RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – A cidade do Rio de Janeiro atingiu nesta segunda-feira (17) o nível 4 de calor (NC4) pela primeira vez desde a implementação do protocolo municipal para temperaturas extremas, em junho do ano passado.
O alerta foi acionado às 12h35, quando a sensação térmica ultrapassou os 40°C, com previsão de manutenção ou aumento do calor pelos próximos três dias.
O município registrou o dia mais quente do verão com a temperatura máxima de 41,3°C. A expectativa é que o recorde seja ultrapassado nesta terça, quando há previsão de que os termômetros cheguem a 42 °C.
Diante do calor extremo, a prefeitura anunciou a abertura de 58 pontos de resfriamento -que são áreas do município refrigeradas ou com sombras- em parques, vilas olímpicas, Naves do Conhecimento e unidades de saúde, onde a população pode buscar alívio.
Apesar da abertura de pontos de resfriamento pela prefeitura, o movimento nesses locais foi discreto. Nas ruas, a circulação de pedestres também foi menor que o habitual.
Quem precisou sair de casa buscou refúgio em estabelecimentos climatizados, como shoppings, mercados e bancos. A aposentada Marli Vieira, 68, passou a tarde dentro de um supermercado na Tijuca para escapar do calor. “Vim comprar umas frutas e resolvi dar uma volta para aproveitar o ar-condicionado. Na minha casa não tem, e está insuportável”, disse.
Embora as praias costumem ser refúgio nos dias quentes, o movimento foi fraco ao longo da tarde na Praia do Recreio, na zona oeste do Rio. A maioria dos banhistas chegou cedo e deixou a areia antes do sol atingir seu pico. “Nem dá para ficar depois das 10h, a areia está fervendo”, contou a corretora Raquel Lima, 34.
Alguns ambulantes também optaram por ir embora mais cedo que o de costume. “Não vale a pena. A gente fica torrando no sol, e a movimentação tá fraca”, afirmou Marcos de Oliveira, 39, que vende acessórios de moda praia.
Os que se arriscaram a circular pelas ruas carregavam garrafinhas de água e procuravam se refrescar como podiam. A estudante Carolina Menezes, 22, contou que precisou molhar a roupa para suportar a caminhada até a faculdade. “Já saí de casa com a blusa molhada, porque sei que vou suar muito no caminho. Também trouxe duas garrafas de água para aguentar”, disse.
Entre as recomendações das autoridades sanitárias estão o aumento da ingestão de líquidos, preferência por roupas leves e frescas, além da redução da exposição ao sol entre 10h e 16h.
Nas escolas municipais, aulas de educação física devem ser transferidas para espaços cobertos. A Secretaria Municipal de Educação disse ainda que orientou que as equipes escolares incentivem a ingestão de líquidos pelos alunos com maior frequência.
Com a cidade em nível 4 de calor, há possibilidade de suspensão de eventos se medidas de adaptação não forem adotadas pelos produtores.
A prefeitura orienta ainda que funcionários que trabalham expostos ao sol tenham paradas constantes para hidratação.
A Secretaria Municipal de Assistência Social disse que os 14 Centros de Referência Especializados de Assistência Social da cidade estão preparadas para receber pessoas em situação de rua, oferecendo banhos e hidratação. “Além disso, as equipes de abordagem social atuam 24 horas por dia em toda a cidade”, informou a pasta.
A Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) montou uma ação para servir água gelada e de graça em locais de grande circulação na cidade.
A Frota de Hidratação da Cedae começou às 16h desta segunda-feira no centro do Rio, com bicicletas e kombi em pontos da Central do Brasil (Terminais Procópio Ferreira e Américo Fontenelle) e da avenida Presidente Vargas (Metrô Cidade Nova).
A partir de amanhã, a ação será expandida para Bangu, Irajá, Madureira, Cinelândia e Praça XV, das 8h às 19h, até sexta-feira (21).
A previsão indica que o calor intenso deve persistir. Na terça-feira (18), os termômetros podem chegar a 42°C, e, na quarta (19), a máxima prevista é de 41°C. Não há expectativa de chuva para os próximos dias.
O protocolo de calor extremo do Rio foi criado para orientar ações do poder público e da população diante de ondas de calor. O nível 4 é o segundo mais alto da escala, que pode chegar ao NC5, e significa um risco ampliado de impactos na saúde, principalmente para idosos, crianças e pessoas com comorbidades.
Em meio ao calorão, moradores de 37 bairros da zona norte do Rio estão sem fornecimento de água por conta de um reparo emergencial realizado em uma adutora, em Benfica.
Segundo a concessionária Águas do Rio, o serviço foi suspenso na tarde de domingo (16), e equipes atuam para concluir o reparo até o final da noite desta segunda-feira. A empresa informou ainda que, após a conclusão do serviço, o abastecimento será retomado de forma gradual, com normalização prevista em até 72 horas.
A onda de calor que atinge o Rio faz parte de um fenômeno climático mais amplo, que tem provocado temperaturas recordes em diversas cidades do país. Meteorologistas apontam que esse cenário pode se repetir nos próximos anos devido ao agravamento das mudanças climáticas.
De acordo com a prefeitura, casos de desidratação, mal-estar e até desmaios relacionados ao calor vêm sendo registrados nos últimos dias. A Secretaria Municipal de Saúde reforçou o atendimento nas unidades emergenciais e recomenda que, em caso de sintomas como tontura, fraqueza ou dor de cabeça intensa, as pessoas procurem assistência médica.
A Defesa Civil alertou para o risco de incêndios em áreas de vegetação devido ao tempo seco e pede que a população evite o descarte de materiais inflamáveis em locais abertos.
Os índices do protocolo da prefeitura do Rio sobre as ondas de calor na cidade avaliam não só os termômetros, mas também a incidência de raios ultravioleta e a duração, em dias, das altas temperaturas.
A criação da protocolo foi impulsionada pela morte de uma fã da cantora Taylor Swift, em novembro de 2023, no Rio de Janeiro. A universitária Ana Clara Benevides Machado, de 23 anos, morreu após passar mal durante a primeira apresentação. O laudo de necropsia apontou que a jovem teve uma exaustão térmica causada pelo calor.
O segundo show de Taylor Swift no Rio foi adiado por causa das altas temperaturas.
CONHEÇA OS NÍVEIS DE CALOR NO RIO
Nível 1 – Não há previsão de altos índices de calor – Sem impactos na rotina da cidade
Nível 2 – Calor de 36°C a 40°C por um ou dois dias consecutivos – Sem impactos na rotina. Prefeitura dá informações sobre os sintomas de exposição ao calor e orienta a população com o apoio técnico da Secretaria de Saúde.
Nível 3 – Calor de 36°C a 40°C com previsão de permanência ou aumento por, ao menos, três dias consecutivos – Sem impactos na rotina. Prefeitura faz reforço das orientações em site, aplicativo, redes sociais, mobiliário urbano, além de comunicação direta aos veículos de comunicação e imprensa
Nível 4 – Calor de 40°C a 44°C com previsão de permanência ou aumento por, ao menos, três dias consecutivos
– Indicação de equipamentos públicos já existentes com ar-condicionado ou refrigeração para servirem como pontos de resfriamento;
– Amplia a oferta de estações de hidratação ou distribuição de água em locais de acolhimento das populações mais vulneráveis;
– Possibilidade de cancelamento ou reagendamento de eventos de médio e grande porte, megaeventos em áreas externas, caso estes não se ajustem;
– Possível suspensão de atividades realizadas em áreas externas para transferência para espaços sombreados ou internos
Nível 5 – Calor extremo (acima de 44°C) com previsão de permanência ou aumento por, ao menos, três dias consecutivos
– Abertura de unidades municipais para serem utilizadas como pontos de resfriamento;
– Possibilidade de reagendamento de eventos de médio e grande porte;
– Possibilidade de suspensão de atividades ao ar livre em escolas;
– Possibilidade de suspensão de trabalhos ou atividades esportivas ao ar livre
_Fonte: Centro de Operações e Resiliência do Rio de Janeiro_
ALÉXIA SOUSA / Folhapress
