Fafá de Belém avalia falta de posicionamento de artistas jovens: ‘Ser pessoa pública exige isso’

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Foi nos anos 1980 que Fafá de Belém, 67, se tornou um símbolo da democracia e da luta pelo voto nas Diretas Já. Algumas décadas depois e perto de completar 50 anos de carreira (em maio de 2025), a cantora continua a usar sua voz para falar sobre suas crenças: “Eu entendo que o fato de você ser uma pessoa pública exige de você o posicionamento”.

Sobre a cena atual e uma suposta falta de posicionamento da nova classe artística por medo de julgamentos, principalmente na internet, ela diz que sempre houve aqueles que preferem se calar. “Eu vejo muita gente falando e falando bem”, avalia em entrevista à Folha de S.Paulo.

“Vejo pessoas que não querem se meter, algo que também havia lá atrás, e alguns que entram com outros interesses. Tem gente que não quer participar, tem gente que sempre cobrou e tem gente que nunca cobrou. Tem de tudo”, resume.

Um exemplo de que ela continua sendo do grupo que se posiciona, custe o que custar, aconteceu recentemente. A cantora fez uma publicação no Instagram para falar sobre a falta de artistas do Norte no Dia do Brasil, que o festival Rock in Rio reservou para artistas brasileiros se apresentarem. “A Amazônia não faz parte do Brasil? A cultura amazônica, nortista, não é parte deste país? Onde está Dona Onete, Gaby Amarantos, vencedora do Grammy, Joelma, Aíla, onde estou eu?”, escreveu a cantora.

Em nota enviada à Folha de S.Paulo, a organização do evento informou que o line-up ainda está em construção e que artistas do Norte estão em negociação para se apresentarem. “O formato único dos shows deste dia, que envolve diversas colaborações inéditas entre os artistas, traz com ele desafios artísticos e logísticos significativos”, diz o texto.

Fafá também participou recentemente do seminário dos 40 anos das Diretas Já, promovido pela OAB e Folha, e comentou a importância do movimento. “Eu acho que o mais importante é nós nunca esquecermos o quão difícil foi sair da ditadura”, afirma. “Tudo o que se fala de Diretas, todos os seminários, todas as palestras, tudo o que se diga sobre o sentido da democracia e a necessidade da democracia é sempre louvável, e deve-se dizer repetidamente.”

Mas nem só de embates vive Fafá. No Carnaval deste ano, a cantora foi homenageada pela Império da Casa Verde, com o tema “Fafá, a Cabocla Mística em Rituais da Floresta”. Mais um ato importante da carreira da artista, que celebrará 50 anos em maio de 2025.

“Rapaz, é uma loucura!”, diz a cantora, dando uma de suas famosas gargalhadas. “Eu nunca quis ser cantora, a vida foi me levando. Adoro cantar e adoro, antes de tudo, gente, vidas, juntar pessoas —e eu sou muito curiosa. Às vezes, eu me olho no espelho e falo: ‘Eu tenho 67 anos, o que quer dizer isso?’. Nada e tudo. Se você for ligar para isso, se eu fosse estar ligada nisso, eu estava cheia de botox e de preenchimento.”

Fafá também conta sentir muito orgulho da história que construiu. “Eu nunca fui no caminho dos bois, nunca fui de turmas e panelas, mas eu tenho um espírito de sobrevivência que me faz uma ligação, principalmente, com os movimentos mais jovens, mais contemporâneos, mais revolucionários, sem abrir mão do popular, porque eu sou uma cantora popular”, ressalta. “No resumo de tudo, eu sou uma mulher brasileira que gosta de cantar.”

ÍTALO LEITE / Folhapress

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