Estudo identifica moléculas relacionadas ao aparecimento de doenças autoimunes

GLASGOW, ESCÓCIA (FOLHAPRESS) – Uma pesquisa publicada nesta quinta (4) detectou moléculas que podem ter associação com doenças autoimunes, como diabetes tipo 1, asma e esclerose múltipla. Segundo um autor do artigo, que foi veiculado na revista Science, o estudo traz conclusões úteis para o desenvolvimento de melhores tratamentos para essas condições de saúde.

O foco da pesquisa foi analisar os intensificadores ativos de RNA e suas conexões a doenças autoimunes, aquelas que são resultados de um distúrbio em que o sistema imunológico ataca o próprio organismo humano. Tais intensificadores são responsáveis pela produção de pequenos pedaços do RNA, a molécula que influencia a produção de proteínas no organismo humano, influenciando na expressão genética.

Dessa forma, se os intensificadores apresentam variações genéticas, isso pode indicar deficiência na expressão desses genes. Como efeito, tal insuficiência pode afetar o bom funcionamento de algumas células do corpo humano.

Um desses casos tem relação com as células T, importante mecanismo do sistema imunológico. Alterações nesses intensificadores podem causar problemas no desempenho dessas células, por exemplo. E esse problema é ainda mais evidente quando se considera os intensificadores chamados bilaterais, que são aqueles presentes em ambas as fitas do código genético e, por isso, ainda mais funcionais.

Tendo isso em mente, os pesquisadores compararam essas variações no caso de intensificadores bilaterais de células T com um banco de dados que compila informações sobre variações genéticas nessas células. No total, quase 1 milhão de células T foram analisadas.

A partir desses dados, 136 grupos de células T com um alto grau de variação foram catalogados, além de cerca de 62 mil intensificadores ativados identificados nessas células.

Mas detectar esses intensificadores demandou o desenvolvimento de uma nova tecnologia chamada ReapTEC. Yasuhiro Murakawa, líder de equipe do Riken, um centro voltado para medicina integrativa localizado no Japão, e professor da Universidade de Kyoto, explica que a técnica adotada na pesquisa permitiu uma melhor identificação eRNAs, aquelas pequenas partes dessa molécula que são produzidas por meio da ação dos intensificadores.

“Esta nova tecnologia permitiu-nos detectar eRNAs de uma ampla variedade de células T, criando uma base para integração com os resultados de um grande estudo de associação genômica de doenças autoimunes”, afirma Murakawa, que é um dos autores da pesquisa.

E esse grande estudo a que ele se refere é o GWAS (Associação para Estudos Amplos de Genoma, em livre tradução), em que é possível encontrar informações sobre variações genéticas e suas relações com doenças associadas ao sistema imunológico humano. Os autores compararam os dados presentes no GWAS com as primeiras descobertas sobre os grupos de células T e seus respectivos intensificadores.

Dessa forma, foi possível concluir que especialmente 606 dos mais de 62 mil intensificadores de RNA inicialmente identificados estavam associados a 18 doenças imunomediadas. Esclerose múltipla, asma, lúpus e diabetes tipo 1 são alguns exemplos.

Os pesquisadores também chegaram à mesma conclusão para a Covid, mesmo que não seja uma doença imunomediada. Murakawa explica que a infecção viral foi adicionada no estudo em razão do impacto social que ela causou para a humanidade.

“Queríamos analisar os mecanismos moleculares que levam a quadros graves de Covid e hospitalização, além das habituais infecções leves. Nós achamos alguns intensificadores associados à Covid que apareceram nas linhagens de primatas mas estão ausentes em ratos”, afirma.

O cientista acredita que o estudo pode colaborar para melhorar o tratamento adotado para essas doenças.

“Ao revelar as moléculas […] envolvidas no aparecimento de doenças autoimunes analisadas neste estudo, podemos obter uma compreensão abrangente de mecanismos das doenças e vias moleculares que são específicas para [elas], e assim contribuir para o desenvolvimento de novos medicamentos eficazes”, conclui.

SAMUEL FERNANDES / Folhapress

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