Polícia do Rio prende dois envolvidos em golpe de R$ 725 mi com obras de Tarsila

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Dois dos acusados de um golpe de R$ 725 milhões contra Geneviève Rose Coll Boghici, viúva do colecionador de arte e marchand Jean Boghici, foram presos nesta quinta-feira no Rio de Janeiro pela polícia. São eles Gabriel Nicolau e Jacqueline Stanesco, ambos detidos em suas casas, no bairro de Ipanema.

Outra acusada do golpe, Diana Rosa Stanesco, mãe de Gabriel e que se passou por falsa vidente, foi procurada em seu endereço na zona oeste do Rio de Janeiro mas não foi encontrada e é considerada foragida. O pai de Diana, Slavko Vuletic, o quarto e último acusado, cumpria prisão em regime semiaberto e foi notificado da pena. Ele também é considerado foragido.

Os mandados de prisão contra os quatro foram expedidos após a Justiça os condenar por todos os crimes de que eram acusados -estelionato, extorsão, roubo, sequestro, cárcere privado e associação criminosa. O grupo já havia sido alvo de uma operação da polícia em 2022.

A maior pena de prisão foi contra Diana Rosa Stanesco, de mais de 45 anos de cadeia. Os outros condenados devem passar entre sete e 13 anos atrás das grades.

Além disso, os quatro devem ressarcir a vítima em R$ 421 milhões, dado que R$ 303 milhões do montante total do golpe já foram recuperados. Os imóveis e os carros adquiridos com dinheiro dos crimes, bens que estavam em nomes dos condenados e de seus parentes, foram confiscados.

No valor total do golpe estão incluídas 16 obras de artistas como Tarsila do Amaral, Cícero Dias e Di Cavalcanti, além de joias roubadas e pagamentos feitos pela vítima sob coação.

COMO FOI O GOLPE, SEGUNDO A POLÍCIA

Segundo o inquérito, o golpe teve início em janeiro de 2020, quando, ao sair de uma agência bancária em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro, Geneviève Boghici foi abordada por uma mulher. Era Diana Rosa Stanesco, que disse ser vidente e ter visto que a filha de Geneviève, Sabine, estava doente e morreria em breve.

Ela então convenceu a idosa -cuja filha tinha problemas psicológicos desde a adolescência, incluindo depressão, ansiedade e crise de pânico- a ir com ela até seu apartamento no bairro. Ali jogou búzios, confirmou a previsão trágica e a levou para a casa de uma segunda vidente que faria a cura.

Era Jacqueline Stanesco, diz a polícia, que para fazer o trabalho perguntou à viúva onde ela morava e quais bens tinha. Geneviève desconfiou, não quis responder, e seguiu com Diana para a casa de uma terceira cartomante que seria “de confiança”, Rosa Stanesco Nicolau, irmã de Diana.

Conhecida como Mãe Valéria de Oxóssi, a mulher jogou búzios, tirou cartas e disse que Sabine tinha um espírito ruim que a levaria à morte. Cobrou, então, um pagamento. A idosa depois contou a situação à filha, que a convenceu a realizar todos os pagamentos para a curar.

Depois desses pagamentos, que somaram R$ 5 milhões em pouco mais de dez dias e foram feitos nas contas do pai e do sogro da primeira “vidente”, a filha começou a isolar a mãe da convivência com outras pessoas e dispensou os funcionários da casa, o que fez Geneviève desconfiar.

Ainda de acordo com as investigações, nesse momento Sabine começou a agredir e ameaçar Geneviève, além de negar comida a ela, para a forçar a fazer as transferências. Sob a desculpa da pandemia, ela não podia ver nem ligar para ninguém, a não ser as pessoas que faziam o tratamento espiritual. O isolamento teria durado até abril de 2021.

A filha chegou a colocar uma faca no pescoço da mãe diversas vezes, segundo o depoimento da idosa, enquanto, ao telefone no viva voz, sua companheira, Diana, a mandava matar. A partir de setembro de 2020, sob essa suposta coação, foram feitos mais 38 pagamentos somando R$ 4 milhões ao filho de Diana, Gabriel, preso nesta quinta.

Nesse período, Diana passou a frequentar a casa, ameaçando amaldiçoar e agredir Geneviève se ela não obedecesse. Foi aí também que a companheira de Sabine começou a levar objetos de valor do apartamento, incluindo os 16 quadros, dizendo que eles estavam amaldiçoados e precisavam ser rezados.

Sabine, que também era ré e respondia ao processo em liberdade, morreu em setembro do ano passado. A investigação apontava para a hipótese de suicídio.

Redação / Folhapress

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