Bicheiro Rogério de Andrade é preso sob suspeita de mandar matar rival

SÃO PAULO E RIO DE JANEIRO, None (FOLHAPRESS) – O contraventor Rogério de Andrade foi preso na manhã desta terça-feira (29) no Rio de Janeiro. Patrono da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel e apontado como o maior bicheiro do Rio, ele foi detido em sua casa na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade.

Denúncia do Ministério Público afirma que Rogério é o mandante do assassinato de Fernando de Miranda Iggnácio. Morto em 2020, Iggnácio era genro e sucessor de Castor de Andrade, também contraventor.

Além de Rogério, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do MP-RJ denunciou Gilmar Eneas Lisboa, apontado como responsável por monitorar a vítima até o momento do crime. Ambos foram denunciados por homicídio qualificado e presos nesta terça pela Operação Último Ato, deflagrada pela Promotoria.

A reportagem entrou em contato com o advogado João Maia, que aparece cadastrado como defensor de Rogério de Andrade em outra denúncia de homicídio, mas não obteve retorno. A defesa de Lisboa não foi localizada.

A 1ª Vara Criminal do Rio de Janeiro, responsável pela expedição dos mandados de prisão, determinou que Rogério de Andrade seja transferido para um “estabelecimento prisional federal de segurança máxima”.

Segundo a decisão judicial, “está delineado que o denunciado Rogério exerceria o papel de líder de um grupo criminoso envolvido em crimes como homicídio, corrupção, contravenção e lavagem de dinheiro, além de possuir contatos em órgãos de segurança estaduais. Portanto, a transferência para um presídio federal com Regime Disciplinar Diferenciado é necessária para impedir sua interferência na coleta de provas e nas investigações em curso contra outros envolvidos”.

Rogério passou por uma audiência de custódia no presídio de Benfica, na zona norte, e seria encaminhado ao Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste, onde aguardaria transferência para uma unidade federal. Em Gericinó ele vai ficar em Bangu 1, presídio de isolamento.

Entre as provas que fundamentaram a decisão judicial estão laudos de necropsia, exames do local do crime, registros de ocorrência e relatórios de análise de imagens. A prisão foi decretada, segundo a juíza Alessandra da Rocha Lima Roidis, para garantir a ordem pública, evitar interferências nas investigações e proteger testemunhas.

Iggnácio foi morto em 10 de novembro de 2020 na zona oeste do Rio. Ele voltava de Angra dos Reis e havia acabado de desembarcar de um helicóptero quando foi atingido por tiros de fuzil.

A Promotoria já havia denunciado Rogério em março de 2021, mas, em fevereiro de 2022, a 2ª Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu trancar a ação penal por falta de provas. À época, seus advogados argumentaram que a acusação foi formulada com base “em presunções e em um histórico familiar de rivalidades, sem apresentar evidências suficientes para corroborar a participação de Rogério Andrade como mandante do homicídio”.

A nova investigação conduzida pelo Gaeco, contudo, revelou que, além de “sucessivas execuções protagonizadas pela disputa entre os contraventores Fernando Iggnácio e Rogério de Andrade”, Gilmar Eneas Lisboa —um PM reformado que não aparece na primeira denúncia— seria o responsável por monitorar Iggnácio antes de sua morte.

No inquérito sobre a morte de Iggnácio, a polícia apontou as supostas motivações de Rogério para o crime, traçando um histórico do jogo do bicho e da criminalidade no Rio. As razões apontadas incluiriam o controle de atividades ilícitas e o desejo de vingança pela morte de seu filho adolescente.

Segundo a investigação, desde a morte de Castor de Andrade, em 1997, a disputa pela sucessão deu início a uma guerra familiar. Ainda em vida, Castor havia escolhido Rogério de Andrade, seu sobrinho, para comandar as atividades ilícitas na zona oeste e em outras regiões do estado. Seu filho, Paulo Andrade, 47, o Paulinho, teria discordado dessa decisão, o que gerou um conflito.

Em 1998, Paulinho e seu segurança foram assassinados na Barra da Tijuca. O genro de Castor, Fernando Iggnácio, assumiu a liderança da disputa com Rogério. Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos o ex-PM Jadir Simeone Duarte, que acusou Rogério de ser o mandante do crime.

Em 2001, Rogério sofreu um atentado ao chegar a um apart-hotel no Recreio dos Bandeirantes com sua namorada. Conforme seu depoimento, ele foi recebido a tiros, mas conseguiu escapar e entrou em luta corporal com o atirador, que fugiu. Na ocasião, Iggnácio foi apontado pela polícia como suspeito de ser o mandante.

Rogério perdeu o filho adolescente em 2010. Diogo Andrade, 17, morreu após a explosão de uma bomba plantada em um Toyota Corolla da família. Rogério, que estava no banco do passageiro, sobreviveu, mas foi ferido no rosto e precisou passar por cirurgias na face.

OUTRO CASO

Rogério, padrinho da escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel, e o presidente da agremiação, Flávio da Silva Santos, foram alvos de mandados de busca e apreensão no último dia 9, no Rio de Janeiro.

Santos e outras quatro pessoas foram presas na ação. O presidente da escola foi preso em flagrante após jogar uma arma pela janela, que foi recuperada. Outra arma sem licença foi apreendida no apartamento dele, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.

No total, os investigadores apreenderam R$ 30 mil e 26 celulares no apartamento de Santos. A reportagem não localizou sua defesa.

Também não foi localizada a defesa de Rogério. Os últimos advogados cadastrados no sistema judicial afirmaram que não atuam mais para ele.

A ação da Promotoria e da Polícia Civil faz parte de uma investigação sobre a morte de Fábio Romualdo Mendes, que aconteceu em setembro de 2021. Ele seria ligado ao jogo do bicho e teria sido assassinado, segundo a investigação, devido a disputas por territórios controlados por Rogério.

O crime ocorreu na estrada dos Bandeirantes, em Vargem Grande, zona oeste do Rio. A vítima foi morta com vários tiros por dois homens em uma moto enquanto esperava sua esposa em um posto de saúde.

Testemunhas ouvidas apontaram um racha interno no grupo supostamente comandado por Rogério como o motivo do homicídio. O presidente da Mocidade seria o responsável pelas máquinas caça-níqueis em Bangu, Padre Miguel e Realengo. Ele teria entrado em conflito com o administrador do bicho da região de Vargem Grande e Pequna, segundo os relatos. A vítima, Mendes, seria ligada a esse segundo administrador.

FRANCISCO LIMA NETO E BRUNA FANTTI / Folhapress

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