BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Enquanto negociam ministérios no governo Lula (PT), as cúpulas de PP e Republicanos buscam manter pontes com o bolsonarismo. A estratégia é deixar portas abertas com os dois campos políticos à espera de qual será o melhor rumo a ser tomado de olho nas eleições e na correlação de forças no Congresso.
PP e Republicanos integraram formalmente a base de apoio do governo de Jair Bolsonaro (PL). Ambas as siglas, porém, têm alas que se alinharam a Lula desde a campanha presidencial do ano passado.
Em público, o senador Ciro Nogueira (PI), que comanda o PP, e o deputado Marcos Pereira (SP), que preside o Republicanos, classificam os partidos como de direita, rechaçam a participação no governo e afirmam que as siglas continuarão independentes.
Ambos, porém, avalizaram a costura dos acordos que farão dos deputados Silvio Costa Filho (Republicanos-PE) e André Fufuca (PP-MA) ministros, ainda que as pastas não estejam definidas.
Nogueira, que já foi aliado ao PT, afirma agora que, até o final dos seus dias, jamais se aliará novamente ao partido.
Já o Republicanos tem o governador Tarcísio de Freitas (São Paulo) como um dos principais ativos políticos.
Além disso, conta com uma bancada extremamente bolsonarista no Senado, representada por Damares Alves (DF), Hamilton Mourão (RS), e Cleitinho (MG). Esses parlamentares têm expressado descontentamento com a entrada de Silvio Costa Filho no governo.
Apesar disso, há no Republicanos quem não rechace um apoio mais incisivo da cúpula do partido ao petista no futuro, embora avalie que isso só ocorreria depois de haver um cenário mais claro de avaliação de Lula 3.
A aliados o presidente do Republicanos tem admitido algumas razões para não brecar a entrada de Silvio Costa Filho no governo, embora ele sempre busque frisar que tratará o nome como uma indicação pessoal de Lula.
Em uma frente, Pereira aspira suceder Arthur Lira (PP-AL) na presidência da Câmara e para isso tenta atrair o apoio do Palácio do Planalto ou pelo menos atuar para que governistas não atrapalhem esse plano. A candidatura de Pereira, inclusive, é uma ideia que agrada a integrantes do Planalto.
Além disso, o presidente do Republicanos poderá se fortalecer a depender da costura política do Senado.
Se a candidatura do senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) para comandar a Casa a partir de 2025 for viabilizada, a estratégia do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA), que é do mesmo partido, poderá perder força na Câmara.
Elmar é aliado de Lira e hoje é apontado como um candidato natural à sucessão do presidente da Câmara. Mas, para integrantes do Congresso, a União Brasil teria um poder excessivo se comandar as duas Casas.
Outro argumento que Pereira tem citado a aliados é que ele não pode tirar a oportunidade de Silvio Costa Filho, que representa a ala governista do partido, de integrar o primeiro escalão.
O Republicanos ainda leva em consideração que Lula pode estar bem avaliado no segundo biênio do mandato e chegar a 2026 com forças para ser reeleito -ou fazer um sucessor.
Pereira também tem reclamado da demora na resolução da reforma ministerial, o que tem elevado a pressão da ala bolsonarista do partido.
O governador Tarcísio admitiu dias atrás a possibilidade de deixar o Republicanos caso o partido passe a integrar a base do presidente Lula. “Sou contra. Não gostaria de ver meu partido fazendo parte da base do governo”, disse na ocasião.
Pereira depois conversou com o governador pelo telefone e relatou a pessoas próximas que a situação está sob controle.
A decisão de o Republicanos não integrar oficialmente a base de Lula também considera o peso que essa aliança teria no futuro político de Tarcísio, uma das principais apostas do partido.
O presidente da legenda, inclusive, indicou que deve pedir a Silvio Costa que se licencie do partido. A nomeação do deputado para o ministério depende ainda de encontro entre Pereira e Lula.
Em março, Pereira afirmou à Folha que o partido permaneceria independente e não integraria a base de apoio ao governo Lula no Congresso Nacional. “Eu não vejo como a gente atuar como base do governo. Não há nada então que possa atrair [o partido para a base]”, disse na entrevista.
Assim como o presidente do Republicanos, Ciro Nogueira também tem dado declarações que buscam mascarar o fato de que um dos seus principais aliados, o deputado André Fufuca, fará parte do governo.
Fufuca foi indicado para presidir o PP em 2021, quando Nogueira se afastou do cargo para assumir o ministério da Casa Civil, na gestão Bolsonaro. A troca foi articulada pelo próprio Nogueira. Ele também apoiou Fufuca para se tornar líder do PP na Câmara.
“Já determinei que qualquer parlamentar que apoiar o governo será afastado de todas as decisões partidárias. Enquanto eu for presidente dos Progressistas, o partido jamais irá compor a base do presidente Lula”, afirmou Nogueira na quinta-feira (17).
Em entrevista à Folha em junho, o senador admitiu que até 30% do partido tem identificação com o governo Lula, mas reforçou que o PP ficaria na oposição. Ainda apontou Tarcísio como potencial candidato à Presidência da República no lugar de Bolsonaro.
Outro motivo apontado pelas cúpulas do PP e Republicanos para adotarem postura independente é que os partidos precisam respeitar questões regionais para se manter fortes e em ascensão.
Alguns parlamentares dizem que precisam manter laços com o lulismo para sobreviverem politicamente. Outros dependem do bolsonarismo. Além disso, há uma ala das siglas que dependem de recursos enviados por emendas para prefeitos –esse grupo, que é chamado de municipalista, precisa de interlocução com qualquer governo.
JULIA CHAIB E THIAGO RESENDE / Folhapress