Dados do Censo revelam lugares onde ninguém mora no Brasil

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Para contar os 203,1 milhões de habitantes do Brasil, as equipes do Censo Demográfico do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) percorreram todas as regiões do país e fizeram entrevistas em 111,1 milhões de endereços. Enquanto o Sudeste é a região mais povoada, o mapa também revela áreas onde não há ocupação, concentradas no Norte, especialmente no oeste de Roraima e em grande parte do Amazonas.

É o que revelam as coordenadas geográficas do Censo, divulgadas nesta sexta-feira (2). As informações partem de microdados coletados em cada endereço visitado pelos recenseadores.

Esta é a primeira vez que o Censo tem seu cadastro de endereços totalmente referenciado geograficamente. A imensa maioria das localidades foi verificada, enquanto 747 mil endereços (0,7% do total) tiveram suas coordenadas estimadas a partir de correções de dados e informações de levantamentos anteriores.

Essas informações, segundo os técnicos do IBGE, servem para responder a questionamentos sobre onde está a população brasileira, agora de forma mais precisa, e para embasar políticas públicas.

As coordenadas geográficas proporcionaram um avanço no detalhamento do local em relação às grades estatísticas, por exemplo. Introduzidas no Censo Demográfico de 2010, as grades chegavam a células com 200 metros na área urbana e 1 km na área rural e permitiam a visualização de grupos de domicílios e estabelecimentos. As coordenadas, por sua vez, conseguem diferenciar cada endereço de uma rua.

Cada coordenada geográfica corresponde a um endereço visitado pelos agentes responsáveis pelo recenseamento, que pode ser um domicílio ou estabelecimento —comercial, religioso, de saúde ou de educação, por exemplo.

Partes da Serra da Cantareira, em São Paulo, por exemplo, não têm nenhum morador, já que são cobertas por floresta ou água.

Essas informações, quando cruzadas ao levantamento de população, revelam curiosidades como as 18 cidades que tinham, em 2022, mais domicílios do que habitantes, como Matinhos (PR) e Mangaratiba (RJ), que ficam muito mais cheios aos fins de semana e durante as férias. O município que encabeça essa lista é Arroio do Sal, no litoral norte do Rio Grande do Sul, com 11,1 mil habitantes e 18,9 mil domicílios.

Os dados também permitem traçar a relação entre o número de estabelecimentos e o número de moradores de determinada cidade. São José do Ribamar (a 30 km de São Luís), no Maranhão, tinha no ano passado a menor presença de estabelecimentos de saúde do país: 1 endereço do tipo para cada grupo de 3.176 habitantes.

Embu das Artes, na Grande São Paulo, vem logo em seguida, com 1 estabelecimento de saúde para cada 3.020 pessoas. Em relação a estabelecimentos religiosos, o destaque fica com cidades da região metropolitana do Rio de Janeiro, como Itaboraí (a 52 km da capital fluminense), onde os dados Censo 2022 indicam que há 1 endereço religioso para cada grupo de 157 pessoas —é a maior presença desse tipo de estabelecimento entre os municípios com mais de 200 mil habitantes.

CRITÉRIOS PRÓPRIOS DO IBGE

É importante ressaltar que esses dados não têm relação com os cadastros dos ministérios da Saúde ou da Educação. Os critérios de classificação do IBGE são próprios —estabelecimentos de saúde, por exemplo, incluem hospitais, postos de saúde e outras unidades de atendimento, públicas ou privadas, com exceção de consultórios médicos.

“Por ser um microdado, permite a análise a um nível muito detalhado”, disse Eduardo Luís Teixeira Baptista, gerente do Cadastro de Endereços do IBGE, durante a apresentação do material à imprensa.

Um exemplo é a sobreposição dos dados coletados por recenseadores em cada domicílio da Vila Sahy, a área mais atingida pelo temporal que deixou 64 mortos em São Sebastião (SP) no ano passado, com as informações de um mapeamento da Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), empresa pública vinculada ao Ministério de Minas e Energia.

Esse cruzamento de dados, segundo o IBGE, indica 144 domicílios localizados na área de médio risco e 199 domicílios na área de risco alto. O mesmo uso vale para identificar a distância de domicílios de estações de metrô e equipamentos e serviços públicos diversos, dizem os técnicos.

LUCAS LACERDA, DIANA YUKARI E GUSTAVO QUEIROLO / Folhapress

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