Barroso diz que ‘derrotamos o bolsonarismo’, e aliados de Bolsonaro pedem impeachment

SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), foi vaiado por um grupo de estudantes durante a abertura do 59° Congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) nesta quarta (12), em Brasília, e respondeu citando o bolsonarismo, a luta contra a ditadura militar (1964-1985) e a defesa da democracia.

Após afirmar que “nós derrotamos o bolsonarismo”, Barroso provocou reações de deputados aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que falaram em pedir o impeachment do magistrado.

O desgaste levou o STF a divulgar uma nota nesta quinta (13) dizendo que, “como se extrai claramente do contexto”, a fala de Barroso “referia-se ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição”.

No evento da UNE, Barroso afirmou que estar no local significava reencontrar o próprio passado de enfrentamento ao autoritarismo e à intolerância.

“Só ditadura fecha Congresso, só ditadura cassa mandatos, só ditadura cria censura, só ditadura tem presos políticos”, disse em um dos trechos em que o discurso não foi abafado pelo som das vaias. “Nós percorremos um longo caminho para que as pessoas pudessem se manifestar de qualquer maneira que quisessem.”

Diante do protesto dos estudantes, o ministro defendeu o direito às manifestações e afirmou que “gritar ao invés de ouvir” e não colocar os argumentos na mesa é bolsonarismo.

“Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, afirmou.

“Esse é o passado recente do qual estamos tentando nos livrar”, acrescentou o ministro do STF, que acumula um histórico de polêmicas com aliados de Bolsonaro, incluindo a frase “perdeu mané, não amola”, após ser hostilizado em Nova York.

As novas referências de Barroso ao bolsonarismo resultaram em críticas de aliados de Jair Bolsonaro (PL). O deputado Carlos Jordy (PL-RJ) afirmou que a oposição entrará com processo de impeachment contra o magistrado “por cometer crime de ‘exercer atividade político-partidária'”.

“Se, por um milagre, houver justiça nesse país, a perda do cargo é inegável”, afirmou o deputado Nikolas Ferreira (PL-RJ).

No evento da UNE, a manifestação contra Barroso foi organizada pelo grupo Faísca Revolucionária, que faz oposição à direção da entidade e é formado por estudantes trotskistas ligados ao MRT (Movimento Revolucionário de Trabalhadores).

Eles levaram uma faixa em que chamam o ministro de “inimigo da enfermagem e articulador do golpe de 2016”. Os estudantes também carregaram cartazes em defesa do piso.

“Não nos aliamos àqueles que nos atacam e não aceitamos que a majoritária da UNE esteja junto com a direita, com quem ataca os trabalhadores, os povos indígenas e os estudantes”, diz manifesto da corrente. “É fundamental batalhar por uma UNE independente do governo de frente ampla e do regime.”

Em setembro do ano passado, Barroso suspendeu o valor mínimo para a enfermagem. No dia 15 de maio, no entanto, ele restabeleceu o piso salarial. A decisão foi tomada após o governo Lula (PT) publicar projeto de lei aprovado pelo Congresso que libera R$ 7,3 bilhões para o custeio da medida.

Segundo a direção da UNE, foi a primeira vez, desde a redemocratização, que o congresso da entidade recebeu um ministro do STF.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, também participou da abertura do evento e defendeu o combate à desigualdade social, o enfrentamento ao poder das grandes empresas de tecnologia que “veiculam extremismo e ódio” e a consolidação da democracia.

“A democracia ainda está em risco e temos que prosseguir na mobilização social. Mantenham a união popular contra o fascismo no Brasil”, disse.

Lula vai participar do congresso nesta quinta (13), a partir das 18h, horário em que está marcado um ato político em defesa das universidades. Estão previstas também as presenças dos ministros Márcio Macêdo (Secretaria-Geral da Presidência), Luciana Santos (Ciência e Tecnologia) e do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica.

CRISTINA CAMARGO / Folhapress

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