SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira operava em queda no início da tarde desta terça-feira (11) mesmo após a divulgação de que o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) teve deflação de 0,08% em junho. Apesar da queda nos preços, a maior para o mês desde 2017, o resultado veio em linha com a expectativa do mercado e não endossou um possível corte de juros mais agressivo em agosto.
Por outro lado, o dólar continuava sua trajetória de alta frente o real após o IPCA, já que a confirmação das expectativas do mercado reforça a previsão de que o BC vai iniciar o corte da Selic em sua próxima reunião. Investidores aguardam, nesta semana, dados de inflação nos Estados Unidos para ter pistas sobre os próximos passos da política monetária americana.
Às 12h15, o Ibovespa tinha queda de 1,13%, a 116.606,47, enquanto o dólar subia 0,22%, cotado a R$ 4,893.
O IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou nesta terça que o IPCA teve queda de 0,08% em junho, sendo a primeira vez que o índice oficial de inflação ficou negativo em nove meses. Com isso, a alta acumulada pelo IPCA em 12 meses desacelerou para 3,16% até junho, o menor nível desde setembro de 2020 (3,14%).
A variação negativa, porém, ficou em nível próximo da mediana das projeções do mercado. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam recuo de 0,10%, após o avanço de 0,23% registrado em maio.
Além disso, a inflação de serviços registrou alta de 0,62%, após variação negativa de 0,06% em maio, o que chamou atenção do mercado.
Para o estrategista-chefe da Acqua Vero, Antonio van Moorsel, esse resultado do setor de serviços ajudava a explicar as quedas na bolsa brasileira, uma vez que se trata de uma métrica bastante acompanhada pelo Banco Central.
Conforme destacou a estrategista de inflação da Warren Rena, Andréa Angelo, esse comportamento no setor de serviços pode reforçar os argumentos da ala mais cautelosa do Copom, na linha de um corte inicial de 0,25 ponto percentual em agosto.
Nas últimas semanas, parte do mercado passou a apostas num corte de 0,50 ponto percentual na Selic em agosto, principalmente com as expectativas de inflação caindo semana a semana. Os números divulgados nesta terça, porém, não reforçaram esse cenário.
“Vemos o caminho aberto para o início do ciclo de cortes na reunião de agosto, mas o debate entre um corte de 25 ou 50 bps deve continuar”, disse Rafaela Vitoria, economista-chefe do banco Inter.
Apesar da dúvida sobre a magnitude do corte, a redução da Selic na próxima reunião do Copom já é dada como certa pelo mercado.
“Sem dúvida o IPCA de junho está balizando novas apostas em relação ao corte da Selic em agosto”, disse à Reuters Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital. “Portanto, me parece que o local está prevalecendo, com um horizonte um pouco mais próximo para que nossas taxas de juros possam começar a recuar e fechar esse diferencial, que ajudou muito o real nestas últimas semanas.”
O horizonte de diferencial de juros menor, inclusive, tem pressionado o desempenho do real frente o dólar. A moeda brasileira se beneficia de juros mais altos no Brasil, que aumentam o retorno da renda fixa do país e, com isso, atraem recursos.
Apesar das projeções de cortes na Selic, economistas ainda veem espaço para a queda do dólar no Brasil, especialmente se as expectativas de redução da inflação forem confirmadas. Isso porque uma taxa de inflação menor pode manter os juros reais (que descontam o IPCA) brasileiros em um patamar atrativo, apoiando a performance do real ante a divisa americana.
Redação / Folhapress