Incertezas sobre efeitos das chuvas lembram início da pandemia, diz dono de restaurante no RS

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Paralisações, prejuízos, busca por crédito e socorro financeiro, incertezas sobre o tempo para a reabertura dos estabelecimentos, contabilização das perdas para a economia. O empresário João Melo, proprietário do restaurante mais antigo do Rio Grande do Sul, o Gambrinus, relata um cenário parecido com o início da pandemia de Covid-19.

“Não consigo prever se serão dias ou meses de restaurante fechado. Lembra aquela fase de abre, fecha, reabre da pandemia? Estamos revivendo as mesmas incertezas agora”, diz Melo à reportagem sobre as enchentes históricas que tomaram dois terços do estado.

Segundo levantamento da Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), 33% dos estabelecimentos associados no Rio Grande do Sul estão completamente isolados, seja por terem sido tomados pelas águas ou por estarem em locais de difícil acesso por parte de clientes e fornecedores. Quase a totalidade do bares e restaurantes gaúchos (97%) diz ter algum nível de problema no recebimento de insumos devido aos alagamentos.

Considerando somente os estabelecimentos que tiveram a sua infraestrutura básica comprometida, 56% estão sem energia elétrica, e 76% estão sem acesso a água potável. Segundo a Abrasel, 12% dos locais já sofreram perda total e 27% foram parcialmente afetados pelas enchentes.

A tragédia aconteceu perto de uma das datas mais movimentadas para os restaurantes e bares brasileiros: o Dia das Mães. A pesquisa da associação mostra que quase metade dos proprietários (45%) do setor prevê que não terá condições de abrir para a data. Outros 33% dizem que ainda não têm como saber se terão condições de abrir ou não.

As expectativas contrastam com um levantamento feito pela Abrasel há pouco mais de duas semanas. Na ocasião, 75% dos donos de estabelecimentos associados afirmaram que iriam abrir na data.

João Melo diz que seu restaurante está fechado desde sexta-feira (3), quando foi possível entrar no local para recuperar alguns objetos de valor, como computadores. Depois disso, as águas tomaram o local e o empresário ainda está com dificuldades de imaginar qual vai ser o tamanho do prejuízo.

Além do faturamento perdido desde o fechamento do local, ele ainda terá gastos com a limpeza do estabelecimento, além da compra e restauração de móveis, alguns deles do século passado. Melo também não tem dimensão dos estragos nos equipamentos da cozinha.

Questionado sobre as previsões de quando o estabelecimento abrirá as portas novamente, Melo diz que um parâmetro é o da grande enchente que assolou o estado em 1941, quando demorou mais de 30 dias para as águas baixarem completamente.

Além desse período, ele calcula entre 15 a 20 dias para colocar o restaurante em ordem, como era antes do alagamento.

“Vamos precisar de recursos até lá. É preciso implementar medidas emergenciais do governo parecidas com as que tivemos na pandemia”, defende Melo.

A Abrasel diz em nota que as perdas do setor no estado ainda são incalculáveis e que ainda não é possível prever todos os efeitos. “Só sabemos que serão duradouros”, afirma Paulo Solmucci, presidente-executivo da associação.

Segundo a pesquisa da entidade, 83% das empresas associadas no estado não têm seguro contra enchentes. Além disso, 78,57% dos empresários já preveem que terão de solicitar empréstimos para sobreviver às perdas.

A suspensão de impostos, requisitada por 88,37% dos entrevistados, e linhas de crédito com condições especiais, pedidas por 69,77%, são vistas como medidas para a sobrevivência desses negócios, segundo a Abrasel.

STÉFANIE RIGAMONTI / Folhapress

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