Casos de antissemitismo quadruplicaram no Brasil em 2023, indica relatório

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O número de casos de antissemitismo quadruplicou no Brasil em 2023 em comparação com o ano anterior, de acordo com um relatório divulgado no domingo (5) pela Universidade de Tel Aviv e pela ONG americana Liga Antidifamação (ADL, na sigla em inglês).

De acordo com o estudo, os ataques antissemitas no país, que incluem agressões verbais, físicas e vandalismo contra instituições judaicas, subiram de 432 em 2022 para 1.774 no ano passado. A maioria dos países analisados registrou um aumento de ocorrências, em especial Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, França e Austrália.

Intitulado “Relatório Global de Antissemitismo para 2023”, o estudo contextualiza o crescimento do antissemitismo no mundo no âmbito da guerra entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza, que começou depois dos ataques terroristas de 7 de outubro que vitimaram 1.200 israelenses. Em retaliação, Israel já matou quase 35 mil palestinos, de acordo com o Ministério da Saúde local, controlado pela facção.

Segundo o documento, “não é surpresa” que “os crimes de guerra cometidos pelo Hamas em 7 de outubro e a guerra defensiva declarada por Israel resultaram na pior onda de antissemitismo desde o fim da Segunda Guerra Mundial”.

Para contabilizar episódios fora dos EUA, o relatório utilizou dados oficiais de governos, imprensa, polícias e organizações judaicas locais –no caso do Brasil, as ocorrências foram compiladas pela Conib (Confederação Israelita do Brasil).

O presidente da Conib, Claudio Lottenberg, disse à Folha de S.Paulo que a divulgação de “versões enviesadas” de informações sobre a guerra em Gaza feita pelo que ele chama de “uma parte grande da imprensa”, além de acadêmicos e intelectuais, desperta “um sentimento antissemita latente em muitas pessoas”.

“Essa onda antissemita deixa muito claro que o ódio ao Estado judeu, que muitos chamam de antissionismo, é simplesmente a versão contemporânea e mais palatável do antissemitismo. Críticas ao governo de Israel são naturais. Mas ser contra o Estado judeu é ser contra os judeus”, afirmou.

De acordo com Rony Vainzof, secretário da Conib, os casos foram contabilizados por meio do canal de denúncias da organização e de um monitoramento de redes sociais. Vainzof afirma que foram consideradas inclusive “formas de antissionismo” como antissemitismo.

Recentemente, a Conib comemorou a decisão do governo do Rio de Janeiro de adotar a classificação da Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês) como a oficial no estado.

Essa formulação diz que antissemitismo é “uma certa percepção sobre judeus que pode ser expressada como ódio aos judeus”. “Manifestações retóricas e físicas de antissemitismo são direcionadas contra pessoas judias e não judias, sua propriedade privada, e contra instituições comunitárias e religiosas judaicas.”

A IHRA cita ainda uma série de exemplos que se encaixam nessa designação, alguns deles criticados por especialistas por impedir certas críticas a Israel, o que a ONG nega. A entidade afirma que é antissemita “negar aos judeus seu direito de autodeterminação, ao afirmar, por exemplo, que o Estado de Israel é uma iniciativa racista”, e também “aplicar dois pesos e duas medidas ao exigir de Israel um comportamento não esperado de outros países democráticos”.

Essa mesma definição foi utilizada pela Câmara dos Deputados dos EUA no último dia 1º, quando aprovou um projeto de lei determinando que a classificação também fosse adotada pelo governo federal para aplicar leis contra a discriminação no sistema educacional americano.

A aprovação foi uma resposta aos protestos universitários em diversas instituições de ensino dos EUA contra o apoio de Washington a Tel Aviv na guerra na Faixa de Gaza. O texto ainda precisa passar pelo Senado.

Ao analisar casos de antissemitismo nos EUA, o estudo utiliza dados coletados diretamente pela ADL, que traz dois resultados diferentes: o primeiro, obtido a partir de uma metodologia “mais restrita”, registrou 7.523 ocorrências no país em 2023. Já o segundo inclui o que o relatório chama de “casos de retórica ou ativismo antissionista e algumas frases sobre resistência”, o que faz o número subir para 8.873.

A direção da ADL foi alvo de questionamentos, inclusive de parte de seus próprios membros, por entender como antissemitismo críticas ao Estado de Israel. Em seu site, a entidade afirma que “certas formas de retórica e ativismo anti-Israel deslegitimam a existência do Estado e se tornam antissemitas quando demonizam e negam o sionismo ou utilizam estereótipos contra judeus e afirmam que todos os judeus são responsáveis pelas ações de Israel”.

VICTOR LACOMBE / Folhapress

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