‘Better Man’ empolga ao retratar Robbie Williams enquanto chimpanzé

FOLHAPRESS – Imagine um Harry Styles do mal. Não se economize, pode incluir muita malcriação, drogas, bebidas, um empresário malvado, fãs enlouquecidas, namoro conturbado e até um desafio público para uma luta com um dos irmãos Gallagher, do Oasis. Enfim, todos os excessos possíveis a que um pop star tem acesso, mas não só.

O humor inglês autodepreciativo não pode faltar, e tem que estar misturado à uma síndrome do impostor e aquela depressão típica de quem quer muito, consegue tudo e aí deixa de achar graça do que conseguiu.

Pode botar até os grandes estereótipos de personagens masculinos que carregam traumas: pai ausente, mãe superprotetora e uma avó semi santa que parece ser a única pessoa a vê-lo de verdade. Infância pobre, bullying, falta de talento para os esportes e a certeza de que só se tornando muito famoso a vida faria sentido.

Estes poderiam ser os três parágrafos iniciais de um perfil do cantor Robbie Williams, 51, ex-integrante da boy band Take That que fez uma carreira solo ultra bem sucedida na Europa. Ele nunca “pegou” exatamente aqui no Brasil, mas pode ter certeza que você sabe cantar no mínimo umas quatro músicas dele, mesmo que nunca tenha ligado o nome ao refrão.

Mas a verdade é que a trajetória do cantor biografado em “Better Man: A História de Robbie Williams” é o que menos importa aqui. A maneira como o diretor Michael Gracey, de “O Rei do Show”, com Hugh Jackman, e que atuou como produtor de “Rocketman”, a cinebiografia de Elton John —uma das melhores entre as mais recentes – é o que faz deste um filme especial.

E essa é uma cinebiografia autorizada, Robbie Williams é não só produtor como narrador do filme. Foi numa conversa inicial entre ele e o diretor que surgiu a ideia do protagonista ser um chimpanzé criado por efeitos especiais. Williams disse que era como se enxergava quando entrava no palco no auge do sucesso da boy band em que ingressou aos 15 anos.

Não há menção a isso no longa-metragem de 2 horas e 15 minutos, é quase como se o fato dele ser um macaco fosse um pacto secreto com o espectador, e os outros personagens nem percebessem essa aberração.

O chimpanzé do filme, todo criado por CGI, passa por todas as fases da vida de Williams, desde que é um pequeno macaquinho de cinco anos que tomava banho de banheira com a ajuda da avó, passando pela estranheza da adolescência à inevitável fase do cabelo descolorido e da roupa toda de couro.

Não é para ser realista, mas é tão bem realizado que acaba provocando um efeito hipnótico que ao mesmo tempo aproxima e afasta o espectador do protagonista. E a vida do Robbie Williams símio é narrada pelo Robbie Williams humano, e ele é detestável em vários momentos, o que colabora ainda mais para esse jogo de puxa e empurra com o espectador, afinal se ele mesmo se enxerga assim, quem é essa pessoa?

Williams cresceu imitando Frank Sinatra, ídolo de seu pai, um comediante e cantor que nunca deu certo na vida artística, mas nunca abriu mão de tentar. A trajetória do pai é o outro lado da moeda da do filho. Um sempre quis, trocou tudo pela chance de brilhar e jamais conseguiu. O outro herdou o sonho mas não a garra, e sem nem perceber chegou ao topo do mundo, com um buraco no peito causado justamente pela opção do pai pela vida de artista, em vez da vida de pai.

Os números musicais, com as músicas do Robbie Williams humano (e que eu desafio qualquer um a dizer que nunca ouviu), revividas pelo personagem primata, são eletrizantes, ultra bem realizadas. Faltou o dueto com Nicole Kidman em “Something Stupid”, de 2001, uma das versões mais lindas do clássico de 1966 gravado por Frank Sinatra e sua filha, Nancy.

Outro desafio, só para concluir: quero ver quem aqui chega ao final deste longa-metragem estranhíssimo sem se emocionar e sem rir da frase final. E, mais importante, sem querer saber mais sobre Robbie Williams, que, aos 51 anos, espero, ainda deve render pelo menos mais um par de cinebiografias.

BETTER MAN: A HISTÓRIA DE ROBBIE WILLIAMS

– Avaliação Muito bom

– Quando Em cartaz nos cinemas

– Classificação 16 anos

– Elenco Robbie Williams, Steve Pemberton e Kate Mulvany

– Produção Estados Unidos, 2024

– Direção Michael Gracey

TETÉ RIBEIRO / Folhapress

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