Dados compilados pelo Instituto Nacional de Cardiologia (INC) mostram que as internações causadas por infarto subiram cerca de 150% entre 2008 e 2022. Os picos desses ataques cardíacos ocorreram durante o inverno, apresentando queda em períodos mais quentes, porque as temperaturas mais frias aumentam os riscos da complicação.
A média mensal das hospitalizações por infarto em homens era cerca de 5.282 no início da série e subiu para 13.645. Entre as mulheres, o número era 1.930 e foi para 4.973. Os dados consideram somente informações do SUS (Sistema Único de Saúde) disponibilizados no Sistema de Internação Hospitalar -não compreende as internações na rede privada.
Complicações cardiovasculares, como o infarto, são as principais causas de morte por enfermidade no Brasil. No caso do ataque cardíaco, existem vários fatores que explicam o aumento nos últimos anos, afirma Aurora Issa, diretora-geral do INC.
A temperatura é um desses aspectos. Isso porque, nos períodos frios, é mais comum ocorrer a contração dos vasos sanguíneos -ou seja, a diminuição do diâmetro dos vasos onde o sangue corre– o que aumenta as chances do ataque do coração. No inverno, também crescem as doenças respiratórias, outro fator que pode ter associação com o infarto.
“[Infecções respiratórias são] um gatilho para inflamação de placas de gordura e, com isso, a formação de coágulos que levam ao infarto”, diz Issa.
O levantamento se atentou às diferenças entre as estações e constatou que os picos de internações por infarto se dão durante o inverno, com queda no verão. Os números variam de ano a ano, mas, em 2022, a diferença nas hospitalizações entre os meses frios e quentes foi 27,4% para homens e 27,8% para mulheres.
O envelhecimento da população é outro fator. O Brasil, assim como outros países, observa um maior número de pessoas mais velhas, devido à alta na expectativa de vida. “O infarto acomete mais as pessoas idosas, então esse aumento da idade traz a possibilidade de haver mais infartos”, explica Issa.
Hábitos de vida não saudáveis também entram no rol de explicações. Sedentarismo, por exemplo, tem associação com o ataque no coração. Excesso de peso também. Outras complicações, como diabetes e pressão alta, ainda entram na conta.
PREVENÇÃO
O estudo serve como um alerta para melhorar a prevenção e o acesso da população a serviços de saúde. “Isso leva à necessidade de se reavaliar medidas, principalmente de prevenção, de forma que a gente possa tentar reverter esse aumento exponencial”, resume a diretora do INC.
Ela reforça a importância de ampliar o acesso a serviços de saúde, para que todos possam receber diagnósticos mais precoces e orientações para o controle das doenças associadas ao infarto. Mas a prevenção dos problemas cardíacos passa por mudanças de hábitos: controlar o peso, manter atividades físicas e deixar de fumar são algumas ações importantes no combate ao infarto.
“Sem dúvida, a forma mais inteligente de reverter isso são as medidas preventivas”, conclui Issa.
SAMUEL FERNANDES / Folhapress