SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Não é fácil repetir números como os de “Cinquenta Tons e Cinza”. Afinal, foram mais de 150 milhões de exemplares vendidos (dos quais 7,5 milhões no Brasil) desde seu lançamento, em junho de 2011. A adaptação para os cinemas, estrelada por Dakota Johnson e Jamie Dornan, não ficou atrás: lançado em 2015, o filme teve faturamento bruto de US$ 570 milhões (mais de R$ 2,8 bilhões no câmbio atual) em bilheteria global. Mas a autora E. L. James segue tentando.
Nesta sexta-feira (10), chega às livrarias sua nova obra, “Madame”, a segunda de uma série iniciada com “Mister” em junho de 2019 e publicada no Brasil pela editora Intrínseca. Ao longo de suas 400 páginas, a trama pode deixar entediados os fãs dos jogos de dominação sexual de Christian Grey (o protagonista de “Cinquenta Tons…”), mas tem lá seu público.
Os livros acompanham o amor impossível de Maxim Trevelyan, um playboy de Londres que se apaixona por Alessia Demachi, uma albanesa vítima de tráfico humano em sua terra natal. Após ser libertada por ele no final de “Mister”, a jovem agora luta pela aprovação da família do recém-nomeado conde de Trevethick, enquanto se prepara para sua cerimônia de casamento.
Por causa desses elementos, o drama acaba pincelado por um debate que se acentuou nos últimos anos. Segundo a ONU, o comércio ilegal de pessoas movimenta anualmente US$ 32 bilhões (R$ 158 bilhões) em todo o mundo, sendo 85% provenientes da exploração sexual.
Em entrevista por email à reportagem, E.L. James (acrônimo de Erika Leonard James) diz que a intenção da trama era apenas marcar um “contraste completo com a vida de Maxim”. Porém, a autora conta que suas obras são sua forma de batalhar pelas mulheres. “Há áreas do mundo onde o tempo parou e as mulheres ainda estão presentes em sociedades patriarcais. Percorremos um longo caminho -mas temos um longo caminho a percorrer”, diz.
Longe de ser uma unanimidade, a prosa da britânica já foi alvo da crítica -e também de leitores mais exigentes- pela forma como suas protagonistas femininas podem soar imaturas. Ela, por sua vez, ressalta que Alessia, mesmo tendo passado por algo tão brutal, é uma mulher resistente. “Ela conseguiu escapar e estabelecer uma vida para si mesma. Ela tem muita coragem. E também ilumina uma parte verdadeiramente má da humanidade”, avalia.
Com o passar das páginas, de fato, Alessia começa a parecer mais empoderada -para ficar no adjetivo da moda. Ela se preocupa em voltar a estudar e em conquistar seu próprio espaço no mundo. “A partir de Alessia, quero que a pessoa tenha coragem. Você pode mudar suas circunstâncias com coragem e determinação”, diz.
Enquanto aguarda sua nova franquia chegar aos cinemas e quem sabe virar um novo hit -em 2020, a Universal anunciou que irá adaptar “Mister”-, James cita que até mesmo os homens podem ser vítimas de uma sociedade machista. Maxim, por exemplo, reluta em parecer vulnerável em seu próprio casamento. Mas a autora é otimista quanto a isso. “Acho que muitos homens se tornaram muito melhores em se expressar”, avalia.
Ela alerta, no entanto, que o sexo feminino não deve cair na mesma armadilha. “Essa firmeza é algo que as mulheres podem fazer a si mesmas pela mesma razão: nem sempre queremos desmoronar e chorar. Queremos parecer fortes”, explica.
Para a escritora, toda essa discussão vai de encontro com o que ela já defende há algum tempo: a liberdade da mulher de ser o que quiser, sem medo de julgamentos. “Acho que, hoje, mais mulheres se sentem confortáveis em expressar seus desejos”, afirma, orgulhosa de sua contribuição a partir do fenômeno pop que foi “Cinquenta Tons…”. “Curiosamente, tenho ouvido falar de muitas mulheres que conseguiram ser mais abertas com seus parceiros sobre o que queriam em relação aos seus desejos.”
Mesmo que seu novo casal de protagonistas prefira um relacionamento mais tradicional e monogâmico, sem tanto espaço para as estripulias sexuais que ela narrava antes, a escritora diz confiar que suas histórias seguirão ditando tendências e influenciando mulheres mundo afora. “Afinal, isso é um romance e todos nós queremos um ‘felizes para sempre'”, afirma.
JÚLIO BOLL / Folhapress