Montanhista brasileiro morre após cair em buraco ‘sem fundo’ no Peru, diz colega

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O montanhista brasileiro Marcelo Motta Delvaux, 55, morreu no Coropuna Oeste, o vulcão mais alto do Peru, depois de provavelmente cair em um buraco enquanto descia do cume, afirmaram familiares à imprensa.

De acordo com relato do também montanhista Pedro Hauck publicado no site Alta Montanha, do qual é sócio, Delvaux estava acampado no complexo desde ao menos 25 de junho. No dia 30, depois de uma tentativa frustrada de chegar ao topo da montanha, ele alcançou mais de 6.300 metros de altitude.

Cerca de meia hora depois, o aparelho de GPS do brasileiro parou de emitir sinais, segundo Hauck, que participou dos esforços para encontrar o colega. Desde então, o montanhista está desaparecido.

Suspeita-se que Delvaux tenha caído em uma espécie de fissura que se abriu no gelo enquanto fazia o caminho de volta ao acampamento. A hipótese ganhou força após o também montanhista peruano Julver Eguiluz e outros três guias acharem os dois bastões do brasileiro ao lado do buraco, em que não é possível ver o fundo, durante as buscas.

“A greta [abertura estreita e comprida] estava toda tapada por uma neve em pó muito pouco densa”, escreveu Hauck em seu site. “Talvez, na subida, Marcelo sinalizou com esse equipamento o melhor lugar para atravessar, mas, na descida, acabou perdendo sustentação.”

Ainda segundo Hauck, a greta é tão profunda que não foi possível comprovar se Delvaux realmente havia caído no local, e a neve fina impediu que os guias explorassem seu interior. De acordo com o portal de notícias G1, sua irmã Patrícia Delvaux afirmou que as buscas, que tinham começado no dia 4 de julho, foram encerradas no domingo (7).

A última escalada de Delvaux reflete a forma como o montanhista lidava com o esporte, segundo Hauck. Ele chegou ao cume do Coropuna pela face sudoeste, um caminho desafiador e pouco conhecido -porém, mais bonito. “Bem o estilo do Marcelo, um cara que não segue caminhos normais, que procura fazer ele seu próprio caminho”, escreveu Hauck. Familiares organizam uma homenagem ao montanhista.

Natural de Juiz de Fora, no sul de Minas Gerais, Delvaux era um dos mais experientes montanhistas do Brasil e escalou mais de 130 montanhas em países como Argentina, Chile, Bolívia, Peru, Equador, Venezuela e Tibete ao longo dos 25 anos -muitas delas sem nome, segundo Hauck.

“Marcelo Delvaux nunca escalou o Everest e ele não se importava em escalar montanhas famosas. Pelo contrário, ele era famoso por não seguir os passos dos outros e escalar um grande volume de montanhas inéditas e desconhecidas”, escreveu Hauck.

O montanhista brasileiro, de acordo com suas redes sociais, morava em Mendoza, na Argentina -país de sua companheira, Julieta Ferreri.

Atualmente, as gretas são a principal ameaça a montanhistas experientes. Muitas surgem repentinamente por causa de uma sequência de dias mais quentes do que o previsto devido às mudanças climáticas.

Quando ocorre um acidente, as dificuldades do resgate são imensas, a começar pelo fato de que a maioria dos helicópteros não consegue sustentação em grandes altitudes. Já as mudanças bruscas de temperatura costumam cobrir os buracos em minutos.

Na última segunda-feira (8), por exemplo, a polícia do Peru informou ter encontrado o corpo de um americano que tentava escalar uma montanha com mais de 6.700 metros e estava desaparecido havia 22 anos.

William Stampfl desapareceu em junho de 2002 após ser atingido por uma avalanche no momento em que escalava o Huascarán, de 6.757 metros, na região de Áncash, a cerca de 400 km de Lima.

A notícia da morte de Delvaux foi a segunda perda para o esporte em menos de uma semana. Na última sexta-feira (5), o montanhista brasileiro Rodrigo Raineri, 55, morreu no norte do Paquistão em um acidente de parapente. Ele integrava um grupo de sete pessoas que seguiam para um acampamento rumo ao K2, a segunda maior montanha do mundo, atrás apenas do Everest.

DANIELA ARCANJO E LUIZA PASTOR / Folhapress

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