. Os discursos e depoimentos foram tocantes, em especial para os familiares e para as vítimas que estavam ali”, aponta a professora.

**Por Jornal da USP