Abel revela como conseguiu reinventar o Palmeiras para ficar perto da taça

Abel Ferreira reiventou o Palmeiras para conquistar o Brasileirão | Foto: Cesar Greco/Palmeiras

O técnico Abel Ferreira explicou como superou a turbulência no Palmeiras para ficar bem perto de mais um título brasileiro.

Abel Ferreira contou o que fez após ser eliminado para o Boca Juniors na Libertadores e acumular maus resultados no Campeonato Brasileiro.

O português disse ao elenco que largaria se o elenco desistisse de brigar pelo título e afirmou que ele e os atletas poderiam se tornar os melhores se conseguissem a remontada contra o líder Botafogo.

O plano funcionou, e o Palmeiras precisa de um empate com o Cruzeiro para ser campeão sem depender de outros resultados na última rodada.

“Quer mesmo saber? Mesmo? Disse duas coisas… Estávamos a 14 pontos. Disse que se eles largassem, eu seria o primeiro a largar. A segunda coisa foi que tínhamos oportunidade de sair daqui eu como melhor treinador e eles como melhores jogadores. Momentos difíceis são para crescer e retornar melhor ainda. Eles entenderam essas palavras.”

Desafios para reinventar o Palmeiras

“Quer mesmo saber? Mesmo? Disse duas coisas… Estávamos a 14 pontos. Disse que se eles largassem, eu seria o primeiro a largar. A segunda coisa foi que tínhamos oportunidade de sair daqui eu como melhor treinador e eles como melhores jogadores. Momentos difíceis são para crescer e retornar melhor ainda. Eles entenderam essas palavras. A 13 pontos, a tendência pode ser achar que não há nada a fazer. Mas temos caráter, identidade, história no clube. No futebol tudo é possível. Foram duas frases. Eles conseguiram entender como equipe e é o que me dá mais orgulho. Olho para a equipe sem criar rótulos. Não conseguem criar rótulos, que joga só de um jeito, um destaque apenas. Vestimos a camisa com muito orgulho. Se os jogadores do Palmeiras tirarem a camisa, vocês sabem quem está jogando. Sem ver o nome, sabem quem é e como jogam. Se olharem para forma de jogar, verão que é o Palmeiras. Conseguimos identidade”.

Fica?

“Pode andar com ele [livro] e seu autógrafo. Entendo a pergunta e o que você quer ouvir da minha parte. Não vou comentar especulações. Sabem como é o futebol brasileiro. O Palmeiras desempenha como desempenha e há especulações sobre jogadores e treinadores. O mais importante é o jogo mais importante do ano de quarta-feira. Queremos carimbar esse título porque nesse momento não somos campeões e queremos muito ser. Se eu defini? Não defini. Tenho contrato, vocês sabem o que passam comigo. É especulação”.

Recado para quem desacreditou

“Vou dizer o que senti hoje. Senti mais o som hoje porque a torcida que fica atrás ficou centralizada. Não sei se é possível fazer, quem puxa, a organizada, estava à frente e senti mais a vibração. Mas dou o parabéns à torcida. Há três tipos de palmeirenses: só acreditam depois de estar, depois de ver, os que acreditam no quase e os que acreditam sempre. Eu acredito sempre. Esse sou eu. Essa equipe sou eu, essa resiliência. Não foi fácil minha chegada. Um jornalista resolveu dizer palavras elogiosas ao meu respeito, mas tenho outros tantos gravados. Eu perdoo, mas não esqueço. A forma como me tratatam, como me ofenderam. E não é de hoje. E não foram só jornalistas, e isso é mais grave. Entidades do futebol brasileiro com responsabilidade. E, portanto, eu perdoo tudo, é assim que eu sou, mas não esqueço. A mensagem para os torcedores é: dificilmente treinarei em outro clube a não ser o Palmeiras. Gosto desse estádio. E já que dizem que sou exigente, chato, né? Esse gramado tem que ser trocado urgentemente. Não quero saber quem vai pagar, WTorre, Palmeiras, mas esse gramado é um risco para lesões e não tem condição. Se eu tivesse no lugar do Diniz, faria o mesmo. Espero que no próximo ano, não sei quem, que troque o gramado e deixem como estava quando cheguei. Atrás de exigência, tem que vir elogio, então agradeço à direção e WTorre pela forma como encontraram solução para jogarmos na nossa casa, nosso chiqueiro. O Palmeiras tem que jogar aqui. Eu só me sinto em casa aqui, os outros lugare são como jogar fora. São elogios e exigências. O gramado tem que ser trocado urgentemente”.

Palmeiras superior contra o Fluminense/ Gramado

“Eu já tinha dito isso. Forma de jogar diferente leva tempo. Os jogadores correm para trás, para o lado, e o Diniz teve tempo para implementar. Trazer ponta do lado contrário para dentro, para perto da bola, e a partir dali fazer ligações. O Fluminense não é só isso. O Fluminense defende e pressiona no tiro de meta, agrupa-se bem na zona 2. Cano não jogou, mas ele volta até a entrada da área e agrupa bem. É característica do Diniz, outra equipe que mesmo sem camiseta daria para ver que é o Diniz. Um dos melhores treinadores, da seleção. Falei por ele por telefone pelas palavras sobre o Clube, sobre o Endrick. O que fez pelo John Kennedy e sabe o papel de ajudar a crescer o jogador, na parte técnica e mental, no crescimento como homens. Agradeço publicamente pelas palavras a mim e ao Palmeiras. Desejo felicidades, vai ter competição que é o Mundial, foram mais competentes que nós. São muitos jogos difíceis contra europeus, que desfrute, jamais esquecerei independentemente de termos perdido. É difícil desfrutar no futebol brasileiro, tem que ganhar sempre, é assim que é a torcida, imprensa, três horas de avião, chegar três ou quatro da manhã. É duro, desgastante. Quem faz o que gosta ganha mais cabelos brancos e pronto, e continua”.

“Não é minha especialidade, mas sou chato, exigente. Queremos melhoras as condições do futebol brasileiro. E urge ter descanso suficiente, mínimo de três dias. E qualidade do gramado. Independentente se é sintético. Esse gramado, se top, é bom. O Palmeiras não consegue ter natural por causa dos shows, entendo a receita. Sou treinador e entendo do fenômeno do futebol, business. Não dá para ter grama natural, e eu prefiro, mas não dá. Mas não podemos ter gramado cheio. Vejam a quantidade de coisinhas do espetáculo da Taylor Swift, bebidas que caíram. Teve ontem, mas teve da Taylor. Se o gramado teve 10 anos de garantia, acho que na Holanda, que jogam de 15 em 15, sem poluição em São Paulo, shows e jogos de São Paulo. Equipe B, outros jogos. Não há garantia de 10 anos. O gramado está ruim, não tem como mais jogar. Se jogar, vai haver lesões. Eu avisei”.

Richard Rios e Zé Rafael

“O Rios é, talvez, o maior reforço do ano. Foi também criticado, como são todos os jogadores daqui, o treinador também. Não digo por todos, mas minoria ruidosa. Quem não tem casca se afeta, e o treinador precisa cumprir esse papel. Breno hoje fez três gols e falhou dois, e as pessoas só olham as falhas. Temos que rotular por que com bola falhou, mas o jogo é muito mais do que faz com bola. Rios aproveitou muito bem a lesão do Gabriel Menino. Tive muitas dores de cabeça. O que faço na esquerda? Quem está sentado no sofá tem solução, fiz isso e aquilo e perdemos. E o problema não estava na direita ou esquerda. Eu sei onde estava o problema, mas não vou dizer. Não fui capaz de fazer isso antecipadamente. O problema do lado esquerdo foi difícil de resolver. Artur, as melhores funções que tentei. E é o que faço desde que cheguei: arrumar solução para tudo. A base ajudou muito, mesmo que não sejam titulares, como Fabinho, Vanderlan, Endrick passou período menos turbulento e está em fase muito boa e nós compreendemos onde pode jogar melhor, um conhecimento mútuo. Todos têm altos e baixos, alguns jogadores tiveram momentos difíceis e recuperaram, como Gómez, Veiga e Zé. Se todos estiverem no top, são muito competitivos. O que mais me orgulha é que lutamos sempre por todas as competições. Podem dizer o que quiserem, mas a maior vitória é chegar nas decisões. Trabalhamos muito e a bola não entra por acaso”.

Mudanças de jogadores e parte mental

“Os lesionados foram graves. Dudu, Menino e Atuesta. Outro jogador que gosto muito, que temos que dar tempo para crescer. São jogadores que contamos. Não mudei minha forma de jogar. Continuamos com saída a três, largura do lado direito ou esquerdo, pelo lateral ou ponta. Fico muito contente por que não conseguem descobrir como o Palmeiras joga. É uma equipe camaleônica. Joga conforme o jogo. Fomos atrás do empate contra o Fortaleza de forma espetacular, trabalho técnico como equipe muito bom. Vocês olham muito para o esquema tático, mas conta muito mais dinâmica e comportamento. Quando quiserem ver o sistema, no apito do árbitro olha e vocês veem logo. É o momento que podem ver o sistema, mas depois tem dinâmica, uns andam para dentro e outros para trás. Havia três espaços no lado esquerdo para ocupar, largura, espaço posicional e entrelinhas. Piquerez como lateral, meio interior, defesa… Fiquem pelo esquema e vocês conseguem avaliar. É o vosso trabalho e não quero me meter. São muitos clientes, fãs, páginas. Escrevam o melhor, mas não mudamos a forma de jogar, mudamos características. Rony, Artur, Luan de zagueiro, Rocha, Mayke na saída de três… São características. Faço o que acredito e sou capaz de ouvir todas as críticas. Quem faz a cama e me deito sou eu. Ganho e perco com as minhas ideias, não com os outros. Vou contar uma história: com 18 anos, sempre gostei de conduzir, competição sempre foi meu negócio. Olhava sempre para o retrovisor, quem vem à direita e esquerda. Perdi a primeira corrida, vi o mecânico e mandei tirar o retrovisor, só quero olhar para frente. Aqui olham muito para o retrovisor, o que dizem, pensam os outros. Há várias formas de ganhar, do Diniz, do Abel, do Dorival, Tite… É mais por isso”.

Última vez hoje. Pensou nisso?

“Vocês sabem que falo sempre, e não é de hoje, e não é conversa jogada fora. Vivo aqui e agora, digo isso sempre aos meus jogadores. Vamos desfrutar da jornada, dessa viagem que começou há três anos e qualquer coisa. Quando cheguei, ninguém sabia quem era esse treinador. Não sabiam dos brasileiros, mas na Europa muitos conheciam. Com todas as dificuldades desse período, coisas boas, estrutura, jogadores, comissão. O Palmeiras dificilmente… Tenho dúvidas se no futuro eu irei treinar um clube tão organizado como esse, com tantas condições, que reconheça tanto o treinador e cumpra as obrigações como esse. Falou-se muito sobre as contratações, investimento. Sempre disse que era para não contratar ninguém se faltará dinheiro para nossos funcionários e jogadores. Meu pai sempre disse para gastar o que tem. Se buscar jogador e faltar dinheiro, vou com meus jogadores para a guerra. Para esses não pode faltar nada. Há coisas que devem ser cumpridas em contrato, e eu tenho contrato. É desfrutar da jornada. Há paz no CT que deixa funcionários e jogadores trabalharem. Dificilmente vou encontrar um clube com todos os recursos humanos. Em 2016 ou 2017 já tinha, perguntei ao Cicero. Já tinha antes. Está respondida sua pergunta”.

Público no Mineirão e tribunal

“Esse tribunal já me puniu e passou pano a outros? Muito obrigado. Instituição com muita responsabilidade. Foi o jornalista que disse, que eu não. Eu queria dizer isso, mas não tive coragem e posso ser punido [risos]. É focar naquilo que controlamos. Esse cenário não sou eu que decido, não é minha função e responsabilidade. Já tenho responsabilidade, cabelo acabando e preciso de um transplante. Vou ter que esperar. Não é isso que controlo. Preciso preparar meus jogadores. Respeitamos o jogo, fizemos um grande jogo contra grande adversário. Falhamos muitos gols. Tenho que ter coração forte porque perdemos muitos gols, não podemos. Tenho dúvidas sobre o gol do Breno, acho que a bola não está fora. O assistente em diagonal não consegue ver. Tem que ter câmera suficiente para ver se a bola está fora ou não. Está em disputa um título, isso é sério. Envolve muita gente, dinheiro, credibilidade. O gol é válido, limpo, é minha opinião. Entendo o VAR, o que o quarto árbitro disse. Se imagens não são claras, vale a decisão do árbitro. Isso não pode acontecer”.

Desafios

“Vocês sabem quem saiu no início do ano. Kuscevic, Jorge, Danilo, Merentiel. Deixamos sair o Merentiel porque alteraram o regulamento depois de ter começado. Scarpa… 10 ou 11 jogadores de início e fomos buscar dois jogadores. Compramos Artur e Richard Rios. Todos os outros vieram da base. Ponto final. Nunca na história do Palmeiras se apostou todo na base, se arriscou tanto. Com o trabalho de todos, conseguimos estar em quase todas as finais. É a minha maior alegria. Arranjar soluçõe, fazer das tripas coração. Se o time tirar a camisa, sabemos que o Palmeiras joga. É uma identidade. Todos são responsáveis por tudo. Quando Veiga perde um pênalti, perdemos todos. Weverton comete um frango, todos erram, todos acertam. É minha filosofia de vida e de futebol. Sou contra rótulos e heróis e vilões. Vivemos como um todo na sociedade. Deixam o ego em casa, não adianta só o talento. Tem que ter caráter. Eu troco o talento pelo caráter. Prefiro um jogador menos talentoso com caráter do que um muito talentoso como uma palmeira. A palmeira seca tudo que há em volta. Todos somos um e todos responsáveis por tudo. É o que mais me enche de orgulho. Os títulos avalizam meu trabalho, se eu não ganhar me mandam embora. É muito difícil ser treinador aqui, quantos portugueses passaram aqui. Se virem a história de todos, de todas as nacionalidades, verão. Dou parabéns para a minha rapaziada, gente de caráter. Parabéns à direção, disse isso para a Leila no começo do ano quando falaram que o Barros ia embora. Se ele fosse, eu iria também. É uma pessoa absolutamente extraordinária. Sei que alguns ficarão chateados, mas é o melhor diretor que eu trabalhei. Anderson Barros”.

Abel, você está no muro… Vai sair ou não?

“Vocês viram as informações do Gómez. Onde está o Gómez? Alguém se lembra da primeira Libertadores? Falei que ia parar e refletir. Ganhamos contra o Flamengo e eu disse que estou de saco cheio. Não é mentira. Viagens, jogos de três em três dias, instituições insinuando que nosso time tem isso ou aquilo. É fácil? São três anos. Todos os anos, e digo de verdade, eu chego no final e tenho relatório pronto do que pedi no ano anterior, do que aconteceu, do que ganhamos e perdemos. E o que penso que será o futuro. Esse relatório está pronto a ser entregue quando acabar o Brasileirão. Preciso descansar, é muito desgastante. Eu não sou ingrato, preciso dizer isso”.

FLAVIO LATIF E LUCAS MUSETTI PERAZOLLI / Folhapress

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