Hotel Pulso aposta no ‘luxo silencioso’ para marcar presença na Faria Lima

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Às vezes eu tenho vergonha de entrar nesses lugares muito luxuosos. Parece que eles não estão de portas abertas para você”, diz Otávio Suriani, 34, sentado no lobby do Pulso, hotel paulistano de luxo que ele inaugurou em março com o diretor da marca, João Paulo de Andrade, ex-diretor financeiro do Emiliano.

Em meio à profusão de prédios neoclássicos e envidraçados da região da Faria Lima, a fachada do lugar se destaca. Não pela modéstia -afinal, a escala do espaço é gigante e os móveis, assinados por grandes nomes do design-, mas por escancarar ao entorno o que se passa do lado de dentro, e vice-versa.

Ele vem para engrossar uma onda de empreendimentos hoteleiros de luxo que devem marcar o entorno da avenida paulistana. Um deles é o Faena, que depois de Miami e Buenos Aires, começa a construir no final deste ano a sua terceira unidade, do outro lado da via. Já no ano que vem, a incorporadora pernambucana Huat deve inaugurar por ali o Artsy, hotel-galeria descolado de 30 apartamentos inspirado no Brach Hotel, de Paris, e nos nova-iorquinos Equinox e Public.

Há ainda a previsão de inauguração de outra bandeira de luxo da rede Marriot, o W Hotel, nos arredores do shopping JK Iguatemi, na Vila Olímpia.

Com 57 apartamentos, o Pulso ocupa o térreo e os primeiros pavimentos de um residencial construído pelo mesmo grupo controlador da rede de hotéis executivos Estanplaza, com sete unidades na capital paulista.

No hotel não se encontram lustres frondosos nem mármores por todos os cantos. Muito menos aquela sisudez da maioria dos ambientes ditos sofisticados. Pelo contrário, no lobby -um grande vão livre entre pilotis, que funciona como uma praça envolta por paredes de vidro do chão ao teto- predominam o concreto cru, a madeira clara e a luz natural.

Os tons pastel terrosos do mobiliário mais contemporâneo contrastam com o verde escuro do paisagismo e do couro das poltronas Percival Lafer, que recebem hóspedes e visitantes logo na entrada -as primeiras peças de uma grande coleção de mobiliário e objetos garimpados sob a curadoria do arquiteto Guilherme Wisnik. Ao fundo, um painel de 30 metros da obra “Mácula”, de Nuno Ramos, exposta na 22ª Bienal de São Paulo, compõe discretamente o ambiente.

A equipe não veste trajes sociais, mas roupas de linho cru desenhados por Iara Wisnik, irmã do arquiteto. Em vez de recepção, há apenas uma pequena mesa escondida próxima aos elevadores -de propósito, afinal o check-in pode ser feito sentado, de qualquer lugar do lobby. A sobriedade minimalista domina também os quartos, decorados com os garimpos de Wisnik e obras de artistas paulistanos. Nos áreas íntimas do banheiro, portas de vidro fosco em esquadrias de metal delimitam as áreas íntimas com um toque retrô.

Suspensa sobre o lobby, há uma piscina com vista para a rua e para os paus-brasil do jardim comunitário do residencial. No mesmo andar, há ainda uma academia e um spa da marca francesa L’Occitane -tudo exclusivo para os hóspedes e moradores.

Mas, de volta ao nível da rua, a ideia é construir um ambiente vibrante, afirma Suriani. De um lado do saguão, com janelas de vidro que dão vista para a rua, fica o Charlô. O bistrô tradicional foi fundado na década de 1980 nos Jardins e saiu do salão pequeno para ganhar um espaço maior e mais elegante no Pulso.

Chef da casa, Charlô Whately diz que esta foi uma grande mudança. “Pensei que com 70 anos ia me aposentar, mas criei novos projetos”, diz. Além do restaurante, ele mantém um bufê para eventos, mas passou a operar serviços de quarto e de café da manhã do hotel, servido no Charlô.

“O Charlô era bem pequeno, estilo bistrô francês. Não tinha como crescer lá. Achei a proposta do hotel original”. Ele cita ainda uma onda de restaurantes tradicionais da capital paulista que se mudaram para o térreo de empreendimentos de luxo, como o Arturito, da chef Paola Carosella, e o Sal, de Henrique Fogaça.

Clássicos de sua cozinha anterior, como o nhoque à carbonara, servido com uma gema de ovo (R$ 115), se mantém, e há novidades como o conchiglione de salmão gratinado e molho de limão (R$ 125). Nas próximas semanas, Charlô abre do outro lado do lobby a boulangerie Cha Cha, com cardápio de saladas, sanduíches, refeições rápidas e pratos congelados para levar para casa.

E há, é claro, o Sarau, o bar do hotel, que abre nas noites de segunda a sábado com poucos lugares, coquetelaria assinada pelo premiado bartender Gabriel Santana, que deu expediente em bares de hotel e hoje está à frente do Santana e do Cordial, e um som alemão importado para fazer frente aos listening bars da cidade.

São dez opções na carta, a exemplo do spicy passion (R$ 49), que combina vodca Ketel One a sucos de maracujá e limão-siciliano, xarope de baunilha e um toque de pimenta. O bartender responsável pelo dia a dia do balcão, Henrique Hudson, também vem do setor hoteleiro e fez carreira no extinto Frank.

Às terças-feiras, o pequeno salão do bar, com luz baixa, chão de carpete e poltronas vintage, recebe shows, com curadoria do cantor Rômulo Fróes. De quinta a sábado, rola discotecagem. A primeira temporada do projeto acaba nesta terça (30), com a apresentação da cantora Ná Ozzetti. Depois, DJs convidados por Vitor Kurc, residente da festa Exótica Dance Club, assumem o som de quinta à sábado. A programação é aberta a não-hóspedes.

Com essa mistura de luxo e despretensão, arte e hospitalidade, convívio e intimidade, o Pulso já abre suas portas com a chancela da Preferred Hotels, uma rede global de hotéis independentes, cujo único parceiro brasileiro até então era o Unique. O selo deve ajudar Suriani a atrair um nicho do mercado de luxo que rejeita a ostentação -a exemplo do “quiet luxury”, ou luxo silencioso, que se tornou a moda do momento-, mas valoriza experiências. Uma palavra já batida, mas que vem se tornando sinônimo de despojado e espontâneo.

“Até pouco tempo atrás, São Paulo só tinha 200 quartos de luxo. É muito pouco se comparado aos nossos pares latino-americanos, como Lima, Bogotá e Buenos Aires”, afirma o executivo, destacando a demanda reprimida do segmento. “Com o Pulso, nós queremos entrar nessa mas uma bossa diferente, sofisticada mas convidativa, que converse com a jovialidade de Pinheiros.”

A demanda é, de fato, tão forte, que até 2027 deve ganhar uma segunda unidade -assim como o W, nos arredores do shopping JK Iguatemi.

O novo luxo pode até ser silencioso. Mas aparentemente, ele tem muitos adeptos.

PULSO HOTEL

R. Henrique Monteiro, 154, Pinheiros, região oeste.

Diárias a partir de R$2.700 em pulsohotel.com

GABRIEL JUSTO E NATHALIA DURVAL / Folhapress

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