SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Um dos principais alvo de operação da Polícia Federal nesta sexta-feira (1º) é o empresário Eduardo José Barros Costa, sócio oculto da maranhense Construservice. Ele foi preso nas primeiras fases da investigação e é também conhecido como Eduardo Imperador ou Eduardo DP.
As informações coletadas nas primeiras fases aponta que a polícia avalia que Costa tinha fácil acesso à cúpula da estatal Codevasf, entregue pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao centrão e mantida desta forma pelo presidente Lula (PT) em troca de apoio no Congresso, o chamado “toma lá dá cá”.
A PF também suspeita que as licitações da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba podem ser apenas meios de formalizar o direcionamento da verba à empreiteira.
Isso porque, na leitura dos investigadores, empresas de fachada e ligadas a Costa disputaram algumas das obras entregues para a Construservice. Os agentes da PF levantaram indícios de que o grupo de Costa atuava com seis empresas de fachada e seis laranjas.
A PF cumpre nesta manhã mandados de busca e apreensão em uma investigação que mira o ministro da Comunicações do governo Lula, Juscelino Filho (União Brasil-MA). A PF chegou a pedir buscas contra Juscelino, mas Luís Roberto Barroso, do STF, negou a solicitação.
Um dos alvos de busca é Luanna Resende, irmã de Juscelino, e prefeita de Vitorino Freire, no Maranhão. Ela também foi afastada do cargo por decisão de Barroso.
A investigação mira obras da construtora Construservice contratadas pela Codevasf e bancadas com dinheiro de emendas parlamentares, algumas delas enviadas por Juscelino Filho.
A construtora, como revelou a Folha de S.Paulo em maio do ano passado, chegou a aparecer como a vice-líder em licitações da estatal federal Codevasf e utilizou laranjas para participar de concorrências públicas na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Com sede em Codó (a 300 km de São Luís), desde 2019 ela já teve empenhado pelo governo federal ao menos R$ 140 milhões. Todos os contratos da empreiteira com a administração federal haviam sido firmados após 2019, ou seja, no governo Bolsonaro.
As duas pessoas registradas oficialmente como donas da empresa são as mesmas que, em 2015, foram ouvidas em uma investigação policial e admitiram que foram chamadas para constar formalmente como sócias na construtora, embora não mantivessem nenhuma ligação pessoal ou empresarial entre elas.
Os convites, dizem os sócios laranjas, partiram de Eduardo DP, alvo da operação desta sexta-feira.
Segundo apurações da Polícia Civil e do Ministério Público do Maranhão, Costa é suspeito de comandar uma quadrilha responsável por crimes em mais de 40 municípios do estado, pelo menos de 2009 a 2012, entre eles desvios de recursos federais do Ministério da Educação.
Costa é réu em ações nas Justiças Estadual e Federal que tratam dos supostos desvios e atos de corrupção e chegou a ser preso nas ações policiais relacionadas a esses casos mas segue em liberdade.
Ele não aparece nos registros da Construservice. Mas em pelo menos uma ação trabalhista a Justiça do Maranhão o reconhece como sócio de fato da construtora.
Como mostrou a Folha de S.Paulo, o empresário Eduardo DP manteve relações políticas no Maranhão com aliados de Flávio Dino (PSB).
A empresa também foi uma das maiores beneficiadas por verbas para obras de pavimentação no período em que o atual ministro da Justiça, além de seu vice, Carlos Brandão (PSB), governaram o estado recebeu cerca de R$ 710 milhões de 2015 a 2022.
O empresário aparece em ao menos duas fotografias com Dino em eventos no interior do Maranhão.
Em outubro de 2021, o então governador posou para foto ao lado de Eduardo DP, no dia em que entregaria obras de pavimentação.
Dino já havia dividido o mesmo palanque de Eduardo DP em setembro de 2017, em ato político em Vitorino Freire. O atual ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), e outros políticos do estado também acompanharam a cerimônia.
Não há registro de apoio público ou menção a Eduardo DP em discursos de Dino.
Questionado à época sobre a relação de seus aliados com Eduardo DP e sobre negócios da Construservice com o Governo do Maranhão, o Ministério da Justiça do governo Lula disse que Dino “não mantém e nunca manteve relação com empresários citados”.
Na agenda oficial da Codevasf, há o registro de uma audiência de “Eduardo Costa – Empresa Construservice” com o presidente da estatal, Marcelo Moreira, nomeado sob Bolsonaro e que segue no comando da estatal no governo Lula. Esse encontro ocorreu em 16 de dezembro de 2020.
Questionada pela reportagem no ano pasado, a Codevasf não quis esclarecer se o “Eduardo Costa” mencionado na agenda é Eduardo José Barros Costa e qual foi o teor da conversa. A estatal disse apenas que esse tipo de encontro trata de “temas de interesse institucional e de projetos”.
A Polícia Federal suspeita que tem origem na Codevasf um esquema de fraude em licitações com verba federal para beneficiar a Construservice. Os investigadores levantam a hipótese de que as licitações são apenas meios de formalizar o direcionamento da verba à empresa.
Eduardo Costa é referência para políticos locais na hora de questionar obras da Construservice.
Em 12 de abril, o deputado estadual Vinicius Louro (PL) disse, na tribuna da Assembleia Legislativa maranhense, que telefonou ao “proprietário da empresa, da Construservice, Eduardo DP” para cobrá-lo sobre o andamento de obras em estradas.
O deputado disse à Folha que não conhece o quadro societário da construtora, mas que “todo mundo no Maranhão sabe que ele [Costa] responde por ela [a empresa]”. Ele declarou “falar direto” com Costa sobre obras da empreiteira.
Em inquérito que começou como desmembramento das investigações do assassinato do jornalista Décio Sá em São Luís (MA), em 2012, a polícia do Maranhão deflagrou em 2015 a Operação Imperador, cujo título é uma alusão ao apelido de Costa.
Costa não se tornou réu pelo assassinato, mas, segundo as autoridades, as apurações do caso revelaram que ele arregimentou um laranjal para constar nos quadros de sócios de construtoras usadas no esquema.
Redação / Folhapress