Beatriz Tavares quase abandonou remo e hoje briga por primeira vaga olímpica

RIO DE JANEIRO, RJ (UOL/FOLHAPRESS) – Beatriz Tavares chegou a pensar que não voltaria a remar diante de alguns percalços, e “tocou a vida”. Agora, porém, vive a ansiedade para conquistar vaga nos Jogos Olímpicos pela primeira vez na carreira.

Prata no Pan-Americano de Santiago no skiff simples, a atleta do Botafogo vai disputar o Pré-Olímpico entre os dias 14 e 16, na Lagoa Rodrigo de Freitas, palco dos treinamentos diários.

“As expectativas são as melhores, tenho me sentido bastante preparada. Eu estou bem ansiosa porque remo há bastante tempo, já tive a oportunidade [de estar nas Olímpiadas] e acabou que não deu certo. A expectativa de entrar nos Jogos é muito grande justamente por isso, são muitos anos de dedicação”, diz Beatriz.

Atualmente, Bia concilia os treinos com as aulas da faculdade de nutrição. O diploma, inclusive, está próximo. Outrora, a relação dela com os alimentos foi bem diferente.

A PRIMEIRA LUTA

Na juventude, ela foi a primeira brasileira a chegar na final do Mundial Júnior, mas, ao mesmo tempo, convivia com transtornos alimentares como a bulimia nervosa.

“É um assunto que tem de ser falado, mas é muito difícil falar enquanto você está nele, vivendo aqueles momentos de gatilho e compulsão. E a gente não se cura, convive e aprende a lidar com essas situações. E fazer a faculdade de nutrição me ajudou e tem me ajudado muito, porque conhecimento traz clareza”, conta.

Bia chegou a desmaiar antes do Mundial de Amsterdã, que foi disputado em 2014. Em meio a essa disputa interna, também teve depressão. “Até eu conseguir perceber que tinha um problema, demorou. Eu me escondi. As pessoas que tentaram se aproximar, eu negava, e isso se arrastou por muito tempo. O ideal, para qualquer pessoa, é procurar ajuda o mais rapidamente possível porque a situação sempre vai se agravar”.

O PERÍODO LONGE DAS ÁGUAS

Beatriz ficou quatro anos longe das águas, consequência de um teste positivo em exame antidoping. A substância estava em um remédio ginecológico do qual ela fazia uso à época. A remadora voltou em 2019, mas ainda com diversas incertezas e dúvidas sobre o futuro.

“Eu não podia remar, eu fiquei afastada do remo e eu nunca pensei que pudesse votar a remar. Essa é a verdade. Toquei a minha vida e esqueci o remo. Fui estudar, fazer outras coisas. Só pensei em voltar a remar quando a minha suspensão estava acabando. E quando voltei, não fazia ideia do que poderia acontecer comigo dentro do esporte. Só fui vivendo a cada dia”, conta. “A palavra mais forte na minha cabeça foi ‘paciência’. Eu tive muita paciência com o processo de voltar, voltar a evoluir, descobrir coisas novas.”

A VOLTA

Com o fim da suspensão, Bia procurou o Flamengo, clube onde remava, mas logo passou a vestir alvinegro. Mas o que a fez voltar?

“Não sei dizer. Eu só voltei. Eu sempre gostei de remar, gosto de sentir o barco deslizando na água. Voltei para ter essa sensação de prazer de novo. E também fui descobrindo uma nova Bia em relação a comprometimento. Eu descobri o prazer de treinar no último ano de júnior, voltei e continuei sendo essa Bia”, diz.

Quando fala em uma “nova Bia”, a remadora aponta outras mudanças que vão além do uniforme que vestia.

“Tem a Bia antes da suspensão e pós-suspensão. Vivi períodos muito confinados, do treino para casa e neste ritmo repetitivo. Tem de existir uma rotina regrada mas a gente precisa de coisas que façam a nossa cabeça descansar. Entendi que precisa ter mais momentos de descontração. nesta terça-feira (12) levo o esporte em um ritmo de que preciso aproveitar a caminhada. Se eu não estiver curtindo, estou levando uma bola de ferro para a minha vida toda”, afirma.

PRATA NO PAN

O retorno ao esporte foi já em meio ao ciclo para o Pan-Americano de Santiago, disputado no ano passado. Beatriz conquistou a prata no single skiff feminino. Ela está em um cartaz no CT do Botafogo, ao lado de Lucas Verthein, que também é atleta do Glorioso e ganhou o ouro no single skiff.

“Eu fui ganhando muita confiança durante a competição. Um dia antes da final eu dei uma entrevista em que eu falei que poderia ganhar. Eu fui com essa cabeça. E tinha noção que minha adversária era muito experiente e isso fez diferença. Mas essa medalha reapresenta bastante coisa”, disse.

APOIO FAMILIAR

Na postagem em rede social feita para celebrar a prata no Pan, Beatriz falou que a mãe era o alicerce dela. O apoio familiar, inclusive, acompanhou a trajetória da remadora no esporte.

“Meu pai incentivou a prática esportiva e me apresentou ao remo. Minha avó me levava aos treinos, ficava lá sentadinha, e, depois, me levava para casa. E minha mãe sempre esteve apoiando de várias formas, tanto quando eu era mais nova como agora, já mais velha. Ela fez muita coisa. Já passei período sem receber salário e ela ajudou, essas coisas. Meu irmão e meu tio sempre estendem a mão também. Então, tenho essa rede de apoio muito boa”, ressalta.

SELEÇÃO BRASILEIRA

A equipe brasileira no pré-olímpico será composta por seis atletas, que vão competir em quatro provas: Lucas Verthein (single skiff masculino); Beatriz Tavares (single skiff feminino); Evaldo Becker e Piedro Tuchtenhagen (double skiff peso leve masculino); Isabelle Falck e Manu Abreu (double skiff peso leve feminino).

ALEXANDRE ARAUJO / Folhapress

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