SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Morta sob a custódia da polícia moral do Irã, a curda Mahsa Amini foi homenageada nesta quinta-feira (19) com o prêmio Sakharov, distinção em defesa dos direitos humanos dada pelo Parlamento Europeu. “Apoiamos com orgulho aqueles que, com coragem e ousadia, continuam a lutar por igualdade, dignidade e liberdade no Irã”, disse Roberta Metsola, presidente do órgão legislativo, em nota.
A morte da jovem, então com 22 anos, em setembro de 2022, foi o estopim para a maior onda de protestos no país desde a Revolução Islâmica de 1979. Os atos representaram um desafio histórico ao regime clerical liderado pelo aiatolá Ali Khamenei -que respondeu às mobilizações com uma ampla repressão.
Amini morreu três dias depois de ser presa em Teerã por supostamente não usar o hijab, o véu islâmico, da forma correta. Agentes da polícia moral, responsável por aplicar os códigos de conduta religiosos do regime, alegam que ela sofreu um ataque cardíaco após a detenção, mas sua família afirma que o óbito foi consequência de agressões que ela sofreu por parte das forças de segurança.
Alimentaram a tensão no país a pressão internacional para que sua morte fosse investigada e o desalento da população com a crise econômica. Na época, imagens de iranianas tirando seus véus e cortando seus cabelos como forma de protesto ganharam o mundo.
Segundo ativistas, os atos fizeram as autoridades suspenderem a detenção de mulheres que não se vestiam de acordo com as normas -o controle foi retomado alguns meses depois.
Organizações de defesa dos direitos humanos afirmam que mais de 500 pessoas, incluindo 71 menores de idade, foram mortas nas manifestações, e milhares outras foram presas. Depois do pico dos atos, o Irã -cujo código penal prevê pena de morte- realizou sete execuções ligadas aos protestos.
Este é o segundo grande prêmio que vai para uma iraniana em menos de um mês. No começo de outubro, o Prêmio Nobel da Paz de 2023 foi concedido à ativista de direitos humanos Narges Mohammadi, 51, presa em Teerã sob a acusação de “espalhar propaganda contra o Estado”.
Mohammadi é perseguida há 30 anos pelo regime islâmico por seu ativismo, iniciado quando ela ingressou na universidade, e por artigos escritos em favor dos direitos das mulheres no país. Ela foi presa 13 vezes pelas forças estatais e condenada cinco vezes a um total de 31 anos de prisão e 154 chicotadas, de acordo com Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê da premiação.
O Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento é oferecido pelo Parlamento Europeu desde 1988 a indivíduos ou organizações defensoras de direitos humanos e de liberdades fundamentais. Nesta edição, foram finalistas, além de Amini, a dupla formada pela advogada Vilma Núñez e o bispo Rolando Álvarez, que se opõem à ditadura de Daniel Ortega na Nicarágua; e grupos de mulheres que lutam pelo direito ao aborto na Polônia, em El Salvador e nos Estados Unidos.
Os vencedores recebem 50 mil (R$ 266 mil). O nome da honraria celebra o físico nuclear Andrei Sakharov, obrigado pela União Soviética a se isolar e viver longe de Moscou na década de 1980 após criticar a invasão do regime ao Afeganistão. Edições anteriores homenagearam o sul-africano Nelson Mandela, a oposição ao regime de Nicolás Maduro na Venezuela e a ativista paquistanesa Malala Yousafzai.
No ano passado, o Sakharov foi para a população ucraniana. A escolha na época foi pouco surpreendente por reforçar a aliança entre a União Europeia e Kiev selada no início da invasão russa. Dias antes, o Nobel da Paz havia premiado ONGs da Rússia e da Ucrânia que se opõem ao presidente Vladimir Putin e o ativista Ales Bialiatski, preso pela ditadura da Belarus, aliada de Moscou.
Redação / Folhapress