Marina diz que trabalha em plano conjunto para prevenção de desastres climáticos

DAVOS, SUÍÇA (FOLHAPRESS) – A ministra Marina Silva (Rede) afirmou que o Ministério do Meio Ambiente trabalha em um plano estruturante para prevenir desastres climáticos —como os alagamentos que, no último fim de semana, deixaram 12 mortos no Rio de Janeiro, o temporal após o qual parte de São Paulo ficou seis dias sem luz, as enchentes no sul do país e a seca na Amazônia.

“Estamos trabalhando um plano estruturante para o enfrentamento de forma preventiva, o que não é fácil porque não existe nenhum modelo no mundo ainda”, afirmou em entrevista à reportagem. “Seríamos pioneiros.”

Marina está em Davos como parte da delegação brasileira na reunião anual do Fórum Econômico Mundial. Nesta terça-feira (16), participou de dois painéis, além de reuniões bilaterais com figuras como Bill Gates, o fundador da Microsoft, e Mathias Cormann, secretário-geral da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Nesta quarta (17), ela deve integrar mais quatro mesas de discussão.

“Acho que a gente está vivendo no mundo inteiro a pedagogia da dor, a pedagogia do horror, que é a pior que existe. É a gente perder 20 mil vidas em Bangladesh por causa das enchentes, é a gente perder vidas no Brasil por causa das enchentes, é a gente perder em termos do nosso patrimônio econômico por causa das secas e até os nossos recursos naturais quando se tem grande mortandade de peixe, como tivemos na seca na Amazônia”, afirmou.

“A única forma de estancar isso é quando uma sociedade cada vez mais vai exigindo das empresas e dos governos que tenham políticas públicas que sejam voltadas para o enfrentamento das causas daquilo que tem gerado os eventos climáticos extremos.”

A ministra afirmou que trabalha com os ministros da Integração e Desenvolvimento, Waldez Góes, das Cidades, Jader Barbalho Filho, e dos Transportes, Renan Filho, em um plano de ações emergenciais.

“Já estamos muito avançados com a ideia de fazer um decreto em relação à possibilidade de que os mais de mil municípios que são vulneráveis a eventos extremos possam ser considerados de forma permanente em calamidade”, afirmou, sem dar mais detalhes.

A possibilidade de adotar um estado de emergência permanente nas cidades sob risco de desastres climáticos já tinha sido aventada pela ministra no ano passado, após as chuvas que devastaram o litoral norte de São Paulo.

Marina diz que sua pasta está permanentemente inserida nesse debate, mas lida com prevenção. “Obviamente que a execução de drenagem, a execução de encostas, a execução de programas de remoção de população não é feita pelo ministério, mas o ministério participa disso na base conceitual, nos processos de alternativas tecnológicas. Todos esses esforços [estão na] nossa agenda histórica”, diz.

Ela aponta o que considera um déficit nas negociações globais sobre o clima no que diz respeito à mitigação (corte das emissões de gases de efeito estufa) e à adaptação.

“O problema já está contratado, o que já está acontecendo, se a gente fizer 100% do dever de casa, segundo os cientistas, ainda vai perdurar para os próximos 30 anos. Nós vamos ter que nos adaptar —infraestrutura, código de postura das cidades e plano diretor, modelos agrícolas, toda a parte de infraestrutura logística.”

Durante os encontros bilaterais, Marina conversou sobre eventuais contribuições ao Brasil e foi indagada sobre o que tem sido feito pelo governo. Em encontro com Stefaan Decraene, presidente-executivo do Rabobank, a pauta foi rastreabilidade do rebanho bovino no país —a instituição financeira é um dos grandes investidores na agricultura brasileira.

Indagada se os investidores haviam questionado a aparente contradição entre o Brasil se colocar como baluarte da energia verde e os novos investimentos do país em petróleo, defendidos pelo presidente Lula (PT) e pelo ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia), que também veio à Suíça, a ministra pôs panos quentes.

“Os investidores eles sabem que a contradição ela é global. Não vai existir em nenhum lugar do mundo onde não exista essa contradição. Mesmo a Europa, por exemplo, agora no contexto da guerra, teve que fazer uma inflexão em relação ao uso do gás”, afirmou. “Já nem mais está falando em transição energética, fala muito mais em segurança energética.”

Ela frisou que a decisão não é dela nem de Silveira. “É o presidente Lula, é a estratégia de governo”, afirmou.

Um painel sobre o Brasil que reuniu os três ministros brasileiros —além dos dois citados, Nísia Trindade, da Saúde— atraiu pouco interesse, com quase metade dos 88 lugares vagos.

Marina acrescentou, ainda, que na abertura da COP28, a conferência do clima da ONU, que aconteceu em 2023 em Dubai, Lula “disse que os países, todos eles, produtores e consumidores, têm que sair da dependência de combustível fóssil e acelerar cada vez mais a transição para uma matriz energética renovável”.

“Não tem nenhum país que está discutindo fazer uma ruptura abrupta nos seus sistemas, digamos, energéticos. Mas é preciso encarar a questão da transição. E o Brasil está fazendo isso”, afirmou.

LUCIANA COELHO / Folhapress

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