Primeira Agrishow teve aluguel de celulares e marcas que não existem mais

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Drones sendo utilizados para pulverização de lavouras, GPS para guiar o caminho das máquinas numa grande fazenda, um trator totalmente autônomo ou um avião movido a etanol -à época chamado apenas de “álcool”- são algumas das inovações tecnológicas desenvolvidas para o agronegócio nas últimas décadas que talvez só fizessem parte dos sonhos dos produtores rurais que participaram da primeira edição da Agrishow, em 1994, em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo).

Principal referência em tecnologia agrícola no país, a Agrishow surgiu com o objetivo de funcionar como uma espécie de shopping center, em que o produtor veria o funcionamento em campo da máquina desejada, comparava com os equipamentos semelhantes oferecidos por outros fabricantes e decidia, ou não, pela compra.

Assim, o comprador deixava de ter de acreditar na palavra do vendedor sobre o desempenho de uma máquina e via na prática como era seu funcionamento -o que hoje se resolve com um vídeo recebido no smartphone do produtor rural.

Tida como revolucionária ao surgir justamente por reunir concorrentes ferrenhos num mesmo espaço e por levar os bancos para dentro da feira para negociar diretamente com os compradores, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) foi inaugurada em 1994 com apenas 120 marcas participantes, ante as 800 que estarão na edição de 2024, e com peculiaridades da época.

Para os visitantes que estiveram entre os dias 4 e 7 de maio daquele ano na fazenda do governo paulista em que a feira ocorre até hoje, havia aluguel de telefones celulares por 30 URVs (Unidade Real de Valor, que precedeu a implantação do Real, em 1º de julho daquele ano) e a possibilidade de ver marcas que foram incorporadas por outras ou não existem mais no cenário agrícola brasileiro.

Valmet (hoje Valtra), Santal (incorporada pela Agco), Monsanto (hoje parte da Bayer) e Fiat-New Holland (hoje só New Holland) são algumas das marcas que estiveram na primeira feira e hoje não existem mais como outrora.

Os celulares alugados pelo equivalente a R$ 30 (fora as ligações), e com sinal ruim, eram os hoje jurássicos “tijolões”. Mas era o que tinha, e funcionava para gerentes de fazendas falarem com seus patrões sobre o fechamento ou não de negócios.

“Três décadas se passaram, o presidente era o Itamar Franco, o início do Plano Real, e a primeira Agrishow acontecia. Hoje ela é uma vitrine do Brasil que funciona, que dá certo, que produz alimentos e energia renovada. São os dois elementos do binômio que o planeta hoje persegue incessantemente”, disse o prefeito de Ribeirão, Duarte Nogueira (PSDB), que em 1994 visitou a feira como engenheiro agrônomo. Foi eleito deputado estadual naquele ano.

A primeira edição da Agrishow negociou o equivalente a US$ 300 milhões (pouco mais de R$ 1,5 bilhão, ao câmbio atual) e reuniu 15 mil visitantes, segundo a organização da feira.

As ruas da feira eram todas de terra e em número muito inferior às atuais, que somam 25 quilômetros de vias e tornam impossível aos visitantes conhecerem todos os estandes em apenas um dia.

Ribeirão Preto, que foi escolhida por conta da infraestrutura hoteleira, viária e de comunicações, viu o total de visitantes saltar para 60 mil já na edição do ano seguinte, de acordo com dados da organização da feira agrícola.

“Era difícil acreditar que fosse chegar a isso, mas o setor, as diferentes cadeias de produção, das diferentes entidades, fizeram isso acontecer”, disse Orlando Melo Castro, subsecretário da Agricultura de São Paulo e que participa do evento desde a primeira edição.

Além da feira em Ribeirão Preto, o Sistema Agrishow chegou a ter outras feiras no país, como a Agrishow Comigo, em Rio Verde (GO). Após o fim da parceria com a Comigo, a própria cooperativa goiana passou a organizar o evento, hoje chamado de Tecnoshow Comigo.

A previsão é que, neste ano, a feira em Ribeirão Preto receba cerca de 200 mil visitantes e repita o desempenho em relação às intenções de negócios geradas no ano passado: R$ 13,29 bilhões (R$ 13,73 bilhões, atualizados pela inflação).

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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