SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar operava em forte queda nesta quinta-feira (4), conforme o mercado reagia à mudança de tom nas falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o compromisso fiscal do governo.
Por volta das 13h30, a moeda norte-americana estendia as perdas expressivas da véspera e recuava 1,25%, cotada a R$ 5,498, abaixo do patamar de R$ 5,50.
Já a Bolsa brasileira subia 0,55%, aos 126.350,88 pontos, também embalada pela diminuição da preocupação dos investidores com as contas públicas. A sessão desta quinta será de liquidez reduzida por conta do feriado do Dia da Independência nos Estados Unidos.
Na quarta-feira, Lula disse que gasta quando é necessário e que não joga dinheiro fora. Além disso, afirmou que responsabilidade fiscal é compromisso, não palavra.
“Aqui nesse governo, a gente aplica dinheiro necessário, gasto com educação e saúde quando é necessário, mas a gente não joga dinheiro fora. Responsabilidade fiscal não é palavra, é compromisso desse governo desde 2003, e a gente manterá ele à risca” disse Lula, em discurso no lançamento do Plano Safra Agricultura Familiar, no Palácio do Planalto.
Horas depois, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o presidente mandou manter o arcabouço fiscal e anunciou corte de R$ 25,9 bilhões para 2025 em despesas com benefícios sociais, que passarão por um pente-fino.
A declaração foi dada ao lado dos ministros Simone Tebet (Planejamento e Orçamento), Rui Costa (Casa Civil), Esther Dweck (Gestão) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais) após reunião com Lula para discutir medidas de reequilíbrio do Orçamento.
“A primeira coisa que presidente determinou é: cumpra-se o arcabouço fiscal. Não há discussão a esse respeito”, disse Haddad em entrevista coletiva no Palácio do Planalto.
Segundo ele, a orientação do presidente “é que o arcabouço seja preservado a todo custo”. O governo, detalhou Haddad, vai segurar despesas já em 2024 para alcançar a meta fiscal e respeitar o limite de gastos. As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.
O anúncio soma-se a outras declarações dadas por Haddad e Lula na quarta-feira no sentido de reforçar o compromisso do governo com o controle das contas públicas, após ruídos sobre o tema terem levado a sucessivas altas do dólar nas últimas semanas.
Na terça-feira (2), a moeda norte-americana fechou o dia a R$ 5,66, o maior valor desde janeiro de 2022, e chegou a atingir R$ 5,70 na máxima da sessão.
Lula tem feito declarações públicas contra mudanças na política de valorização do salário mínimo (que impacta a Previdência Social) e a desvinculação entre benefícios sociais e o piso nacional. Ele também descartou limitar o crescimento dos mínimos em Saúde e Educação. Esses são justamente alguns dos componentes que mais pressionam o Orçamento.
O presidente também tem sido um crítico vocal sobre a atuação do BC (Banco Central), que, para ele, é uma instituição de estado e não pode estar a serviço do sistema financeiro. Ele também voltou a dizer que o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, a quem se refere como “cidadão”, tem viés ideológico.
“A gente precisa manter o Banco Central funcionando de forma correta, com autonomia, para que seu presidente não fique vulnerável às pressões políticas. Se você é democrata, permite que isso aconteça. Quando é autoritário você resolve fazer com que o mercado se apodere da instituição”, disse.
Lula fez ao menos 14 comentários públicos sobre política fiscal e monetária em 10 dias, entre os meses de maio, junho e julho.
Já Haddad, também nesta quarta, durante reunião do Conselho da Federação, disse que a diretoria do Banco Central tem autonomia para atuar no câmbio.
“A diretoria lá [do BC] tem autonomia para atuar como entender conveniente. Não existe outra orientação”, afirmou Haddad.
O ministro afirmou também que ainda há pendências nas negociações da dívida com os estados, mas que espera conclui-las até o fim de julho. Ele mencionou quatro possíveis saídas sugeridas pela Fazenda, mas disse que os temas estão em aberto e evitou entrar em detalhes sobre as negociações.
Para economistas consultados pela Folha, o corte de R$ 25,9 bilhões é bem-vindo, mas insuficiente.
“O grosso do ajuste necessário terá que passar em algum momento por ajustes nos gastos de educação, saúde e previdência”, afirmou Sérgio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, à Folha.
“Os cortes anunciados passam por revisão de benefício, que já era o permitido pelo presidente. Vai acalmar um pouco o mercado, mas não muito. Ajustes mais significativos com um novo regime fiscal terão que ser feitos a partir de 2027”, disse o economista.
As contenções devem ser formalizadas no próximo dia 22 de julho, quando será divulgado o próximo relatório de avaliação do Orçamento deste ano.
Na cena corporativa, a Bolsa tinha liquidez reduzida por conta do feriado do Dia da Independência nos Estados Unidos.
Vale e Petrobras, as duas empresas de maior peso no Ibovespa, estavam na ponta negativa. A mineradora perdia 0,34%, em correção após desempenho robusto na véspera, destoando da alta dos futuros do minério de ferro na China.
Já os papéis preferenciais e ordinários da petroleira recuavam 1,08% e 1,05%, em dia de fraqueza dos preços do petróleo no exterior.
Vamos Locação de Caminhões disparava na ponta positiva com 6,57%, após o conselho de administração aprovar a emissão de R$ 1,05 bilhão em debêntures.
Magazine Luiza também avançava, a 4,53%, pegando carona no ambiente mais positivo no mercado brasileiro como um todo, em especial a queda nas taxas de juros futuros.
De acordo com XP, os investidores também estão na expectativa dos números de junho do mercado de trabalho dos Estados Unidos na sexta-feira. Os dados são observados de perto para ajudar a calibrar as apostas para as decisões do Federal Reserve.
“Nosso cenário base considera que o Fed iniciará o ciclo de flexibilização monetária em dezembro, mas reconhecemos as chances crescentes de corte de juros a partir de setembro”, afirmou a equipe da XP em nota a clientes.
Na véspera, o dólar fechou em baixa de 1,72%, a maior queda em um dia desde 6 de janeiro de 2023, negociado a R$ 5,5693. A Bolsa teve alta, com apoio principalmente das ações da Vale, que subiu mais de 2%. O alívio nas curvas de juros futuros locais também impulsionou o índice, que fechou com avanço de 0,70%, aos 125.661 pontos, segundo dados preliminares.
Redação / Folhapress