Biden e Xi fazem reunião coreografada para aliviar tensões

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – Os dois principais líderes do mundo se encontram na tarde desta quarta-feira (15) para uma reunião sobre a qual a Casa Branca insistiu para não serem criadas expectativas.

Um ano depois de sua última conversa, com direito a uma “crise dos balões” no período, Joe Biden e Xi Jinping apertaram as mãos no início da tarde na Califórnia, com mais de uma hora de atraso em relação ao previsto, por volta das 16h15 (horário de Brasília). O americano recebeu o líder chinês logo após ele descer do carro, em uma imagem transmitida ao vivo por canais dos EUA. Ambos estavam ladeados por oficiais dos dois países.

Em seguida, eles entraram pela porta de uma propriedade de luxo em Woodside, a cerca de 40 quilômetros de San Francisco, cuja localização foi mantida em sigilo até o último minuto por autoridades americanas por uma questão de segurança. Em uma longa mesa, as equipes de cada país se distribuíram lado a lado, com Biden e Xi ao meio.

À esquerda do americano, sentou-se o secretário de Estado, Antony Blinken, e, à direita, a secretária do Tesouro, Janet Yellen. “Lá vêm eles”, disse Biden rindo, conforme a delegação chinesa entrava na sala.

Como é praxe na diplomacia, as falas iniciais de cada presidente puderam ser acompanhadas pela imprensa. Da sua parte, o americano enfatizou estar satisfeito com o reencontro dos dois, e que as conversas pessoais entre eles sempre foram “sinceras, objetivas e úteis”.

Em alusão à tensão entre as potências após a China cortar os canais de comunicação com Washington em agosto passado, Biden afirmou que a reunião “líder a líder” é essencial para evitar “mal-entendidos”. O americano destacou dois temas para diálogo: narcóticos e crise climática.

Falando em seguida, Xi preferiu enfatizar a economia. O chinês disse que o mundo se recupera do impacto da pandemia, mas ainda de modo lento, e cutucou a adoção de medidas protecionistas —os EUA implementaram ao longo do último ano limites a exportações e investimentos em Pequim, alegando defesa de interesses de segurança nacional.

O líder disse também que a relação bilateral entre EUA e China é a mais importante do mundo, reconhecendo seus problemas, mas que também uma potência virar as costas para a outra “não é uma opção”. “Conflito e confronto têm consequências intoleráveis para os dois lados.”

Xi disse ainda estar ansioso “para alcançar novos entendimentos estratégicos em questões críticas afetando a paz e o desenvolvimento mundiais”.

Os dois se reúnem agora a portas fechadas, acompanhados cada um por suas equipes, para discutir temas que vão de crise climática a inteligência artificial, passando por drogas, eleições em Taiwan, a Guerra na Ucrânia e o Oriente Médio. A previsão é que o encontro dure entre quatro e cinco horas, seguido por uma coletiva de imprensa apenas com Biden ao final. Não deve ser emitido um comunicado conjunto.

Times dos dois países passaram as últimas semanas acertando a coreografia da reunião –há uma forte preocupação para que Xi não seja visto como submisso ao seu anfitrião em seu país.

A principal ambição da Casa Branca é convencer a China a retomar os canais de comunicação com Washington, sobretudo os militares. Desde que a então presidente da Câmara, Nancy Pelosi, visitou Taiwan, em um gesto interpretado como uma provocação por Pequim, as conversas foram interrompidas. Não houve nem sequer uma conversa por telefone entre os líderes desde a última bilateral, em Bali, em novembro do ano passado.

Do lado chinês, como sinalizado pela fala de Xi, a expectativa é obter avanços no campo econômico. Diante das dificuldades enfrentadas em casa, para a qual as restrições implementadas por Biden não colaboram, a meta é que algum tipo de flexibilização possa ser alcançado.

A bilateral não é a única aposta do líder chinês para obter algum ganho econômico. Xi vai participar de um jantar com CEOs à noite –com ingressos, já esgotados, a partir de US$ 2.000 (R$ 10 mil).

Para Biden, a maior preocupação é frear a deterioração da relação entre os países, para evitar uma escalada que possa resultar em um conflito. O americano vai reforçar que não apoia a independência de Taiwan, mas sim a manutenção do status quo –em um sinal a Pequim sobre os riscos de uma tentativa de interferência nas eleições da ilha no início do próximo ano.

Ao mesmo tempo, Biden vai pressionar Xi a usar sua proximidade com o Irã para evitar uma escalada do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas. Biden também deve abordar a aliança militar entre chineses e norte-coreanos com a Rússia, em guerra com a Ucrânia –aliada dos EUA no Leste Europeu.

Mas também há espaço na conversa para temas em que os interesses de ambos convergem. A principal aposta é algum avanço no combate à crise climática e na regulação da inteligência artificial.

“A crise climática é uma das áreas em que acreditamos existir uma capacidade enorme para tentar colaborar com a China”, disse nesta quarta o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby. “Somos os dois maiores emissores do mundo, temos enorme responsabilidade nisso. Os efeitos da crise climática podem ter um impacto grande nas nossas populações e economia.”

Antecipando esse interesse comum, o Departamento de Estado americano divulgou nesta terça um comunicado comum registrando as negociações em julho e novembro entre o enviado especial americano para o clima, John Kerry, e seu par chinês, Xie Zhenhua. As conversas sobre o tema haviam sido congeladas pela China, após a visita de Pelosi.

O documento reafirma o compromisso das duas potências com a implementação de acordos sobre o clima, como o de Paris, e destacam a importância da COP28, conferência que acontece no final do mês.

Outro tema em que algum avanço é esperado é o fentanil. A droga, cujos insumos vêm da China e entram nos EUA via fronteira com o México, são uma crise de saúde pública no país. Washington vem pressionando os chineses para que instituam controles sobre a produção dos químicos. No entanto, a China já afirmou que aprimoraria seus controles no passado, o que não ocorreu.

Falando sob condição de anonimato, oficiais do governo Biden dizem que uma dúvida é o quanto o comprometimento demonstrado pela China com a visita de Xi vem de um interesse genuíno em melhorar a relação, ou uma medida tática de curto prazo.

A bilateral acontece às margens do encontro anual da Apec (Cooperação Econômica Ásia-Pacífico, na sigla em inglês), grupo que reúne 21 economias da região do Pacífico. Delegações dos membros estão desde sábado (11) em San Francisco, para uma programação que vai até sexta (17).

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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