Cientistas descobrem 4 novas espécies de tarântulas na Colômbia

Expedição para uma das regiões mais diversas do planeta Chocó, na costa pacífica da Colômbia revelou quatro novas espécies de aranhas do grupo das tarântulas, incluindo uma caçadora de alçapão.

As espécies descobertas são a Ummidia solana (trapdoor spider, ou aranha de alçapão), cujo nome vem da região (baía de Solano), e as tarântulas Euthycaelus cunampia, Neischnocolus mecana e Melloina pacifica.

Aranhas de alçapão são assim chamadas pela forma que pegam suas presas, ficando à espreita em uma toca no chão e capturando o animal que passa pela frente. Já as tarântulas (aqui conhecidas como caranguejeiras) possuem o corpo recoberto por pelos e, apesar de serem venenosas, não conseguem picar humanos.

O achado foi publicado no início de julho na revista especializada ZooKeys. A expedição científica contou com apoio financeiro da Universidade EAFIT (Escola de Administração, Finanças e Instituto Tecnológico) de Medellín (Colômbia).

As aranhas possuem algumas características únicas que as diferenciam de outras espécies, como o corpo mais longo do que largo, coloração marrom-avermelhada (Melloina e Ummidia) ou marrom-acinzentada (Euthycaelus cunampia), a base das pernas pretas (macho) ou corpo e pernas pretas recobertos por listras amarelas (fêmea de Neischnocolus mecana).

A tarântula Melloina pacifica, representa o primeiro registro do gênero na Colômbia —ele já foi descrito para Venezuela e Panamá. As espécies do gênero Melloina vivem em diversos habitats, incluindo cavernas, mas é a primeira vez que foi registrada uma espécie que vive em florestas.

A caçadora de alçapão (Ummidia solana) possui o corpo sem cerdas, com uma carapaça rígida cobrindo o tórax e pernas longas. O macho foi encontrado andando pela folhiço que recobre o chão da floresta (serrapilheira); já a fêmea estava entocada no chão, à espreita.

Já a espécie Euthycaelus cunampia recebeu o nome em homenagem a dois membros da comunidade indígena Emberá: Don José e Don Antonio. Ex-caçadores que viviam na reserva, eles agora atuam como guias turísticos no jardim botânico, com importante papel na educação ambiental e conservação do local.

A Neischnocolus mecana também representa o primeiro registro do gênero na região do Chocó e na costa pacífica colombiana, e recebeu o nome em homenagem ao município Mecaná, onde fica o jardim botânico em que foi feita a descoberta.

“Essas novidades taxonômicas representam as primeiras ocorrências registradas de seus respectivos gêneros na região, expandindo sua distribuição geográfica. Este estudo inovador serve como prova do potencial de novas espécies ainda não descobertas pela ciência e da necessidade de estudos taxonômicos abrangentes”, afirmam os pesquisadores.

O estudo foi feito no Jardín Botánico del Pacífico, na costa pacífica da Colômbia, parte da região biogeográfica conhecida como Chocó, um hotspot natural (região com alta concentração de espécies endêmicas). Esta área se estende até a fronteira com o Panamá.

Popular como destino turístico, a baía Solano, onde está localizado o parque, possui diversos resorts de luxo e é uma das principais praias para avistar baleias jubarte e tartarugas-marinhas.

Apesar de ser uma área rica em biodiversidade, as aranhas foram encontradas em um local pouco explorado cientificamente, revelando assim uma diversidade inédita do grupo.

A atividade humana, porém, pode colocar em risco a rica diversidade de espécies do local, incluindo animais vertebrados e invertebrados, como as aranhas recém-descobertas.

Apesar de todos os esforços no passado para mapear as espécies que vivem ali, não houve quase nenhuma pesquisa focada na diversidade de aranhas na região. A expedição vem, assim, como uma tentativa de preencher essa lacuna.

As aranhas conhecidas popularmente como tarântulas fazem parte da ordem Mygalomorphae, que representa apenas 6% da diversidade de aranhas conhecida. Em geral, as migalomorfas são terrícolas, não tecem teias complexas (algumas usam a seda apenas para fazer as suas armadilhas de alçapão) e possuem pelos (cerdas) cobrindo todo o corpo.

Assim como a grande maioria das aranhas, elas são predadoras e se alimentam de diferentes tipos de artrópodes e até mesmo pequenos vertebrados.

A expedição ocorreu entre os dias 10 e 25 de fevereiro de 2022. Os espécimes foram coletados e depositados na coleção de Aracnologia do ICN (Instituto de Ciencias Naturales) da Universidade Nacional de Colômbia, em Bogotá.

ANA BOTTALLO

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