Olivier Assayas, em ‘Hors du Temps’, leva sua quarentena ao Festival de Berlim

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – Dois irmãos, um diretor de cinema e um jornalista musical, e suas parceiras passam a quarentena contra Covid confinados na casa de sua infância. Mais do que uma comédia sobre o confinamento, “Hors du Temps”, ou tempo suspenso, é o filme mais autobiográfico da carreira do cineasta francês Olivier Assayas, de “Irma Vep” (1996) e “Personal Shopper” (2016).

A obra estreou mundialmente às 22h (18h em Brasília) deste sábado (17), no 74º festival de cinema de Berlim, mas pôde ser acompanhada pelos jornalistas um dia antes.

Autobiográfico, aliás, é pouco, uma vez que a comédia é basicamente a descrição dos meses que Assayas passou com seu irmão na antiga residência de seus pais, em 2020, nos campos franceses.

“Inventamos e acrescentamos algumas coisas, inclusive os atores colaboraram nisso, então é meio exagerado. Mas é tudo verdade. É a minha experiência na quarentena”, afirmou Assayas na tarde de sábado, durante a entrevista coletiva no festival que concedeu ao lado dos atores.

A obra foi filmada na própria casa de sua família, e não numa locação qualquer, o que, inicialmente, causou certa angústia ao diretor. “Aquela não é a minha casa, nem do meu irmão. É a casa de nossos pais e eu estava um pouco com medo de seus fantasmas”, disse.

De forma leve, o filme brinca com as diferentes formas com que os irmãos encaram a Covid. Paul, alter-ego do diretor, interpretado por Vincent Macaigne, está obcecado por máscaras, limpeza e por deixar as compras fora de casa por quatro horas até que o vírus morra.

Etienne, por outro lado, não leva a situação tão a sério, o que provoca situações de conflito com o irmão, ainda que nada tão combativo.

Ambos seguem, ou tentam seguir, suas carreiras durante o tempo suspenso. Paul faz conferências com sua equipe de cinema e fala do projeto em andamento, “Irma Vep”.

Aqui vai um nó para a cabeça –o projeto é real e estreou no canal HBO em 2022. É uma minissérie que adapta o filme de mesmo nome, lançado por Assayas em 1996. A história mostra a luta de um diretor de meia idade tentando refilmar um clássico mudo de vampiros –irma vep é anagrama de vampire.

Pois, na nova minissérie, quem faz o papel do diretor é o mesmo Vincent Macaigne, que praticamente repete o personagem Olivier Assayas em “Hors du Temps”.

Etienne, por sua vez, lida com seus programas de rádio sobre rock à distância, enfrentando problemas como o sinal de wi-fi ruim no campo ou a falta de um microfone decente. Tudo isso também é real. O irmão de Assayas, Michka, é um respeitado jornalista especializado em rock na França.

Apesar de os nomes dos irmãos terem sido mudados, em um momento do filme o narrador fala casa da família “Assayas”, derrubando qualquer dúvida sobre o que estamos vendo.

Assayas contou que começou a escreveu o roteiro sem imaginar que fosse virar um filme. “Escrevi como uma série de esquetes, nos quais tentei ser o mais fiel possível. Na verdade, eu achei que, após o fim da quarentena, haveria uma inundação de filmes sobre ela. Mas não houve. Então, resolvi fazer o meu”, finalizou.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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