Eleição no Chade confirma filho de ditador no cargo; oposição rejeita resultado

BOA VISTA, RR (FOLHAPRESS) – Um número incerto de pessoas ficaram feridas no Chade em meio à celebração da vitória do presidente interino Mahamat Idriss Déby, nesta quinta-feira (9), segundo o Ministério da Saúde, que ordenou aos hospitais tomarem medidas urgentes para ajudar casos mais graves.

Durante a noite, a capital Ndjamena ressoou com tiros nas horas que se seguiram ao anúncio da comissão eleitoral do país de que Déby havia vencido com 61,3% dos votos no pleito ocorrido na segunda-feira (6).

Os resultados provisórios da eleição que teve 8,5 milhões de pessoas registradas para votar eram esperados para o dia 21 de maio, com expectativa de que a apuração final fosse divulgada apenas no início de junho. A vitória de Déby, no entanto, ocorre na mesma semana o pleito, e foi desafiada pelo principal opositor, Succès Masra, que rejeitou o resultado e convocou protestos.

O Ministério da Saúde não informou o número de pessoas feridas durante as comemorações de apoiadores de Déby, e não mencionou nenhuma morte. “O número exato de vítimas é desconhecido, mas já se fala em cerca de 10 mortos, incluindo crianças”, disse o pesquisador da Anistia Internacional Abdoulaye Diarra à Reuters.

Madjissem Neldjibaye, que mora em Ndjamena, estava deitado em sua cama quando uma bala perdida atingiu seu braço. “Para chegar ao hospital, eu tive que sair de casa à 1h da manhã porque as pessoas estavam atirando em todas as direções. Eu não conseguia sair antes”, Neldjibaye disse à Reuters em sua casa, descrevendo como ele mesmo retirou a bala alojada no braço. Ao chegar ao hospital, ele disse que viu muitas pessoas com ferimentos semelhantes, alguns mais graves do que o seu.

As celebrações caóticas se seguiram a um período eleitoral tenso, marcado pelo assassinato do opositor Yaya Dillo, em fevereiro, e a ausência de políticos opositores proeminentes da lista de candidatos, fatores que críticos dizem ter minado a credibilidade da votação.

Ndjamena estava calma na sexta-feira, com pouco sinal de apoiadores do principal desafiante, Masra, indo às ruas. Havia forte presença policial, incluindo comboios de veículos com homens fardados patrulhando ruas quase vazias.

O partido de Masra manteve uma contagem paralela de votos e afirmou nesta sexta que, ao contrário do que dizia a comissão eleitoral, havia vencido o pleito. “Temos as provas e todos os chadianos sabem disso”, disse a legenda em uma publicação nas redes sociais. O partido do opositor não deixou claro se planejava entrar na Justiça contra a vitória de Déby.

A eleição faz do Chade o primeiro dos países que passaram por golpes na região do Sahel a retornar a um governo constitucional por meio do voto, embora Masra e outros grupos da oposição questionem a transparência do processo.

Idriss Déby, pai do atual presidente, tomou o poder depois de um golpe em 1990, que derrubou outro ditador, Hissène Habré. Em abril de 2021, ele venceu a sexta eleição consecutiva, amplamente contestada pela oposição e por grupos que lançaram uma ofensiva militar. Na sequência do pleito, Déby iniciou uma guerra contra os rebeldes e morreu em batalha dias depois.

Pela Constituição, quem deveria sucedê-lo nesses casos seria o chefe da Assembleia Nacional, mas não foi o que ocorreu. Em um processo visto como um novo golpe, um grupo de 15 generais criou um Conselho Militar de Transição, que dissolveu o Congresso e colocou Déby filho para liderar a nação por 18 meses, quando prometeu convocar eleições. O pleito, porém, só ocorreu agora.

A votação coincidiu ainda com a retirada temporária das tropas dos Estados Unidos, um importante aliado ocidental em uma região da África cortejada pela Rússia e assolada pelo extremismo islâmico. Desde que substituiu seu pai no comando do país, Déby permaneceu próximo da antiga potência colonial, a França.

O Chade permanece o último Estado do Sahel com uma presença militar francesa substancial. Mali, Burkina Fasso e Níger pediram a Paris e a outras potências ocidentais que se retirassem e se voltaram para Moscou em busca de apoio.

Redação / Folhapress

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