SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O atentado a tiros contra José Aprígio da Silva (Podemos), 72, então candidato à reeleição para a Prefeitura de Taboão da Serra (SP), ocorrido em 18 de outubro de 2024, em meio à campanha, foi forjado, de acordo com a Polícia Civil.
Segundo as autoridades, a falsa tentativa de homicídio foi uma fraude montada para que Aprígio conseguisse destaque e, consequentemente, a reeleição. O político perdeu o pleito para o Engenheiro Daniel (então na União Brasil).
A defesa de Aprígio nega as acusações e diz que ele é inocente.
A Polícia Civil e o Ministério Público deflagraram a Operação Fato Oculto, na manhã desta segunda, para cumprir dois mandados de prisão preventiva e dez mandados de busca e apreensão.
A operação prendeu temporariamente duas pessoas, incluindo o irmão de Aprígio.
Os agentes estiveram na casa de três ex-secretários municipais: José Vanderlei Santos, ex-secretário de Transportes; Ricardo Rezende Garcia, ex-secretário de Obras; e Valdemar Aprígio, ex-secretário e irmão do ex-prefeito, que foi preso preventivamente por portar uma arma sem documentação.
As defesas dos secretários não foram localizadas até a publicação deste texto.
A investigação aponta que os secretários do ex-prefeito fizeram contato com dois homens, Anderson da Silva Moura, conhecido como “Gordão”, e Clovis Reis de Oliveira para realizar o atentado.
O advogado de Anderson, Ramalho Nolasco, esteve na delegacia na manhã desta segunda para prestar esclarecimentos. Ele afirma que o cliente não tem nenhuma relação com o caso, nem com os secretários e nem com o ex-prefeito.
Clovis está foragido. O filho dele foi encontrado na casa de Clovis e encaminhado para a delegacia.
Nas buscas e apreensões desta segunda foram coletadas armas, munições, celulares e computadores dos investigados. Uma das buscas aconteceu na casa do ex-prefeito, onde foram encontrados R$ 320 mil em espécie.
“José Aprígio é vítima”, afirmou o advogado Allan Mohamed. “Ele sofreu um tiro com armamento pesado em outubro de 2024 que, por sorte, não ceifou a sua vida”, completou o responsável pela defesa do ex-prefeito de Taboão.
“Estamos surpresos com o desdobramento, com a forma como aconteceu”, afirmou ele que alega que Aprígio é a vítima e o caso é “uma inversão”. O advogado não comentou a investigação sobre o atentado forjado e afirmou ainda que não teve acesso aos autos, uma vez que a investigação está em sigilo.
O delegado Hélio Bressan, à frente da Seccional de Taboão da Serra, disse que a partir da delação uma série de indícios levantaram a hipótese de que o caso se tratava de uma fraude. Entre eles, o fato de que, no dia do atentado, Aprigio esteve por diversas vezes em locais abertos.
Segundo ele, não faz sentido que os criminosos tenham esperado até o momento que o ex-prefeito estivesse dentro do carro para cometer o crime.
A polícia afirma que, até o momento, não há provas concretas de que o ex-prefeito soubesse da fraude. Também diz que ainda não há provas de que às pessoas que estavam dentro do carro soubessem do plano.
Porém, o órgão cita que o comportamento dessas pessoas foi estranho. Isso porque, logo após a troca de tiros, a equipe de Aprigio passou a filmar os ferimentos do político.
No dia do crime, foi usado um fuzil AK-47 e a polícia acredita que o armamento foi escolhido para tornar o crime mais crível. Também afirma que o plano pode ter falhado durante o ataque.
A hipótese que a polícia trabalha é que o atirador estava em um carro e iria disparar em algumas partes do veículo do ex-prefeito, mas sem atingir o candidato.
Porém, ainda de acordo com essa tese, os criminosos tiveram problemas com a arma durante o atentado. Neste momento, o atirador teria usado o fuzil para alvejar o carro do ex-prefeito.
Os investigadores também afirmam que a delação premiada apontou que, ao todo, os criminosos teriam recebido R$ 500 mil de recompensa pela participação no atentado forjado, mas o valor ainda está sob investigação.
Segundo a prefeitura do município da Grande São Paulo, à época, o então prefeito havia visitado bairros atingidos por chuvas e foi atingido por um disparo no ombro, dentro do carro oficial blindado, enquanto voltava para a prefeitura.
Ele foi socorrido ensanguentado e levado ao Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Aprígio disputava o segundo turno em Taboão da Serra contra o candidato Engenheiro Daniel, que terminou a primeira rodada da eleição municipal com 48,98% dos votos válidos. Aprígio obteve 25,93% dos votos. No segundo turno, Engenheiro Daniel foi eleito com 66,27% dos votos.
Na eleição de 2020, os dois também foram ao segundo turno juntos. Na ocasião, Aprígio venceu de virada e com uma margem apertada: apenas 1.700 votos a mais que o adversário, em um universo de 153 mil eleitores.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública de São Paulo, o carro onde estava o então prefeito, um Jeep Renegade, transitava pela rodovia Régis Bittencourt, no sentido Curitiba, quando um veículo Kwid na cor vermelha emparelhou e efetuou diversos disparos. Além do motorista, também estavam no veículo um videomaker e outro funcionário da prefeitura, mas eles não foram atingidos.
Em entrevista a jornalistas nesta segunda-feira, o atual prefeito Engenheiro Daniel disse que sabia que a verdade apareceria. “Eu não tinha dúvidas. Tinha certeza absoluta que se tratava de um atentado forjado”, afirmou.
O prefeito relembra que, após o atentado à Aprigio, recebeu constantes ataques e disse que seus filhos não foram à escola em meio à polêmica.
Ele também disse que evitava sair de casa com medo de agressões verbais que poderiam ser feitas. “Eu tinha que pedir para algumas pessoas irem ao mercado para comprar uma mistura, alguma coisa, porque não tinha condição de sair de casa.”
Agora, ele afirma que está feliz com o desfecho, mas lamenta que a cidade ocupe o noticiário com uma história negativa. “Espero que Taboão seja um exemplo de como não se deve disputar uma eleição”, afirmou.
Na época do atentado, a polícia encontrou um carro carbonizado na região do Rodoanel que teria sido utilizado no falso ataque a Aprígio, segundo a polícia.
Ele ficou internado até o dia 26 de outubro. No dia seguinte, chorou ao votar no segundo turno.
Aprígio é empresário e nasceu no interior de Alagoas, na cidade de Minador do Negrão. Casado há 46 anos, é pai de quatro filhas e tem cinco netos.
Ele foi servente de pedreiro e fundou, em 1996, a Cooperativa Habitacional Vida Nova, que atua na área de construção civil. O grupo tem 10 empreendimentos habitacionais construídos em 51 torres, um centro empresarial com hotel, 384 salas comerciais e um shopping, o Taboão Plaza Outlet, inaugurado em 2016.
Na trajetória política, foi eleito vereador em 2004 e reeleito no pleito seguinte. Não obteve sucesso ao se candidatar a prefeito em 2012 e em 2016. Em 2014, tentou ser deputado federal, mas ficou como suplente. Em 2018, foi eleito deputado estadual.
FRANCISCO LIMA NETO E ISABELLA MENON / Folhapress